Ler e Escrever: uma prática social.



1. INTRODUÇÃO

O contexto atual de sociedade não sustenta mais um sujeito alienado às questões e acontecimentos do meio social. Por isso, tem-se comentado e pesquisado sobre a relevância da escola desenvolver sujeitos autônomos, capazes de “ler o mundo” sobre as mais diversas maneiras. Neste sentido, torna-se indispensável que o trabalho escolar esteja baseado nas mais diversas fontes de informação e nos mais diferentes tipos de textos, levando a reflexão crítica centrada no dialogo e nas trocas entre os indivíduos. É neste exercício que o sujeito se reconhece como ser histórico, sujeito da consciência social e de si mesmo.
Portanto, o processo educacional se constitui como uma condição muito favorável para o desenvolvimento do processo de conscientização do individuo. Para tanto, implica não só as relações de dialogo em sala de aula, mas principalmente, a escolha de conteúdos que possibilitem a problematização da realidade. Para isso LEITE (pg. 28, 2003) complementa que:
...Tal condição parece ser muito compatível com o processo de alfabetização desenvolvido por meio da escrita verdadeira, ou seja, por meio de textos e temas relacionados com as condições sociais, uma vez que estes propiciaram ao professor as condições para desenvolver as práticas de leitura e escrita a partir de assuntos potencialmente geradores de reflexão critica, a qual como vimos, é nuclear no processo de conscientização. Tal sugestão deve ser ampliada para todo o processo de ensino da língua portuguesa, da pré-escola à ultima série do ensino médio, e, de preferência direcionar todo o projeto político-pedagógico da escola, envolvendo todos os componentes curriculares e todos os professores.

Portanto, faz-se necessário que os educadores revejam suas práticas, de forma que a alfabetização seja vista como uma das contribuições para a formação de um cidadão crítico e transformador. O artigo a seguir ressalta a importância deste tipo de prática, que visa disponibilizar aos educandos materiais diversificados que fazem parte da vida social dos mesmos.

2. DESENVOLVIMENTO
Ler e Escrever: uma prática social.
Andriéle Santos Moleta
Práticas pedagógicas são culturais, históricas e evoluem em função das necessidades sociais emergentes. É através da transformação e das exigências da sociedade que a educação também se transforma. A partir do momento que o contexto existente de sociedade passa a excluir indivíduos analfabetos, surge um aperfeiçoamento da educação, relacionando-se a um novo modelo cultural que era proposto, pois, a indústria, a urbanização, a adoção de novos valores vieram demonstrar a urgência de garantir a todos um mínimo de instrução. Junto a isso, a educação passa a ser vista como esperança de ascensão social. Segundo BARBOSA (p. 20, 1994):
Se antes a alfabetização foi um imperativo da fé, garantia de acesso à Santa Doutrina, com a República é exigência de modernização social: de uma mística, passamos para uma concepção social da alfabetização. Dois modelos que correspondem a representações diferentes desse projeto: um, como meio de dotar crianças e adultos do instrumento de conquista da salvação eterna; outro, como meio de acesso a um modelo urbano de socialização. Ambos têm algo em comum: um projeto político, primeiro da Igreja (da Reforma e da Contra-Reforma) e, posteriormente, do Estado.

Nessa época, a escola se demonstrava eficaz, no sentido que promovia uma técnica rudimentar de leitura, rápida, segura e econômica. Atendo aos interesses dos republicanos. No entanto, não havia preocupação alguma com o desenvolvimento do senso critico, de formar pessoas capazes de criar, inovar, criticar e discernir o que é melhor para sua vida. O fundamental era saber copiar, reproduzir, sem importar-se com a criação autônoma. Após esse período, surgiu o desejo de alfabetização em massa, afinal o que gera status para o governo são os índices, a quantidade e não a qualidade do ensino. Alfabetizar é muito mais simples que tornar o individuo letrado. Pois, um sujeito letrado é capaz de perceber na escrita seu valor social, ao contrário do alfabetizado que, muitas vezes, escreve, porém não compreende, são os chamados analfabetos funcionais.
Porém, “produzir bons leitores é um desafio para a escola em todas as partes do mundo” (Carvalho, 2002). Mas quais são, efetivamente, as condições atuais de leitura e escrita no contexto das sociedades letradas onde domina a indústria cultural? E, nessas condições, quem pode possuir e dominar este objeto cultural que é a escrita? Nessas condições, ainda, quem lê? Quem escreve? Para quê? E por quê? Todas essas questões fazem-se pertinentes quando constatamos que leitura e escrita são atividades sociais, cuja funcionalidade se evidencia e se propaga cada vez mais. Mas, que contraditoriamente, uma grande parcela da população não aprende seu funcionamento, porque a escola, como lugar de ensino, acaba sendo extremamente seletiva, sendo que a sociedade, sobretudo a urbana, é permeada pela escrita, isto é, se existem e se ampliam fora da escola condições que propiciam a leitura como e o que a escola tem ensinado para que um enorme contingente de crianças não aprenda a ler e escrever na escola?
Para que essa realidade mude é preciso em primeiro lugar, superar a ideia de que a escrita e a leitura são matérias exclusivamente escolares, para então questionar o que as crianças sabem antes de aprenderem a escrever na escola. Em segundo lugar, dissociar o conhecimento sobre a linguagem da habilidade para ler e escrever, para assim, averiguar até que ponto as crianças são letradas mesmo antes de serem alfabetizadas, “o conhecimento da escrita começa muito antes de a criança freqüentar uma escola. Portanto, sua origem é extra – escolar.” (Teberosky, 1992). A escrita é um objeto social, cuja presença e funções ultrapassam o marco escolar e porque a criança é um sujeito ativo e construtivo do próprio conhecimento.
Com certeza os professores conhecem o assunto que devem ensinar, no entanto o processo de ensino-aprendizagem não comporta apenas conhecimentos sobre os conteúdos a serem ensinados, mas principalmente, sobre a capacidade de aprendizagem e os conhecimentos prévios dos alunos. São os adultos que dificultam o processo de alfabetização, imaginando sequências idealizadas de progressão acumulativa. Nesse sentido FERREIRO (p.25, 2004):
As crianças são facilmente alfabetizáveis desde que descubram, através de contextos sociais funcionais, que a escrita é um objeto interessante que merece ser conhecido (como tantos outros objetos da realidade aos quais dedicam seus melhores esforços intelectuais).

