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INVESTIDOR INDIVIDUAL
FUNDOS DE INVESTIMENTOS
DEZ/JAN 2006

Novos fundos multimercados estão impondo carências de 30 dias, em média. Alguns fundos de ações também estão adotando intervalos mais longos para resgates. Essa tendência, entre os fundos agressivos, está apenas começando


Em agosto de 2003, quando o fundo multimercado Gávea Brasil foi lançado e, em menos de um mês, conseguiu captar R$ 500 milhões, mesmo impondo uma carência de 90 dias para resgates, a reação da concorrência foi que isso só estava sendo possível porque, por trás, havia duas grifes famosas, Armínio Fraga Neto e Luiz Fernando Figueiredo, respecti­vamente ex-presidente e ex-diretor de política monetária do Banco Central. Na época, liquidez diária ou quase diá­ria imperava. Eram raros os produtos com carências supe­riores a uma semana. Elas eram vistas como algo incom­patível com o perfil do investidor brasileiro, ainda acostu­mado ao over night (operação de um dia) para driblar a inflação. Pois bem, os tempos mudaram.

A maioria dos fundos multimercados agressivos (os cha­mados hedge funds) que estão chegando ao mercado res­tringiu a liquidez. As gestoras estão impondo carências, em média, de 30 dias entre a data de solicitação do resgate e o recebimento do dinheiro. No segmento de fundos de ações, também há casos de ampliação de prazos de carên­cia, mas em menor quantidade. Já entraram nessa onda nomes como Capitânia, Claritas, Credit Suisse, Fama, Investidor Profissional, Polo e Tarpon, dentre outros. O obje­tivo dos gestores é evitar, como observado nos últimos dois anos, movimentos repentinos e expressivos de resgates que comprometam a estratégia dos fundos e, consequentemen­te, a rentabilidade.

"Estamos diante de uma nova tendência. O cliente mos­tra certa resistência, mas daqui para frente quem quiser investir em um bom gestor terá de aceitar a carência", diz Fernando Ganme, diretor da Capital, consultoria especia­lizada em fundos de investimento. Segundo ele, os bons fundos estão fechados para captação e os novos estão vin­do com carência. Não há como escapar. "Essa tendência é muito positiva. Traz segurança para todos."

Fernando Lovisotto, diretor da consultoria RiskOffice*, também não tem dúvidas de que se trata de uma tendência sem volta. Ele acha, inclusive, que a divulgação do valor das cotas desses fundos deveria ser mensal. "Às vezes, o investidor se assusta com a volatilidade, resgata os recursos e atrapalha a estratégia do fundo, prejudicando os de­mais cotistas. Com a cota mensal, além da carência maior, o investidor não ficaria tão ansioso nem tomaria decisões precipitadas", justifica.

O segmento de hedge funds, no Brasil, tem menos de dez anos e experimentou um grande "boom" a partir de 2003, com a abertura de várias asset management inde­pendentes (não-ligadas a bancos de varejo). Até então a liquidez quase diária era uma regra e o sucesso de um fun­do (a alta rentabilidade, leia-se) puxava o lançamento de outro. Tudo transcorria bem até que, a partir de 2004, o mercado financeiro entrou num período de altíssima vola­tilidade (oscilação) e de falta de tendências definidas. Uma sucessão de fatores internos e externos, como crises políti­cas, elevação do preço do petróleo e alta dos juros americanos, fez com que o trabalho de gestão de fundos multimercados ficasse mais difícil e que muitos passas­sem a apresentar desempenho abaixo da média histórica.

Embora esses fundos sejam de risco e seja até natural que eles apresentem momentos negativos, muitos investi dores mostraram que não estavam pre­parados para ganhos menores e partiram para os saques. Alguns fundos foram liquidados e outros quase. "A maioria dos fundos que apresentou queda abrupta de patrimônio não fez nada de errado. Nes­se mercado, não dá para ganhar sempre e, a longo prazo, eles tendem a se recu­perar", explica Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna. A questão é que o investidor nem sempre está disposto a esperar a recuperação ou entende o funcionamento do pro­duto. Daí as carências que estão surgindo.

