Fundos de pensão atacam relatório de CPI sobre perdas de R$ 730 milhões



Folha On Line
10 de janeiro de 2006

Representantes de alguns dos principais fundos de pensão do país se reuniram nesta terça-feira em São Paulo para combater o relatório preliminar apresentado pelo sub-relator da CPI dos Correios, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), que apontou perdas milionárias em investimentos feitos nos últimos cinco anos.

O presidente da Abrapp, entidade que reúne os fundos, Fernando Pimentel, afirmou que houve uma "visão distorcida" sobre algumas das operações dos fundos no mercado financeiro e que, apesar dos pedidos oficiais, a comissão não enviou informações sobre os critérios de cálculos dos prejuízos apontados no relatório. O questionamento sobre a metodologia da CPI foi à tônica de praticamente todos os representantes dos fundos de pensão.

Segundo esse relatório, que teve sua divulgação oficial suspensa pelo STF (Supremo Tribunal Federal), as perdas somariam R$ 730 milhões em operações na BM&F realizadas por 14 fundos de pensão desde 2000.

Segundo Pimentel, os fundos já solicitaram uma audiência com o deputado ACM Neto e com demais autoridades da comissão. Ele negou que o relatório tivesse motivações políticas. "No aspecto estritamente político, eu acho que não. Acho que ainda é falta de esclarecimento, de informações sobre os fundos de pensão", disse ele.

"Estamos numa situação estranhíssima. Não conseguimos nem responder [à acusação da CPI]. Não existem essas perdas. No primeiro relatório, aquele calhamaço de outubro, a Petros aparecia como superavitária nas operações de títulos públicos", afirma Ricardo Malavazi, diretor-financeiro do fundo Petros (dos funcionários da Petrobras), que no relatório aparece com prejuízos de R$ 64 milhões entre 2000 e 2005.

Os representantes dos fundos Previ (do Banco do Brasil) e Funcef (da Caixa Econômica Federal) rejeitaram as acusações de influência política na indicação de cargos chave na instituição por conta do ex-ministro Luiz Gushiken, hoje no Núcleo de Assuntos Estratégicos. "Essas denúncias são infundadas. Não me consta que tenha havido evidência dessas acusações", disse ele.

José Roberto Teixeira, presidente do fundo Postalis (dos Correios), que teve perdas de R$ 41,9 milhões segundo o relatório, afirmou que o documento não apontou as circunstâncias do prejuízo e que os ativos da instituição aumentaram quase 10 vezes desde 1995. Segundo Teixeira, o Postalis começou uma série de levantamentos internos para averiguar as perdas e que foi pedido uma avaliação das aplicações financeiras feitas por uma empresa de avaliação de risco de mercado (a RiskOffice*).

José Roberto dos Santos, diretor de Benefícios da Serpros (Serviço Federal de Processamento de Dados), também questionou os critérios utilizados pela comissão para avaliar as perdas. Ele também afirmou que "brevemente", todas as operações feitas com títulos públicos vão utilizar meios eletrônicos para aumentar a transparência das transações. Ele também apontou erros na totalização dos gastos com informática, que, segundo Santos, teria somado aportes feitos ao longo de vários anos e não somente em ano.

Carlos Caser, diretor de controladoria da Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal), além de negar as perdas de R$ 150 milhões atribuídas ao fundo, também negou que a instituição tenha mantido aplicações nos bancos BMG e Rural entre 2003 e 2005. O executivo também disse que o fundo obteve rendimento de suas aplicações acima da meta atuarial em torno de 5% a 10% nos últimos três anos.

Eduardo Luís, o representante da Prece (do Ceade, companhia de água e esgoto do Rio de Janeiro), disse que "não existem as perdas de R$ 309 milhões" indicados pela CPI. Ele também desmentiu a notícia de que o fundo de pensão tenha apurado perdas em uma polêmica transação de compra e venda de títulos públicos. "Não temos certeza de que houve esse prejuízo. Estamos estudando", disse ele.

Nessa operação, uma corretora vendeu para um fundo de investimento da empresa Mercatto os títulos com ágio de 100% em relação ao preço inicial da compra. O representante da Prece disse que o fundo era cotista de outro fundo de investimento da Mercatto.

Luiz Limaverde, presidente da Eletros (fundo dos funcionários da Eletrobrás), disse que a instituição ainda não dispõe de quaisquer informações sobre as perdas indicadas pela CPI. O representante da Eletros afirmou que foi contratada uma empresa de auditoria para avaliar os supostos prejuízos. "Não temos ainda os resultados [da auditoria] mas a sinalização é de que não houve as perdas anunciadas", disse Limaverde.

Josemar Pereira, da Geap (fundo de pensão dos funcionários públicos federais), negou que as acusações de que dirigentes da instituição tenham feito saques em espécie e que houve no relatório ao identificar dessa forma operações feitas por meio de DOC ou depósito comum em conta corrente.

O diretor-presidente da Sistel (do setor de telecomunicações), Wilson Delfino, e Sérgio Fontes, do fundo Real Grandeza (dos funcionários de Furnas), também questionaram os números apresentados pela CPI.

*Um dos sócios da RiskOffice é Marcelo Rabbat, consultor de investimento especializado em risco de crédito e de mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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