Liderança: Dos Gregos à Teoria U



História da Liderança
O tema liderança sempre se manteve em evidência, desde os gregos e os romanos. Dizem que estes inventaram o poder e a autoridade propriamente ditos.
Segundo Bass (1990) o primeiro escrito a mencionar as palavras: liderança, líder e seguidores, remonta aos egípcios e data do ano 2300 a.C. O faraó era destacado por uma ordem transcendente e humana, considerado um Deus, dotado de três qualidades: autoridade branda na boca, percepção no coração e sua língua é o escrínio da justiça, segundo Ptahhotep, sabio egípcio, autor das conhecidas como Máximas de Ptahhotep, integradas nos chamados textos das pirâmides (CONDE, 2004).
As qualidades excepcionais da liderança também aparecem na literatura cristã, envolvendo líderes como Abraão, Moisés, David e Salomão, enfatizando a sua obediência aos desígnios de Deus na condução do seu povo e suas características heróicas. Caracteriza-se aqui, o poder teológico-político-cristão.
Umas das mais sofisticadas discussões sobre liderança foi feita por Maquiavel (1977) no século XVI. Ele acompanhou as “lutas européias de centralização monárquica (França, Inglaterra, Espanha e Portugal)”, observou a “ascensão da burguesia comercial das grandes cidades” e a “fragmentação da Itália dividida em reinos, ducados, repúblicas e igrejas” (CHAUÍ, 1999, p. 395).
Na sua obra O príncipe, analisou o equilíbrio entre princípio e oportunismo, estabelecendo orientações para as ações de um príncipe nas “cidades-estados medievais italianas”, prescrevendo estilos mais eficazes a serem utilizados pelos orientadores no relacionamento com seus orientados.
Para Maquiavel, a liderança eficaz “é uma questão de manutenção do fluxo adequado de informações precisas sobre os assuntos a serem decididos e, ao mesmo tempo, a consideração das melhores alternativas de modo a permitir que ações decisivas fossem tomadas” (SMITH e PETERSON, 1994, p. 05). Esta análise da liderança remonta às teorias contemporâneas, a respeito da organização do trabalho e à manutenção de boas relações de trabalho com as pessoas. Mesmo assim, ainda não se sabe o que de fato faz a pessoa ser um bom líder.
Muitos estudos tiveram como objetivo entender a liderança. Stogdill (1948) catalogou 72 definições propostas por especialistas entre 1902 e 1967, em seu Handbook of Leadership, e observou uma proliferação de artigos que não apresentavam consenso entre si. O primeiro Handbook publicado em 1974 listava apenas 3.000 estudos sobre liderança. Em sete anos, o número subiu para 5.000 artigos publicados no Handbook of Leadership e a partir de 1995 listava mais de 7.000. Segundo Mintzberg (1981) tanto as teorias novas quanto as mais antigas revelam uma natureza de conteúdos pesados e fora da realidade. E ele não é o único a criticar a abstração excessiva no estudo da liderança.
Bass (1981) considera que as teorias devem ter bases sólidas para serem aplicadas pelos gestores, dirigentes e líderes de uma forma geral. As teorias são inúmeras e às vezes contraditórias (LAPIERRE, 1995).

O estudo da gênese da liderança apresenta teorias específicas e em diversos momentos históricos. Serão abordadas as teorias consideradas imprescindíveis para a compreensão da liderança, focando os principais estudiosos e as características essenciais.

1 – Teorias Inatistas – Liderança como Função do Indivíduo

O primeiro conjunto de teorias que se manteve em cena até o final dos anos 40, foi chamada de inatistas - trait approach. A liderança estava atrelada à atuação de grandes homens que fizeram a história, detentores de traços e de uma postura carismática. São elas:

Grandes Homens
Autores Representativos:Thomas Carlyle (1841), Galton (1869), Sidney Hook (1943), Emerson (1960) e Churchill (1941).
Características: o líder como herói. Divindade encarnada, através da personalidade, dos talentos pessoais, das habilidades e características físicas.

Traços
Autores Representativos: Terman (1904), Mann (1959) Stogdill (1948).
Características: o líder é dotado de traços e características superiores que o diferenciam dos seguidores.

Carismática
Autores Representativos:Weber (1921)
Características: dom divino. O líder é detentor de qualidades excepcionais na percepção dos subordinados. O portador do carisma traz em si uma missão que deve ser realizada.

2 – Teorias Comportamentais - Liderança como Função de Grupo

O segundo conjunto, caracterizado como as teorias comportamentais - stile approach, dominou do início ao final dos anos 60. Enfocou o comportamento e o estilo da liderança. As teorias são:

Campo Social
Autor Representativo: Kurt Lewin (1930)
Características: Liderança Autoritária, Democrática e Laissez-faire.

Conceito de Grid Gerencial
Autores Representativos: Robert Blake e Jane Mouton
(1964)
Características: a grade gerencial ou grid gerencial foi um diagrama desenvolvido para medir a preocupação relativa do líder com relação às pessoas e à produção: Gerência empobrecida (pouca preocupação com as pessoas e com as tarefas). Gerência de clube de campo (muita preocupação com os empregados e pouca preocupação com as tarefas). Gerência de tarefa ou autoritária (muita preocupação com a produção e pouca preocupação com os empregados). Gerência em equipe ou democrática (muita preocupação tanto com a tarefa quanto com a satisfação dos empregados), Gerência meio-do-campo (uma quantidade média de preocupação tanto com o funcionário quanto com a produção).

