Ibovespa ou IBrX ?



VALOR ECONÔMICO
Abril 2006

Mudanças no mercado reduzem a concentração do principal índice do mercado brasileiro, mas aumentam a do Índice Brasil

O Índice Bovespa (Ibovespa), principal referência do mercado de ações brasileiro, tem ganhado diversificação nos últimos meses, enquanto o Índice Brasil (IBrX), alardeado como um indicador mais próximo da economia real, está mais concentrado. O investidor que coloca uma fatia de recursos em fundos que acompanham esses índices tem de prestar atenção se não está num portfólio com potencial de ganhar maior risco adiante.

Para o Ibovespa, criado em 1968, a seleção obedece basicamente a critérios de liquide. Formado por 57 ações, é revisto a cada quadrimestre e elege ações presentes em pelo menos 80% dos pregões e com participação superior a 0.1 % no volume. O IBrX é composto por 100 papéis, considerando-se não só a liquidez, mas também o valor de mercado das empresas.

Nos tempos de Telebrás, o Ibovespa tinha praticamente metade do seu peso num único papel. Ou seja, se a empresa espirrasse, o mercado pegava pneumonia. Após a privatização, a fatia de telecomunicações caiu a 40% e, desde então, vem sendo reduzida até os 18% atuais. Telemar PN, que por 15 anos foi carro-chefe do índice, no início de 2006 foi desbancada por Petrobras PN. O setor de petróleo já representa 12,7% do Ibovespa.

“Com o passar dos anos, a liquidez migrou para companhias com maior potencial de crescimento e resultados, contribuindo para tornar o Ibovespa mais pulverizado”, diz o superintendente da Safra Asset Management Valmir Celestino. E como o setor de telecomunicações não apresentou resultados tão convincentes após a privatização, também acabou perdendo apelo e tornando o IBrX mais atraente e menos volátil.

Nos últimos três anos, o Ibovespa valorizou-se 237% até o fim de março, enquanto o IBrX avançou 250% e com volatilidade relativamente menor, de 22%, ante 26% do Ibovespa, segundo cálculos de Alexandre Espírito Santo, sócio da Avanti Gestão de Recursos e chefe do Departamento de Finanças ESPM-RJ. Levando-se em conta correlação entre um indicador, e outro não há diferença — quando o Ibovespa sobe, o IBrX segue a mesma direção em 88% das vezes. “Sob a ótica do risco-retorno, o IBrX é melhor, mas não é defensável sair de um índice para o outro, como forma de se evitar o risco."

Mas se a volatilidade até aqui não incomodou o aplicador que está em fundos atrelados ao IBrX, a concentração em commodities e bancos pode embutir oscilações mais abruptas no futuro. "Dentro do risco ações, até que é uma carteira diversificada e que capturou o bom ciclo do mercado desde 2003, mas não há como se calibrar o desempenho se setores como petróleo e siderurgia desandarem”, diz o gerente de Fundos de Ações da BB DTVM Rubens Monteiro.

Para a gestora de Renda Variável da ABN Armo Asset Management Noriko Yokota, isso deve ser contrabalançado, em alguma medida, com empresas de grande porte que fizeram ofertas recentes e que já têm o histórico necessário de 12 meses para integrar o indicador. Natura, Localiza, Gol, TAM, Porto Seguro e Submarino são exemplos, que já têm representação no IBrX.

Em janeiro e fevereiro, o Ibovespa bateu o IBrX em retorno e com menor volatilidade, fato não muito corriqueiro, segundo o sócio-diretor da RiskOffice* Fernando Lovisotto. Um estudo da consultoria mostra que, no início de 2002, os setores financeiros, mineração, petróleo e gás e de siderurgia e metalurgia representavam 48,8% do indicador e hoje abocanham 64,2%.

Noriko, da ABN, cita que as ofertas do fundo Papéis Índice Bovespa Brasil Bovespa (PIBB) pelo BNDES, é que trouxeram alguma popularidade ao IBrX. Isso porque a carteira tem o compromisso de replicar o IBrX-50, que nada mais é do que o IBrX condensado em 50 papéis. Neste ano, esses fundos apresentam um retorno na casa dos 19%, na cola do índice de referencia. No IBrX50 chama a atenção Petrobras, que chega a representar 26,2% do índice, considerando as ações ON e PN. Uma concentração que deve ser levada em conta principalmente pelos que já tem aplicações em fundos da estatal.

A demanda por fundos IBrX50 levou o Bradesco a colocar na prateleira o seu Bradesco Prime IBrX50. "É um indicador que não captura grande volatilidade, apesar da concentração”, diz o diretor de Renda Variável da Bradesco Asset Management, Herculano Anibal Alves.

Por ter uma gama maior de papéis e na ponderação considerar a capitalização das empresas, o IBrX é, há alguns anos, a principal referência para os fundos de pensão que tem objetivos de longo prazos. Mas tanto ele quanto o Ibovespa mantêm graus de concentração elevados, diz o gestor de Renda Variável da Opportunity Asset Management Leonardo Ruffino.

*Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de crédito e de mercado, considerado um dos melhores economistas do Brasil, é diretor da RiskOffice.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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