A Sustentabilidade em Meio aos Caminhos Insustentáveis



Autores: Marçal Rogério Rizzo e Elder Camargo Rotondo.

Se olharmos com atenção para o mundo atual, perceberemos que estamos colhendo as consequências das escolhas erradas que fizemos no passado. Vivemos em meio às desigualdades sociais e econômicas do consumismo exagerado, miséria urbana, da violência, poluição, escassez de água, perda da fertilidade do solo entre outros problemas.

Com o agravamento do colapso ambiental, o conceito de sustentabilidade surgiu, foi desenvolvido e amplamente discutido pelo mundo. A pilastra básica que mantém essa visão é guiada pela idéia de termos nossas necessidades atendidas sem comprometermos o futuro das gerações que estão por vir. Assim, podemos nos sustentar por tempo indeterminado, tendo um equilíbrio entre três pilares – o social, o ambiental e o econômico.

Agora, são diversas as causas que tornam o mundo insustentável. Uma delas, que vem acalentando os debates nessa área, é o saneamento básico, que pode ser entendido como: conjunto de medidas, visando preservar ou modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde, melhorando, assim, a qualidade de vida da população e a produtividade do indivíduo. Ele também tem influência direta sobre a atividade econômica.

Dentro do contexto saneamento básico, ao considerarmos especificamente somente o esgoto, veremos que ele se tornou um grande problema para o Brasil. A ONU adotou 2008 como o Ano Internacional do Saneamento Básico, mas a situação aqui é caótica. O esgoto não tratado contém numerosos agentes patogênicos, micro-organismos, resíduos tóxicos e nutrientes que provocam o crescimento de outros tipos de bactérias, vírus ou fungos que são causadores de inúmeras doenças. Além do mais, o esgoto polui as águas e, só por aí, já se justificaria a extrema necessidade e importância de sua coleta e tratamento. Esgoto coletado e tratado garante a qualidade de vida da população atual e futura.

Apesar da relevância para a sustentabilidade, o saneamento está longe de ser adequado. Os números assustam, pois mais da metade da população brasileira não conta com redes de coleta de esgoto e 80% dos resíduos gerados são lançados diretamente nos rios, sem nenhum tratamento.

Tal cenário gera a contaminação dos mananciais e, consequentemente, o consumo de água sem tratamento tem registrado milhares de casos de doenças, como dengue, malária, hepatite A, leptospirose, tifóide e febre amarela. Milhares de crianças com menos de cinco anos morrem de diarréia todos os anos.

As regiões Norte e Nordeste apresentam os piores índices do Brasil, onde mais da metade da população não conta com rede de abastecimento de água e de esgotos.

Apesar do reconhecimento da importância do desenvolvimento sustentável, o saneamento básico tem caminhado na contramão da sustentabilidade. É necessário promover mudanças de atitudes, pois o modelo atual das relações sociais, ambientais e econômicas encontra-se esgotado.

Na verdade, o momento atual está marcado por uma mudança de valores. Estamos como os olhos voltados apenas para um dos pilares da sustentabilidade, o econômico. Vale lembrar que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Agora, resta saber até quando poderemos ter as atenções voltadas somente nos interesses econômicos? Talvez, quando acabarmos com o planeta, teremos dinheiro suficiente para comprar outro planeta.

Tudo considerado, vale entender que enterrar canos e construir Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) renderá poucos votos aos políticos, ainda mais para aqueles que vivem de marketing e de holofotes dá uma mídia comprada por migalhas. Basta atentar para os meios de comunicação e entenderá do que estamos falando.

Em 2010 e 2012, teremos novos processos eleitorais. Aí voltarão em cena os falsos e mentirosos discursos, dizendo que estão preocupados com o meio ambiente e a saúde do cidadão. Porém, infelizmente, continuemos viver embaixo desse “guarda-chuvas” político, em que a elite é manipuladora, homicida e egoísta. O meio ambiente é coletivo e não individual, uma ação pode atingir milhões de pessoas.


* OBSERVAÇÃO: Este artigo foi elaborado em parceria com o acadêmico Elder Camargo Rotondo – último ano de Administração da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Três Lagoas (MS). Desenvolve pesquisas e estudos na área da Sustentabilidade.


Artigo publicado no Jornal Diário MS de Dourados (Mato Grosso do Sul). Ano 167, no. 4262 em 23 de dezembro de 2009. Artigo publicado na homepage da Fundação Planeta Terra em 22 de dezembro de 2009.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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