Quatro fatores de Liderança
Autores Representativos: Bowers e Seashore (1966)
Características: a liderança apresenta 04 fatores: apoio às pessoas, facilidade de interação, ênfase nos objetivos do grupo de trabalho e facilitação do trabalho em grupo.

3 – Teorias Contingenciais – Liderança como Função Situacional

O terceiro conjunto, intitulado de teorias contingenciais – contingency approach, localizou-se entre o final dos anos 60 e o começo dos anos 80. A liderança surge de fatores situacionais, conforme a tomada de decisão, as metas e o vínculo entre líder e liderado. Dentre as teorias contingenciais estão:

Correspondência do Líder
Autor Representativo: Fiedler (1967)
Características: liderança “adaptativa”, ou seja, não existe um único estilo de liderança “melhor”, mas o “mais adequado” a uma situação específica.

Estilo Líder / Participação - Modelo de Tomada de Decisão
Autores Representativos: Vroom & Yetton (1973)
Características: as decisões podem ser compartilhadas com os subordinados, considerando suas idéias e opiniões, levando a uma abertura do líder em compartilhar o seu próprio poder.

Situacional
Autores Representativos: Hersey e Blanchard (1986)
Características: quatro estilos de liderança situacionais: direção, treinamento, apoio e delegação, utilizados conforme a maturidade do liderado.

Vínculo da Díade Vertical
Autor Representativo: Graen (1980)
Características: preferência do líder por determinados liderados que ele considera intragrupo em detrimento de outros que ele classifica como extragrupos.

Trajetória-Meta ou Caminho Objetivo
Autor Representativo: House (1971)
Características: os líderes reforçam as mudanças dos seguidores ao mostrar os comportamentos (trajetórias) que levam às recompensas.


4 – Teorias Neocarismáticas - Liderança como Função Simbólica

O quarto e último conjunto de teorias são as neocarismáticas – new leadership approach, influenciando desde o início dos anos 80 até hoje. Enfatiza que o líder é um gestor de significados, o carisma pode ser aprendido, os valores transformam o comportamento dos seguidores, principalmente se tiver visão e capacidade de servir ao outro. São elas:

Carismática
Autores Representativos:House (1977), Conger e Kanungo (1998)
Características: o carisma pode ser aprendido.


Integrativa: Transformacional, Embasada em Valores
Autores Representativos: Burns (1978) e Bass (1985)
Características: líderes e seguidores se elevam mutuamente a níveis mais altos de moralidade.


Transacional
Autores Representativos: Burns (1978) e Bass (1985)
Características: uso de incentivos e recompensas através da troca mútua entre o líder e o liderado.

Visionária e de Aspirações
Autores Representativos: Nanus (1985) e Bennis (1988)
Características: a visão é algo que o líder apreende; ela anima, inspira e transforma o propósito em ação.

Servidora
Autor Representativo: Greenleaf (1996)
Características: os líderes assumem comportamentos de servidores na sua relação com os subordinados. Sua motivação profunda é o desejo de ajudar os outros.


Teoria U
Autor Representativo: Otto Scharmer
Características: enfatiza as sete capacidades de liderança: 1.Ligar-se o que está a sua volta, 2.Observar, 3.Sentir, 4.Estar presente, 5. Cristalizar, 6. Fazer o protótipo, 7. Desempenhar



Salientamos que os Programas de Desenvolvimento de Lideranças (PDL) não podem ser apenas “pacotes” de ensinamentos cognitivos (racionais) ministrados em algumas mínimas horas de treinamento. Eles precisam ser adaptados à identidade da organização e à do indivíduo.
Como medida para assegurar a eficácia desses PDL, faz-se necessário um rigoroso planejamento e acompanhamento, objetivando equilibrar competências técnicas (cognitivas) e comportamentais (emocionais) na atuação diária. O mundo precisa de líderes que apresentem uma disposição em desenvolver e aplicar essas duas competências conjuntamente. Liderança sem a utilização da sabedoria está a beira de um caos, racionalidade em excesso leva a resultados, mas perde literalmente a motivação humana, emocionalidade em excesso resgata o humano, porém carece do alcance de objetivos e metas.
Portanto, precisamos de uma cultura biocêntrica (a vida como centro) dentro da empresa, em que os novos conceitos e práticas da liderança leve a uma manifestação de integridade, ética, inspiração, autenticidade, escuta da emocionalidade gerando resultados e contribuições para o corporativo e o individual.
Pense nisso, quando a sua proposta for desenvolver os líderes da sua empresa.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fonte: Estilos de Liderança Praticados nas Empresas Pernambucanas – Vera Lúcia da Conceição Neto – Prêmio Ser Humano Paulo Freire (ABRH/PE 2008) – 1º lugar em Gestão de Pessoas.
Autor: Vera Lúcia da Conceição Neto


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