Ganhos com o risco



VALOR ECONOMICO
EU & INVESTIMENTOS -29 DE JANEIRO DE 2007

Multimercados proliferam e o resultado da maior oferta é que a escolha do investidor fica mais difícil.

Por Angelo Pavini, de Sao Paulo

Não é por acaso que, após o bom desempenho de 2006 e a grande procura por investidores que querem sair da renda fixa DI, os multimercados estão virando moda. Todos os bancos estão criando carteiras, inclusive para os investidores de varejo, novos gestores estão surgindo ou diversificando seus fundos. O negócio se mostrou bem rentável. Basta imaginar que os gestores e bancos ganham, além da taxa de administração - entre 1.5% e 2.5% ao ano —, a taxa de performance, que em geral fica em 20% do ga­nho que superar o CDI.

Se pegarmos o ganho médio apontado pelo Índice de Fundos Multimercados (IFM) da consultoria RiskOffice*, que no ano passado fechou em 20,54%, e descontando um CDI de 15,04%, os gestores teriam ganho de 20% sobre os 5,5 pontos percentuais de rendimento extra, ou 1,1%. Esse percentual, aplicado sobre um patrimônio de R$ 20 bilhões, resultaria em um ganho de R$ 220 milhões só com a taxa de performance. Somando uns 2% de taxa de administração, ou R$ 400 milhões, os gestores ficariam com R$ 620 milhões por seu trabalho. Sem contar que muitos fundos renderam mais que o IFM, em alguns casos mais de 30%. "Foi um ano muito bom para os gestores e para os aplicadores”, diz Fernando Lovisotto, sócio da RiskOffice.

O resultado dessa maior oferta de multimercados é que a escolha do investidor fica mais difícil, diz ele, lembrando que essas carteiras podem ter grandes diferenças de estratégia dependendo do gestor. "A transparência não é tão alta e o investidor que esta entrando nessas carteiras não é mais o private, é o varejo, que não é tão preparado para entender a diferença entre um multimercado macroeconômico, de arbitragem com ações (long/short), de arbitragem com derivativos ou se mistura todas elas".

Os fundos multimer­cados devem continuar com um bom desempenho neste ano, com um ganho médio acima do CDI, acredita Lovisotto. Mas os retornos não serão como os do ano passado porque o mercado já está ajustado, a bolsa subiu, os juros caíram e o dólar esta mais estabilizado. Além disso, será difícil achar alternativa para o gestor diversificar seu portfólio, pois os mercados estão muito correlacionados, afirma Lovisotto. E, com a competiçao entre os gestores aumentando, com muito dinheiro indo para multimercados, há mais gente procurando as oportunidades. “Isso levará a uma tendência de especialização dos gestores, de procurarem oportunidades em mercados diferentes, como crédito, recebíveis, direitos creditórios e outros ativos exóticos”.

Outra alternativa para o gestor ganhar mais será alongar o horizonte de investimento. Por isso, a primeira recomendação de Lovi­sotto é que o investidor certifique-se de que o horizonte de investimento no multimercado é de mais de um ano. Alem disso, com a procura maior no ano passado, a maioria dos gestores de fundos de maior risco fechou as carteiras que não tinham carência e passou a aceitar novos depósitos apenas em cartei­ras com resgate em 30 ou 60 dias, o que é mais um incentivo para o investidor só colocar neles o di­nheiro que não é do dia-a-dia.

No ano passado, a maioria dos fundos multimercado conseguiu superar com folga o CDI. E mesmo usando como referência a mé­dia do setor ponderada pelos volumes — cálculo usado na construção do IFM da RiskOffice - metade consegue se sair bem, ficando acima dos 20,54% do índice. Este é o segundo ano consecutivo que o IFM fica acima do CDI.

Lovisotto chama a atenção também para o fato de que os fundos fechados para captação, separados no IFM-não replicável (NR) tiveram um desempenho maior que os fundos abertos – 22,36% em 2006. "Como os resgates são menores nessas carteiras, o gestor aproveita melhor as oportunidades do mer­cado e corre mais riscos". diz Lovisotto. Muitos fundos também captaram bastante no ano passado e fecharam, aumentando a lista do IFM-NR. "Esta ficando difícil encontrar gestores bons, acho que 80% dos fundos que acompanhamos estão fechados”, diz.

Os gestores que não foram bem, em geral, foram conservadores de­mais na hora errada, perdendo oportunidades que surgiram com a melhora da bolsa no início e no fim do ano e os ganhos com papéis privados na turbulência de maio, que aumentou as taxas. “Cinco meses do ano, janeiro, maio e os três últimos, foram fundamentais para definir quem ganhou e quem perdeu em 2006”, diz Lovisotto. Por is­so também os fundos com estratégia macro foram os destaques, Lovisotto lembra que 2006 mostrou também a importância do investidor não olhar apenas para o curto prazo, ao aplicar em um multimercado. "Quem resgatou em maio, auge da turbulência dos mercados, perdeu toda a recuperação e o ganho que veio depois" diz.

Já os fundos de arbitragem, ou long/shorts, ficaram na média aci­ma do CDI, como mostra o índice da RiskOffice, o ILS, que fechou o ano com alta de 19,29%, mais abaixo do IFM. "Mas, ponderando pelo risco, os long/shorts apresentam um retorno mais consistente, com menor volatilidade dos long/shorts ficou em torno de 1,5% ao ano em 2006, para 2,7% ao ano dos demais fundos. E, neste início de ano, quando a Bovespa apresenta mais perdas, os long/shorts voltam a superar os demais fundos.

*A RiskOffice é dirigida também por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em riscos de crédito e de mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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