Mulheres No Espaço: Uma Análise Geográfica A Partir Das Categorias De Análises Gênero E Ambiente



Ao iniciarmos este trabalho nossa preocupação maior era construir um diálogo entre autores, teóricos e teorias que pontuassem em suas discussões a problemática ambiental – encarando-a aqui como alarmante – e as perspectivas das relações de gênero pautadas nessa discussão. Queríamos a princípio "escapulir" às, já, carregadas discussões e abordagens sobre ambiente e gênero, mas percebemos que em alguns momentos além de essenciais essas discussões são ponto chaves, e que tal "fuga" significaria uma fragmentação tanto, do diálogo que estamos tentando construir aqui, quanto da própria discussão em si.

Nosso poder de flexibilidade foi testado em vários momentos deste trabalho no sentido de entender, aceitar e discutir outros pontos que sabíamos serem relevantes, mas ainda não tínhamos noção da real importância destes em nosso trabalho. Um destes pontos diz respeito à discussão sobre a pobreza, ou precisamente dos pobres na cidade, do qual o próprio professor Milton Santos em seu livro A Natureza do Espaço dedica um tópico especial para tratar desta questão que se vinculam as questões sociais e ambientais, daí a relevância dessa abordagem em nosso trabalho.

Compilamos aqui mais do que uma abordagem sobre Gênero e Ambiente, nossa audácia (no sentido de ir dialogar com as teorias) foi ainda mais longe ao tentar propor uma discussão sobre Gênero e Espaço, implicando aí as discussões primazia deste trabalho. Elegemos como categorias Gênero e Ambiente, buscando assim fazer uma análise critica cientifica, por entendermos que o fazer ciência – constitui hoje um dos únicos elos que podem discutir as análises e discursos econômicos e ambientais sob a perspectiva do que podemos chamar de consenso sobre o futuro do planeta.

Não pretendemos fazer aqui, uma critica a sociedade sobre os problemas envolvendo a natureza, a pobreza e as desigualdades de gênero, pois iríamos tocar numa discussão mais profunda requerendo de nós ontologias, epistemologias e metodologias mais densas. Tivemos que eleger o espaço e as relações que nele ocorre como categoria para entender como o homem concebe o seu meio, quais as influências das relações espaciais nas relações de gênero, de lugar e o ambiente.

A relação que se tem feito entre gênero e ambiente até então, nos inquietou. Há um avanço nos estudos dessa relação apenas quando se vincula às questões de saúde e/ou sanitárias. Nossa crença enquanto cientistas sociais é que essa discussão não deve apenas se deter ao campo das discussões ambientais, nem devemos cometer o erro de ficar presos a um pragmatismo "exagerado" de discutir gênero apenas no âmbito social.

Essas discussões devem ter um cunho socioambiental já que essa não é uma questão nem só da natureza nem só da sociedade, mas de ambas, e que em ambas a mulher é a mais oprimida dentro das relações de classe, raça e gênero. Daí a justificativa de fugir as questões ambientais vinculadas à mulher tratadas somente no campo da saúde e/ou do pragmatismo.

Ao perceber a mulher nas análises socioambientais estamos evidenciando muitas outras discrepâncias que a envolvem, como, as discussões sobre moradia, cidadania, educação (dentre elas a ambiental), a tomada de decisão e a renda entre outros fatores, uma vez que, a emancipação feminina não se dá apenas na esfera trabalhista. Ao tratar, por exemplo, das chefas de famílias com baixa renda num cenário de impactação ambiental, encontraremos mulheres atingidas buscando melhores condições de moradia, para isso organizando-se em movimentos, educando e politizando-se buscando viabilizar melhorias de vida e conservação da natureza, essa, ao contrário do que pensa a maioria, não é uma constatação singular.

Este trabalho tem como a priori a discussão dos problemas ambientais e suas implicações nas relações de gênero e moradia sob o enfoque de questionamentos dos significados dominantes sobre o mundo, entre as representações do que é ser mulher, de moradia e ambiente. Tomando como crivo um setor pobre e periférico do município de Porto Nacional, o Barreiro de Saibro que foi impactado pela formação do Lago Tocantins conseqüência da construção da UHE de Lageado, veremos sob a ótica dessas mulheres como é se ver ficar da noite para o dia sem um lugar, pois é nesta situação que elas se encontram.

Nossa pesquisa iniciou com aplicação de questionários com o método de avaliação contingente objetivando saber a DAR (Disposição a Receber), isto é, a disposição mínima a receber de mulheres atingidas para abrirem mão de suas moradias, analisando aí as variáveis ocupação profissional, renda, estado civil, nível escolar, situação de moradia, bem como o cenário em que estão inseridas avaliando a situação de perda ou ganho através variação compensatória e equivalente. No entanto deparamos com situações inesperadas a pesquisa.

Identificamos que o setor não é reconhecido pela prefeitura municipal, e na situação de "clandestino" não há como compensar essas mulheres e suas respectivas famílias. A área do setor no novo plano diretor é desenhada como uma contígua orla a beira do Lago Tocantins, a partir daí tem-se a especulação de compradores para essa área, o que atormenta ainda mais a intranqüilidade dessas moradoras.

Percebemos também uma mobilização das mesmas em relação a essa situação. Neste panorama, nos propusemos em ir além e realizamos oficinas com essas mulheres a partir de suas principais inquietações e a partir de suas realidades. Assim debatemos a questão da moradia, da pobreza, do ambiente, do espaço e das relações de gênero com essas mulheres.

Diante do exposto, entendemos a delicada situação dessas mulheres, percebemos também que esta não é uma situação peculiar e singular a essas mulheres, essa situação é mascarada diante de tantas outras inquietações atuais como a do ambiente, no entanto, para estas mulheres não adianta ter uma natureza, um ambiente saudável se elas não tem como morar e viver dignamente nele.


Autor: Gleys Ially Ramos dos Santos


Artigos Relacionados


Violências De Gênero

A Função Da Escola E Da Educação

O Lúdico Como Forma De Ensino Em Matemática

Uma Conversa Ao PÉ Do Ouvido

A Inadimplência E A Suspensão Do Fornecimento De Energia Elétrica

Relações Públicas Como Educador Ambiental

EducaÇÃo Ambiental: Refletindo Sobre As Ações Da Lei Nº 9.795/99