Real, Moeda forte



VALOR ECONÔMICO
JULHO 2006

Com câmbio mais volátil, investidor pode garimpar opções para ganhar com o vaivém da moeda americana nos fundos mistos, nos futuros ou em renda fixa no exterior

Investir no real contra o dólar— e ganhar uma das taxas de juros mais eleva­das do planeta — conti­nuará sendo uma aposta segura, ao menos até 2007. Até lá, po­rém, com mudanças no juro de curto prazo americano, dúvidas sobre o ritmo de crescimento da economia global, tensões geopolíticas e eleições no Brasil, não dá para garantir uma travessia tran­quila para o investidor. Basta lembrar que, entre maio e junho, o dólar chegou a oscilar da míni­ma de R$ 2,05 para o pico de R$ 2,40, estacionando agora por volta dos R$ 2,20.

Mas, em lugar de prejudicar, essa instabilidade pode trazer ganhos. O problema é que, por sua própria conta e risco, o pe­queno investidor não tem muito o que fazer para aproveitar as oportunidades que surgem nesses vai e vem, já que este é uma campo dominado por estrangeiros e tesourarias de grandes bancos. Há, entretanto, alternativas que capturam tais movimentos, co­mo os fundos multimercados ou as ações de empresas exportadoras. Para os mais afeitos a exposi­ção cambial pura, os fundos cambiais, os minis contratos de dólar futuro e até o "money market” (o mercado de dinheiro) no exterior são opções.

Com o balanço de pagamentos em situação confortável e os bons saldos comerciais, não será pelo lado dos fundamentos que o dó­lar sairá do seu eixo no mercado local, argumenta o vice-presiden­te de Tesouraria do WestLB, Ale­xandre Ferreira. "A expectativa é de que os estrangeiros conti­nuem a investir no Brasil e que o crescimento econômico global, puxado pela China, cumpra o pa­pel de manter preços elevados para a nossa cesta de produtos ex­portáveis", diz. "Por conta da boa situação externa, o real tende a ter um comportamento melhor do que outras moedas na média dos emergentes mesmo nos pe­ríodos de maior volatilidade."

Embora Ferreira espere uma taxa de câmbio transitando en­tre R$ 2.15 e R$ 2,20 ao longo do ano, ele não descarta a possibilidade de repiques como os observados no mês retrasado, quando a divisa americana saiu da mínima de R$ 2.056, no dia 5, para a máxima de R$2,40 em 24 de maio, com uma valorização de 16,7% em poucos dias. Com o desmonte de posições e a saída dos estrangeiros, principalmente os "hedge funds", a demanda por dólares aumentou.

Quem consegue detectar as tendências para os fluxos é que leva a melhor. Os fundos multimercados, a exemplo das tesou­rarias dos grandes bancos, fazem tal exercício diariamente, diz o sócio da RiskOffice* Fernando Lovisotto. Ele conta que, até o início de maio, as carteiras estavam car­regadas de posições vendidas (devedoras, apostando na baixa) em dólar futuro. Essas apostas fo­ram zeradas, alguns passaram a ficar comprados (apostando na alta da moeda) com o revés externo e agora voltam a ficar devedo­res em moeda estrangeira. "É uma forma de aproveitar os juros altos, já que a diferença entre a taxa americana e a brasileira ain­da favorece a arbitragem."

Mesmo com a trajetória descen­dente dos juros brasileiros, o real mantém sua atratividade e o fluxo de capital segue positivo, segundo o gestor da Claritas, Marcos Macha­do. Além disso, as empresas estão capitalizadas e não têm recorrido a empréstimos externos e operações de hedge (proteção), o que justifi­ca ficar vendido em dólar futuro. "As reservas estão acima dos US$ 60 bilhões, o financiamento públi­co externo está praticamente ga­rantido neste ano e o setor privado quase não tem exposição em moe­da estrangeira", analisa.

Mas há quem considere que o real forte está com os dias conta­dos. Para o diretor da InvestPort Danny Rappaport há uma exaus­tão no ciclo de forte expansão na economia global e os ajustes monetários nos Estado Unidos, Euro­pa e Japão acabarão por impor um freio ao crescimento. "Com a desa­celeração vem a queda nos preços das commodities e aí o real cai jun­to", diz. Ele espera que o dólar che­gue ao fim do ano na casa dos R$ 2,40, nível que encontra algum respaldo na atual posição dos ban­cos no mercado à vista de moeda.

