Mesmo com instabilidade, multimercados têm ganhos



VALOR ECONÔMICO

EU & INVESTIMENTOS
10 DE JULHO DE 2006

Mesmo com a instabilidade que tomou conta dos mercados em meados de maio e junho, os fundos multimercados que ado­tam a estratégia macro de gestão encerraram o semestre como os mais rentáveis, em média. Esses fundos compõem a maior parte dos multimercados brasileiros e procuram ganhar com as tendências dos ativos, se­jam de alta ou baixa. Em maio, a categoria foi a mais prejudicada com a forte volatilidade dos ati­vos. Mas os fundos se recupera­ram e o Índice Arsenal Macro fe­chou o semestre com alta de 9.84%, acima dos 7,77% do CDI.

Apesar de o investidor olhar sempre o retorno do fundo em função do CDI, que segue a Selic, o indicador não é o melhor refe­rencial para a categoria, que in­veste em vários mercados e não apenas em renda fixa. “Não é cor­reto comparar um fundo que tem, por exemplo, volatilidade de 5% com o CDI que tem volatilidade zero", diz Gustavo Teixeira Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal BPW Investimentos.

O índice Arsenal Trading encer­rou o semestre com ganho médio de 9,56%. Os multimercados trading são carteiras que adotam posições direcionais, mas o gestor busca capturar os movimentos de curto e médio prazos constante­mente. Segundo Teixeira Coelho, os fundos que adotam a estratégia trading foram favorecidos em ju­nho com a oscilação do mercado, mas os fundos macro foram beneficiados pelos dois últimos dias do mês, quando o mercado registrou uma melhora depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central ame­ricano) sinalizou que não deve elevar a taxa de juros além do que es­pera o mercado.

As carteiras que adotam a estra­tégia de arbitragem tiveram o se­gundo melhor desempenho em junho e aparecem em terceiro en­tre os quatro estilos de gestão. O índice Arsenal Arbitragem — for­mado por multimercados que buscam ganhar com a diferença de preços entre ativos em diversos mercados como juros, câmbio e bolsa—registrou retorno de 1.674 no mês passado. No ano, o referen­cial apresenta retorno de 8,54%.

Já a arbitragem com ações — compra de um papel e venda de outro de modo a ganhar com a di­ferença — rendeu em junho 0,99% e, no ano, acumula 8,04%. A cate­goria é formada por multimercados e por alguns fundos de ações que ganham com arbitragem utili­zando ações e seus derivativos co­mo principal estratégia. São os chamados fundos long/short. Ape­sar de os fundos "equity hedge" também ganharem com arbitra­gem, eles procuram esses ganhos só com ações e seus derivativos.

Para os próximos meses, Teixei­ra Coelho avalia que as eleições e a indefinição do cenário externo tendem a deixar a vida dos gestores mais complicada. "Vai ser mais difícil ganhar dinheiro, mas a vola­tilidade também abre oportunidades de ganhos", diz o executivo.

Os multimercados estão recu­perando terreno depois das perdas de maio, diz Fernando Lovisotto da RiskOffice*. De 26 de maio até 3 de julho, o índice de Fundos Multimercado (IFM), calculado pela consultoria, que reúne as maiores carteiras aberto do mercado, apresentava ganho de 330% do CDI. "Os gestores, especialmente os de carteiras macro, estão conse­guindo se ajustar ao novo cenário de volatilidade ligeiramente me­nor e estão mais diversificados em dólar e juros", diz. Com isso, o de­sempenho se descolou do Ibovespa. Em junho, o IFM teve alta de 2,33%, para 1,19% do CDI. Em maio, o índice perdeu 1,04%. No ano, tem alta de 9.75%.

Segundo Lovisotto, o pior perío­do para os multimercados foi no início da crise, quando o Ibovespa caiu de 42 mil pontos para 39 mil, o que pegou os gestores fortemen­te posicionados em bolsa e devedores em dólar. Na segunda onda de turbulência, quando o índice recuou para 32 mil pontos, a maio­ria já havia zerado posições.

Nesse ponto, alguns até volta­ram a se posicionar já dentro do novo cenário, vendendo dólar a R$ 2.40 e comprando Ibovespa a 32 mil pontos, além de NTN-Bs com juros reais mais altos e até papéis prefixados. "Surgiram oportuni­dades muito boas e muitos multi­mercados conseguiram aproveitá-las", diz Lovisotto. Assim, diversos fundos conseguiram recuperar em junho boa parte das perdas de maio. "A perspectiva é boa, ainda há muito prêmio nos mercados”.

Ele cita ainda os fundos fecha­dos para captação, também acompanhados pela RiskOffice, e que tiveram um ganho menor em junho, de 1,78%.

Banco Real lança três carteiras mistas

Depois de perceber que o in­vestidor não consegue ingressar e sair de aplicações mais arrisca­das na hora certa, o Banco Real está lançando uma família de fundos que seguirá uma disci­plina rígida de investimento em ativos de maior risco. O Real In­vestimento Personalizado Van Gogh é composto de três fundos que vão investir em outras car­teiras de várias categorias, como renda lixa, dívida externa, multi­mercados e bolsa. Os fundos irão manter o percentual em tais aplicações independente do comportamento do mercado.

Com tal estratégia, indireta­mente o investidor sempre irá comprar ativos quando estimem em baixa e vendê-los em momen­tos de alta do mercado. A carteira moderada dessa família de fundos, com um nível de risco intermediá­rio, terá sempre 5% do patrimônio aplicado em bolsa, faça chuva ou faça sol. Se o índice Bovespa cair e esse percentual for para 2%, o gestor comprará ações até recompor os 5%. Caso contrário, se o Ibovespa subir e esse percentual em renda variável triplicar, por exemplo, uma parte das ações é vendida até essa quantidade de papéis voltarem ao nível estipulado pela carteira.

"Quando a bolsa cai, o investi­dor se assusta e vende as ações ou, no máximo, não compra mais, mas quando sobe, ele se empolga, compra mais e caro" diz o estrategista da ABN Amro Asset Management, Aquiles Mos­ca. Segundo ele, as estatísticas mostram que no longo prazo a estratégia definida para os novos fundos traz ganhos maiores.

A principal, diferença entre as três carteiras é o investimento em renda variável e a taxa de administração — a mais conserva­dora não aplica em bolsa e possui taxa de 1,5% ao ano; a balanceada possui 5% em ações e taxa de 1,6% ao ano; e a arrojada 15% em ren­da variável e taxa de 1,8%. Todas as carteiras têm aplicação inicial de R$ 50 mil e estão disponíveis ao clientes Van Gogh do banco — segmento de alta renda do Real. O banco também tem um novo orientador de investimentos na internet para o público com ren­da acima de R$ 4 mil mensais ou aplicações a partir de R$ 40 mil. Diferentemente de outros simula­dores, que consideram apenas o perfil do cliente (idade, renda, se tem filhos), ele pesa os objetivos que o investidor tem, para só en­tão indicar as melhores aplica­ções, diz o superintendente dos serviços Van Gogh, Marcelo Aleixo. A versão reduzida do orienta­dor está disponível na internet e a completa apenas com o gerente.

*A RiskOffice é também dirigida por Marcelo Rabbat, consultor especializado em risco de crédito e de mercado e fundos hedge. Rabbat é sócio da PR&A Consultoria de Investimentos.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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