Amazônia,diversidade e culturas digitais



A região Amazônica é um grande campo para o desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão universitária. É inegável que hoje não podemos pensar o espaço amazônico descontextualizado do processo produtivo, cultural e tecnológico. Embora, ainda, incipientes na Amazônia o acesso aos meios tecnológicos vêm ampliando de forma inédita às fontes de conhecimento, permitindo um avanço significativo na aplicabilidade de novas tecnologias sustentáveis. Antes de instar uma abordagem diferente é preciso observar as formas como as comunidades se desenvolvem nos longínquos espaços da Amazônia.
Sabendo se que, os amazônidas além de toda exclusão, conseqüência de uma globalização seletiva, têm dificuldade de acesso à saúde, saneamento e principalmente à educação-podemos prever que a inclusão digital ainda é uma grande desafio, sendo que alguns municípios não têm sequer acesso à internet.
Penso que, os usos das tecnologias contribuem para promover o debate, criar soluções para que o setor público possa planejar seus programas de inclusão digital.
Isso porque, no século XXI, é preciso garantir acesso ao conhecimento para superar a exclusão social e econômica.
Uma inclusão digital de fato que restabeleça o respeito às diferenças, ampliando a significação do habitat de populações, indígenas e afro-descendentes reside numa nova aprendizagem. Há de se pensar, também, de forma geral, quais são os benefícios e as implicações da tecnologia nas relações sociais na Amazônia. Inicialmente o que verificamos na Amazônia é um processo que envolve relações entre coletividades distintas em um mesmo espaço e pode ser comparado ao termo "etnologia" que não trata tão-somente da cultura material dos povos, mas, sobretudo da forma de interação entre grupos culturais atuando em contextos sociais comuns
O que observo em todo o mundo é uma distância crescente entre globalização e identidade. Entre a cultura digital e os amazônidas. No entanto, a viabilidade de um trabalho efetivo requer um conhecimento preciso das comunidades que habitam este território imerso pela floresta.
Afirmo, em companhia de um crescente número de estudiosos, que a inserção de novas tecnologias na Amazônia precisa vir acompanhada de geração de emprego e renda como é o caso do Amazon Paper que através da organização de pequenos produtores valoriza o uso sustentável dos recursos naturais, ampliando a geração de emprego e renda para as populações pobres da Amazônia.
Se analisarmos o conceito de cultura digital veremos que o mais importante é sua significação social preconizada pela propagação das novas tecnologias. Por meio da cultura digital é possível não tão-somente verificar que outras perspectivas são possíveis para a valorização das múltiplas culturas como compreender como a tecnologia pode se difundir na Amazônia. É importante levar em conta o caráter das novas tecnologias (em especial sistemas de comunicação e informática acessíveis e de baixo custo) por se basearem nos conhecimentos armazenados, tem um potencial além da fonte se associado aos conhecimentos tradicionais. Simbolicamente, é preciso esforços no sentido de implementar redes globais de cultura digital. Hoje as pessoas precisam se ver e serem vistas pelo mundo. De fato, há uma integração dos povos que se reconhecem através da formação de redes, contrariamente, subvertendo-se ao conceito ocidental tradicional de sujeitos separados e independentes.
Penso que, depende do apoio governamental o sucesso das iniciativas de inclusão digital o que estão diretamente relacionadas a ações pedagógicas o que viabiliza sua aplicabilidade. Em primeiro lugar para começar uma discussão precisamos entender melhor o conceito de Democratização da informática (a quem se destina), e fazermos um paralelo com as políticas de TIC's. Mas a discussão sobre Democracia se estende e vai além do simples discurso. Faço então uma provocação, existe de fato essa democracia! Que inclusão é essa? Inclusão digital significa, antes de tudo, melhorar as condições de vida de determinada região ou comunidade com ajuda da tecnologia.
Em termos concretos incluir digitalmente não é apenas "alfabetizar" a pessoa em informática, mas também melhorar os quadros sociais a partir do manuseio dos computadores. Como fazer isso? Mostrando como a população ribeirinha da Amazônia pode gerar conhecimento através das tecnologias digitais.
Há uma série de iniciativas que merecem destaque como exemplos de Projetos de extensão universitária, que ilustram como o acesso às tecnologias e um pouco de criatividade pode mudar o cenário de pobreza.
Em Curralinho no Marajó um grupo de estudantes de engenharia da Computação instalou estações de trabalho, cujos computadores funcionam por energia solar, já que não havia energia elétrica. Também não havia infra-estrutura de telecomunicações, ou seja, nada de telefones ou conexões à internet. Então começaram a usar conexão via satélite, cujo valor ainda é bem alto. Ocorre que toda a parafernália pode ser tornar auto-sustentável.
Lamentavelmente, os governos dão pouca atenção na forma como a tecnologia pode fazer a diferença. O processo de digitalização no contexto amazônico precisa ter como objetivo a democratização do conhecimento e das diversas culturas. Por isso, a inclusão digital é pré-condição para uma educação que vise a sustentabilidade na Amazônia. Além de manter programas estruturados de educação - o Estado precisa promover ações de inclusão digital, evidenciando um direcionamento para a inclusão social que contribua para que os pequenos produtores se apropriem de um percentual maior da renda gerada numa determinada cadeia produtiva (inegavelmente, é o caso do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)). Por fim, é importante reconhecer que a apropriação social da tecnologia se configura como fator de geração de trabalho e renda.
Contudo, é preciso estimular a construção de redes locais comunitárias que se interconectem a infra-estrutura ofertada pelo Governo Federal. Estas redes podem ser geridas por conselhos, integrados pelo poder público e por representantes da sociedade civil. Sua malha poderá ser composta por um mix de tecnologias ( wifi,wimax,mesh, fibra,PLC,etc.), adaptado a cada específica localidade.
Conclusivamente, não podemos afastar as novas possibilidades tecnológicas, sobretudo a disseminação do GNU/ LINUX. As soluções de software livre devem ser consideradas como potencializadoras do processo de inclusão digital.
Dentro desta perspectiva, espera-se que surjam novos debates para que possamos dividir experiências, trazer inéditas contribuições para o desenvolvimento social, além de assegurar uma nova tomada de pensamento. Neste sentido experiências concretas de apropriação social da tecnologia de informação e comunicação(TIC) impulsionam metodologias onde se constroem os parâmetros, aliando os saberes das comunidades aos conhecimentos técnicos.
Ricardo Damasceno Moura
Pesquisador de Tecnologias Sociais
e-mail: [email protected]
Autor: Ricardo Damasceno Moura


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