Depois de apresentar recorde de US$ 4,69 bilhões em posições vendidas em janeiro — para lu­crar com a arbitragem entre ju­ros internos e externos — o siste­ma financeiro vinha, progressi­vamente, aumentando o volume de dólares em carteira. O estoque em moeda americana saiu de US$ 200 milhões em fevereiro pa­ra o pico de US$ 7.16 bilhões em maio. No mês passado, foi redu­zido para US$ 430 bilhões, se­gundo o Banco Central (BC).

Para quem acredita que o dólar pode virar de novo, o maior pro­blema é o custo de oportunidade (medido pelo juro básico em reais, sem risco) e o mais aconse­lhável, segundo Rappaport, é pensar em ativos que possam se beneficiar dos movimentos mais erráticos. Ele sugere, por exem­plo, títulos públicos indexados ao IGPM, que captam muito bem os vaivéns da moeda americana, e ações de empresas exportadoras, mas que não sejam dependentes de commodities, caso da AmBev, da Aracruz e da Weg.

No longo prazo, num horizon­te de 20 anos, o dólar tende a su­perar o CDI, diz o diretor do Banco Paulista Tarcísio Rodrigues, re­ferindo-se a um estudo feito pela Universidade Paulista junto com a Fundação Getulio Vargas (GV). Com a desburocratização do sistema de câmbio do ano passado, ele considera uma boa idéia o in­vestidor aproveitar a atual taxa de câmbio para manter uma parte dos seus recursos numa conta no exterior, ganhando, no mínimo, o retomo da renda fixa america­na, que nada nada garante 5,5% ao ano em dólares. "Atualmente, as remessas giram de US$ 20 mil a US$ 50 mil, mas já é possível en­contrar opções de investimento lá fora a partir de US$ 1 mil."

Os mini contratos de dólar futuro são a opção para aqueles que acompanham o dia-a-dia do mercado de câmbio, têm boa percepção direcional ou compromissos em moeda estrangei­ra, diz o diretor da Interfloat Roberto Lombardi. Na BM&F, o investidor não tem de desembolsar grandes valores porque não está comprando um ativo e sim assu­mindo o risco da variação de pre­ços. Para montar uma posição de US$ 5 mil, por exemplo, o depósito de garantias é de R$1,5 mil e a partir daí ele paga ou recebe os ajustes diários na bolsa.

Esse é um mercado que vem ganhando adeptos. Em junho do ano passado, as negociações com o dólar comercial fracioná­rio envolviam 5,8 mil contratos, começando 2006 com mais de 390 mil contratos até o pico de março de mais de 520 mil.

Recuo do dólar contribui para reação de multimercados

Os fundos multimercado, pegos no contrapé com a queda das ações e a alta do dólar em maio, já recuperam o terreno com a redução da volatilidade e as posi­ções vendidas na moeda ameri­cana (apostando na queda) vol­taram a dar ganhos.

É o caso do Claritas Hedge e Claritas Hedge30. Segundo o gestor da Claritas Investimentos Marcos Machado, depois de os multimer­cados da casa perderem com títu­los indexados ao IPCA em maio, uma parte dos recursos foram reinves­tida em DI e, depois, em dólar futu­ro. Desde o mês passado, a estraté­gia provou ser acertada, com qua­se 50% dos ganhos (de 6,21%, no Claritas Hedge) com o câmbio.

A Gap Asset Management de­ve grande parte do retomo acu­mulado pelos seus multimerca­dos no primeiro semestre (de 9,9% no Hedge e mais de 11%no Multiportfólio) ás suas posições contra o dólar. Ao identificar o aumento da volatilidade em abril a gestora começou a zerar a fatia de câmbio na carteira, chegando ao auge da turbulência sem nenhuma exposição, o que garantiu a travessia sem desvalorização para as cotas.

"Se a volatilidade perdurar e a moeda americana voltar a esbar­rar nos R$ 2,40, começa a valer a pena apostar na queda do dólar de novo”, afirma o sócio da Gap Emanuel Pereira da Silva. Ele diz que os multimercados são um veículo muito apropriado para aproveitar esse sobe-e-desce, pois o gestor consegue fazer e desfa­zer das posições de maneira mui­to rápida, podendo não só se de­fender bem da oscilação dos ati­vos como até ganhar dinheiro.

Outras gestoras independen­tes também têm tirado proveito desse mercado, recuperando-se das perdas registradas em maio. O Mauá Multimercado, da Mauá Investimentos, do ex-diretor de Política Monetária do BC Luiz Fernando Figueiredo, ganhou 5,42% no mês passado e esboça um retorno de 0,82% até 14 de julho, ante 0,56% do CDI. O Gá­vea Brasil Multimercado, da Gá­vea Investimentos, de Armínio Fraga, garantiu 3,11% em junho e exibe 0,76% até a primeira quinzena de julho.

*A RiskOffice é dirigida também por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de crédito e risco de mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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