O preço do petróleo e os principais produtos do setor sucro-alcooleiro



AÇÕES & MERCADOS RISCOS
JUNHO DE 2006

Conclusões sobre a existência de relações positivas entre os preços podem ser errôneas

Daniel Pacífico e Luiz Fernando Abussamra
Da RiskOffice*

Apesar de, no passado recente, ter sido observada uma aparente relação positiva entre os preços do petróleo e os do açúcar e do álcool, tal afirmação está sendo erroneamente generalizada. Quando analisadas com maior rigor, as séries de preços apresentam uma instabilidade entre as relações, colocando, assim, algumas avaliações empíricas em "cheque mate".

O período da análise efetuada abrange de maio de 2001 a abril de 2006. Diversas janelas de observação foram utilizadas com o objetivo de capturar a evolução das relações ao longo do tempo. Foi construída a correlação entre o retorno diário do preço do Petróleo tipo Brent e do preço de fechamento, para o primeiro vencimento, do contrato de futuro de açúcar sob núm. 11, negociado na Nybot (New York Board of Trade). Também foram utilizados os preços de fechamento dos contratos futuros de açúcar cristal e álcool anidro carburante para o primeiro vencimento negociado na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Para os preços à vista, utilizou-se as séries de preços do Cepea/Esalq para os mesmos produtos.

Conclusões sobre a existência de relações positivas entre os preços podem ser errôneas caso o foco seja apenas nos resultados advindos dos últimos 21 retornos. Para este período de análise, as correlações foram de 0,51 para o açúcar negociado na Nybot, 0,37 e 0,15 para o açúcar cristal e álcool anidro carburante, respectivamente, em preços à vista. Entretanto, quando a análise se estende a períodos maiores, observa-se uma redução dos coe­ficientes estimados.

Comparando a correlação encontrada em um mês (21 dias) com a de três meses (63 dias úteis) e para períodos superiores, não se observa uma estabilidade das correlações e, desta forma, não se pode afirmar que exista alguma relação linear forte entre as variáveis em períodos longos. Mesmo em períodos curtos, a existência de uma suposta relação linear entre os preços do petróleo e os preços do açúcar e do álcool foram instáveis no passado. Analisando a evolução das correlações entre o petróleo e o açúcar negociado na Nybot, comprova-se tal instabilidade. Esta variou de 0,40 à - 0,40, no último ano. Fato também observado nas demais séries de açúcar e de álcool.

A instabilidade do coeficiente de correlação é um indício de que, apesar de, em alguns momentos no tempo existir uma aparente relação entre os preços, esta não se mantém constante. Assim, é perigosa a afirmação sobre a existência de uma relação positiva entre os preços do petróleo e do álcool e açúcar. Tal relação, mesmo que em algum momento seja observada, historicamente, não irá permanecer em tal magnitude.

São a real entrada do álcool na matriz energética internacional, um número maior de participantes na oferta e na demanda mundial e a efetiva transformação do álcool em "commodity", líquida e sem barreiras comerciais de entrada nos diversos mercados consumidores, os fatores que poderão contribuir para uma correlação entre os mercados de açúcar, álcool e petróleo. No entanto, antes que os desafios sejam ultrapassados, será verificada a instabilidade nas referidas correlações de preços. A gestão de riscos pode, através da efetiva e contínua análise das correlações entre os mais diversos fatores de riscos, auxiliar o processo decisório da alta gestão, desmistificando verdades momentâneas que podem comprometer os retornos esperados de seus ativos.

A RiskOffice também é dirigida por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializados em Risco de Crédito e Mercado. Rabbat é um dos sócios da PR&A Consultoria.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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