Mercado oscila com as incertezas



O ESTADO DE S. PAULO
INVESTIMENTOS - SETEMBRO DE 2006

Volatilidade cresce diante de dúvidas em relação às economias desenvolvidas, ao petróleo e ao Oriente Médio

Risco e incerteza são as palavras do momento na definição do rumo do mercado financeiro global. As análises deixam claro o elevado grau de dúvida em relação ao futuro próximo, ao citar o petróleo caro, a preocupação com o crescimento dos Estados Unidos, a tensão no Oriente Médio, as ameaças terroristas (em 11 de setembro completam-se cinco anos desde o ataque ao World Trade Cen­ter, em NovaYork) e até a possibilidade de pandemias.

O principal motor da economia global da sinais de fadiga. No segundo trimestre, os EUA cresceram 2,9%, ante 5,6% no trimestre anterior. No dia 20, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) decide o ru­mo do juro, atualmente em 5,25% ao ano. Embora a taxa tenha ficado inalterada em agosto, a decisão não foi unânime e, dependendo de dados econômicos, poderá voltar a subir.

Outros importantes bancos centrais também elevaram o juro. Na zona do euro, a melhora da economia tem empurrado a inflação acima da meta de 2% do Banco Central Europeu. Em resposta, o juro já subiu três vezes neste ano, para 3,0%. No Japão, a economia mais aquecida pós a inflação ligeiramente em território positivo (0,8%) e fez com que o BC local abandonasse a política de juro zero. Contudo, essas regiões devem sentir o impacto da perda de fôlego da economia americana.

O crescimento mais vagaroso do PIB dos EUA no segundo trimestre indica que o país talvez caminhe para um "pouso". A metáfora compara a economia a uma aeronave que, depois do vôo - ou forte crescimento -, começa o procedimento de aterrissagem. A ansiedade é sobre o impacto desse pouso. O comportamento dos consumidores e o ritmo de esfriamento do setor de imóveis determinarão se a aterrissagem será brusca ou se o mercado terá seu desejado "pouso suave".

Na dúvida, os investidores estão cautelosos. Em agosto, o índice Dow Jones continuava subindo (acumulou valorização de 1,8% no mês e 9,8% em 12 meses).

Mas os lucros corporativos nos EUA poderão cair, se o crescimento desacelerar ou se a inflação trouxer novo aumento do juro - e lucros menores provocariam queda na bolsa.

A ansiedade se repete no setor de petróleo. A capacidade ociosa de produção não basta para acalmar o merca­do. A expectativa é que a demanda global fique em 30,6 milhões de barris diários de petróleo neste ano, segundo o Centro de Estudo de Energia Global (CGES) sediado em Londres. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com reunião marcada para o dia 11, deve segurar a oferta em 30 milhões de barris diários.

O preço médio estimado para o barril do petró1eo Brent em 2006 é de US$68,2, mas a previsão para o quarto trimestre fica acima de US$ 70. A projeção não prevê interrupções que poderiam ocorrer em caso de guerra no Oriente Médio ou se refinarias nos EUA forem atingidas por furacões.

Notas do Fed aumentam incertezas do mercado

Ben Bernanke tem mantido intacta a credencial antiinflacionária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), mas os mercados se tornaram muito mais voláteis desde a saída de Alan Greenspan, em janeiro. Para alguns analistas, uma mudança nos comunicados do Fed contribuiu para aumentar a incerteza.

Com Greenspan, os comunicados traziam uma entre três avaliações da economia: 1) de que o risco maior era de infla­ção, 2) de que havia mais risco de fraco crescimento ou 3) de que os riscos estavam equilibrados. Nas três ultimas reuniões, o Fed trocou o viés do risco pela expressão "data dependent”, para indicar que sua avaliação depende de dados em aberto. "Bernanke jogou a dúvida para o mercado", afirma Ricardo Simone Pereira, diretor-executivo da Multi Bank DTVM.

A alteração faz parte do esforço de Bernanke de tornar as de­cisões do Fed mais transparentes, avalia Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Assset Management. Carlos Anto­nio Rocca, sócio da Risk*Office Consultoria, concorda. "Sabíamos que não seria difícil suceder Greenspan, e Bernanke enfrenta uma situação delicada, de desmonte da bolha imobiliária, alta de commodities e de custo unitário dos salários." Quanto à política monetária, Fix se volta para trabalhos acadêmicos de Bernanke. "Ele é obcecado pela história da Grande Depressão e não quer repetir o erro de deixar o mercado sem liquidez." Por isso, prevê, o Fed não deverá exagerar ao subir juros.

*Um dos diretores da RiskOffice é Marcelo Rabbat, consultor de risco de investimento
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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