ALGUNS EXEMPLOS

A Credit Suisse Asset Management, por exemplo, lan­çou em novembro dois novos fundos: o Credit Suisse Long-Short Equities 30 e o Credit Suisse Absolute 30. Eles são cópia, respectivamente, do Long Short Equities e do Absolut, que fecharam para captação há alguns meses. A diferença é a carência. Enquanto nos antigos fundos, a li­quidez era diária, nos novos, se um cotista solicitar hoje o resgate, ele receberá o dinheiro 30 dias depois, com base na cota do 29° dia. "Num fundo com liquidez diária, a res­trição de tamanho do patrimônio é maior. Um produto como os que lançamos permite que o gestor se sinta mais confor­tável ao tomar uma posição de maior risco, pois sabe que, na pior das hipóteses, terá 30 dias para revertê-la", explica Mauro Bergstein, diretor da Credit Suisse. "A carência é uma segurança para o investidor, para o gestor e para a indústria de fundos."

A Capitânia Asset Management também adotou uma carência diferenciada em seu último lançamento, o Capitânia Treasury, ocorrido seis meses atrás. "É impor­tante determinar uma carência que, em caso de um ou mais saques, evite que você tenha de vender os ativos correndo e perca dinheiro", conta Ricardo Quintero, diretor admi­nistrativo e financeiro da Capitânia Asset & Risk Manage­ment. "Antes de lançar um produto, fazemos uma série de simulações e calculamos de trás para frente quanto tempo levaríamos para nos desfazermos de uma operação se ti­vesse uma grande onda de saques."

No caso do Capitânia Treasury, depois de solicitado o resgate, o pagamento ocorre no 23° dia útil, com base na cota do 22° dia útil. Se a pessoa quiser resgatar o dinheiro antes disso, ela pode, mas é penalizada em 10% sobre o montante resgatado, valor que é incorporado ao patrimô­nio do fundo.

Na Tarpon Investimentos, carência longa não é uma no­vidade. No segmento de ações, ela é pioneira. Todos os seus fundos (Tarpon, Tarpon Small Caps e Tarpon Long & Short) têm carência de 60 dias. Se a pessoa quiser resgatar antes, terá de pagar uma multa de 10% (que será incorpo­rada ao patrimônio) e esperar dez dias. 'Temos um man­dado muito específico e os clientes entendem a necessida­de dessa carência", afirma Eduardo Mufarej, sócio da Tarpon. No fundo Tarpon, por exemplo, o patrimônio está concentrado em apenas cinco ações e, no Small Caps, em nove ações. "Em caso de stress e resgate, queremos ter condições de vender os ativos no melhor momento."

MAIS DE UM ANO

Mas a campeã atual de carência é a Fama Investimentos. No recém-criado Fama Futurevalue, durante o primeiro ano de aplicação, não é permitido sacar o dinheiro em nenhu­ma hipótese. Após o início do segundo ano, pode-se solici­tar o resgate uma vez por trimestre. Os recursos, no entan­to, só são liberados quatro meses após o fim do trimestre de solicitação. A cota utilizada como base é a de três dias antes do pagamento.

De acordo com Christian Klotz, analista da Fama, o Futurevalue aplica somente em microcaps, isto é, em ações de quarta linha, sem liquidez e visibilidade em Bolsa. A idéia do fundo é se aproveitar das distorções de preços de empresas que não têm cobertura dos analistas. Outro deta­lhe desse produto: o valor da cota é divulgado uma vez por semana e a composição da carteira, trimestralmente. Ape­sar das restrições, esse fundo, em apenas dois meses, cap­tou R$ 3 milhões dos clientes.

Antes do Futurevalue, a Fama lançou o Stricker 28, um fundo long short. Neste, a carência é de 29 dias (pagamento com base na cota do 28° dia). Outros dois produtos da casa são o Fama Challenger e o Futurewatch. No primeiro, o pa­gamento é feito 15 depois da solicitação. No segundo, divi­de-se o mês em primeira e segunda quinzena, e o pagamen­to ocorre 30 dias depois do final da quinzena de solicitação.

"O movimento [de ampliação de carências] está apenas começando. Daqui para o futuro, quem quiser ter um ganho diferenciado terá de aceitar operações cada vez mais longas. Operações com small caps e de hedge funds demoram para maturar. Não adianta querer ser imediatista", prevê Klotz. "O importante é entender que as carências não são para difi­cultar, mas para garantir a segurança do cliente."

*Um dos sóocios da RiskOffice é Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de crédito e mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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