Cabe ressaltar neste momento, a necessidade de mostrar à criança o valor social da escrita. Porém, será que com textos descontextualizados e sem sentido para o aluno estaremos proporcionando este entendimento? Faz-se de extrema importância que o educador da alfabetização porte-se de diferentes tipologias textuais, para então fazer com que o aluno compreenda que a escrita pertence ao nosso cotidiano, criando “um ambiente alfabetizador que inclua materiais do mundo extra-escolar (jornais, cartazes, revistas, livros) e atividades que vinculem funções sociais (leitura e escrita do adulto em situações comunicativas).” (Teberosky, 1992).
O que acontece, muitas vezes, é que os professores se preocupam em como escrever correto, com um traçado perfeito, desenvolvendo assim, atividades mecânicas, de cópia e repetição. Deixando de lado a evolução e a produção pessoal da criança, que é bem mais importante que aspectos estéticos. Se quisermos transformar meninos e meninas em leitores e escritores temos que colocá-los em contato com diversos tipos de materiais impressos, com os mais diferentes tipos de texto, colocando os alunos em contato com os diferentes usos sociais da linguagem, ou seja, as milhares razões pelas quais se escreve.
Nem sempre é fácil trabalhar com diferentes tipologias em vez de lidar apenas com silabas ou palavras. O professor precisa ter discernimento e um conhecimento de mundo ampliado, buscando estar atualizado, reconhecendo erros e tentando aprender com eles, pois, trabalhar com diferentes fontes de informação, às vezes, se não for bem elaborado e planejado, causa um pouco de decepção para o professor, pois, as crianças não estão habituadas com este tipo de atividade. No entanto, é preciso insistir e tentar encontrar a melhor forma de trabalhar com a turma. “A língua escrita é um artefato, um instrumento, e o seu domínio não significa apenas melhoria das habilidades comunicativas, mas ampliação da própria estrutura do pensamento.” (Tolchinsky apud Cardoso, 1998).
É neste sentido que torna-se fundamental trabalhar com diferentes tipologias, ao ponto que assim, será possível desenvolver no aluno sua capacidade de raciocínio, imaginação, interpretação, tornando-o um cidadão critico e atuante na sociedade, capaz de criar, inovar, questionar, avaliar as próprias atitudes, e saber discernir o que é melhor para si e seu meio social. De acordo com CARDOSO e EDNIR (p. 52, 1998):
No caso de trabalhos com textos, conhecer, manejar, processar, compreender e adequar as diferentes formas discursivas – contos, noticias, anúncios, cartas, crônicas, etc. – é o que nos faz intelectualmente mais capazes. Concordo co Teberosky e Tolchinsky quando dizem que a grande meta da pedagogia da língua escrita é propor múltiplas atividades em torno dos diferentes tipos de texto.
Portanto, o educador deve munir-se de diversas fontes, não somente para discutir o gênero de texto, mas principalmente, para criar situações-problema desenvolvendo os educandos cognitivamente de forma mais atrativa e contextualizada. Disponibilizando tempo para que analisem profundamente o material, colocando seu ponto de vista, sua opinião, criticas enfim, vendo o que está implícito no texto, seja uma noticia, um anúncio, uma história, um poema...


3. CONCLUSÃO
Ao finalizar este trabalho foi possível concluir que muitas pesquisas têm sido produzidas colocando em destaque a importância de a alfabetização estar interligada ao letramento. Afinal, a escrita inicia-se muito antes do período formal de escolarização, sendo que a criança, por toda sua trajetória, está em contato com diferentes formas de escrita, percebendo assim, seus usos sociais de acordo com as mediações que recebe de pessoas próximas.
O que se deseja é que a escola proporcione à criança ampliar as possibilidades do uso da escrita, numa perspectiva critica que objetive formar um leitor e um produtor de textos. Deixando de lado o modelo que apresenta a escrita de forma descontextualizada, enfatizando somente o código e não o significado. Portanto, na sociedade atual, não cabe mais somente reproduzir, é neste sentido que o letramento se destaca e ganha espaço, pois através dele o individuo torna-se capaz de compreender o que lê e expressar-se oralmente e pela escrita. Então, se queremos uma sociedade melhor e mais justa, faz-se necessário educar nossas crianças de maneira que possam ser atuantes, capazes de agir frente ao meio em que vivem, transformando-o para o bem comum.
Autor: Andriéle Santos Moleta


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