Estudar não mata.



Poucas pessoas entendem a complexidade do ato de ministrar aulas. E esse também é um motivo óbvio para a falta de valorização desta, posso até dizer, bela profissão. O fato de alguém saber largamente a respeito de um assunto qualquer, não torna essa pessoa apta a transmitir de forma clara esse conhecimento. Há uma complexa quantidade de pressupostos que somente um professor experiente e dedicado conhece e faz uso. Isso fica muito mais claro no ensino fundamental, onde é exigida do professor uma gama incrível de habilidades, que vão além do conhecimento em sua área. Que habilidades seriam essas? Se o caro leitor tem mais de 30 anos, nem tente se lembrar da sua professorinha, pois ela não existe mais. Tudo mudou e acreditem quando eu digo tudo. No sagrado espaço da sala de aula, o professor precisa estar ciente de que ele lida com seres humanos em desenvolvimento e que essas pessoas têm vontade própria e que essas vontades, em geral, não passam pelo querer aprender. Lógico que eu não poderia estar falando de 100% dos alunos de uma sala, mas digamos que 10% ou menos apresenta interesse naquilo que o professor está disposto a dizer. Qualquer professor da rede pública pode atestar o que vou falar agora, mas a primeira frase que escutamos todos os dias quando chegamos à escola, não é: “bom dia” e sim: “a senhora veio, professora?!” A segunda frase mais corriqueira disparada pelos alunos é: “não passa lição hoje não, professora.” O que entendemos disso? Que a lição é um porre, mas ninguém nunca morreu por fazer lição ou estudar. Muito pelo contrário, o conhecimento é a melhor arma contra os problemas da vida, algo que pode fazer a diferença e ancorar soluções. O professor passa todos os dias pelo dilema de dar aula e ser malvado ou não passar nada e correr o risco de os alunos botarem fogo na sala, literalmente. Somos pagos para compartilhar nosso conhecimento, não seria justo, nem ético, nem correto se resolvêssemos atender as solicitações de “não dá nada, professora” dos alunos. Mas garanto a vocês que gostaríamos muito de entrar numa sala com alunos com sede de aprender. Alguns teóricos que nunca estiveram em uma sala de aula, tendem a dizer que a aula é desinteressante, que o professor não inova e não fala a linguagem do aluno. Pode ser, mas nenhum deles dá uma idéia de como ensinar coisa chata de forma legal. Jogar teorias sem ter soluções, não me parece uma boa ajuda. Os críticos gostam muito de falar que não há receita de bolo e que cada realidade é diferente de outra. Concordo e acredito que se essa receita existisse nunca sairia de um desses professores de escritório. Ora, sejamos objetivos: escola é lugar de estudar. Simples. Estudar. Se quiserem brincar, vão ao parque; se quiserem ver filmes de violência ou sexo, vão ao cinema; se quiserem jogar, vão à lan house. Escola é para estudar (novidade, não?), desenvolver-se enquanto ser humano, descobrir mundos novos, trocar experiências e crescer interagindo com o próximo.
Autor: Silvana Spina


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