O Brasil que o Brasil Não Reflete



Enfim, 2010! Adentramos no último ano da primeira década do século XXI.
O país que por muito tempo contabilizou dívidas e juros ao final dos anos e mandatos, comemora agora a recém saída de uma crise mundial econômica, difundindo-se como “ILESO”.
Seria verdadeiro afirmar que a população encontra-se em situação equivalente ao seu país?
Para tentar responder à pergunta, começaremos com alguns significados de “ileso”: puro; intacto; incólume; íntegro; virgem.
E refletindo, constataremos que:
De puro, este país não tem nada!
Intacto? Só se estivermos nos referindo à situação dos parlamentares, partidos e gestores, que mesmo depois de inúmeros açoites e vergonhoso desrespeito nacional trazidos à tona com os “mensalões”, “mensalinhos”, dinheiro em peças íntimas (cuecas) e outras nem tanto (meias), nepotismo e até o Legislativo contaminado e incólume à própria justiça! Íntegro? Só se for o desejo presidencial de conseguir maior popularidade que o vizinho americano, a custa de inúmeras viagens e proclamações de ‘crescimento’, desconsiderando o ‘indigente’ desenvolvimento. Tudo aprazido em forma de pizza com original azeite virgem português!

Hábito não é necessidade; saúde é diferente de não estar doente; polícia não significa segurança; educação não é instrução; qualidade de vida não é assistencialismo; ‘cota’ não é garantia; lei não é princípio; direito não impõe mendicância e crescimento não é desenvolvimento!
Enquanto a maioria contenta-se e comisera-se com a Copa do Mundo de 2014, o Brasil cresce, mas a população não o reflete...
É necessário conjeturar a diferença entre crescimento e desenvolvimento. Enquanto o primeiro aponta para uma evolução tipicamente econômica, o segundo se volta para um olhar interdisciplinar, abrangendo todas as dimensões consideradas relevantes da sociedade.
Para sinalizar mais concretamente essa distinção, a ONU (Organização das Nações Unidas) optou pela definição de desenvolvimento como oportunidade, traduzindo, desde logo, sua face política como a mais estratégica, em vez das infra-estruturais, que, obviamente, dentro do horizonte estratégico, continuam essenciais, mas de teor puramente instrumental.
Essa abordagem intenta unicamente realçar as questões de cidadania e não simplesmente o de secundarizar o crescimento econômico, mas simplesmente, colocá-lo em seu devido lugar.
Com o mesmo approach, segue a proposta do ranking dos países em termos de desenvolvimento humano, tomando como indicadores básicos, em primeiro lugar a educação, porque é o fator mais próximo do conceito de oportunidade. Em segundo lugar, a expectativa de vida, porque oportunidade se correlaciona fortemente com quantidade e com a qualidade de vida. E, por fim, no poder de compra, porque a satisfação das necessidades materiais é sempre componente central do desenvolvimento. Qualquer que seja o indicador, todos dependem direta ou indiretamente de um artigo quase de luxo: o emprego digno, capaz de assegurar o acesso à melhor educação, o custo do plano de saúde e a aquisição de bens (nem que sejam apenas os mais básicos, como por exemplo, uma moradia).

Provavelmente, a resposta mais adequada ao questionamento inicial desta reflexão é a mensagem de que a pobreza política é mais comprometedora para as oportunidades de desenvolvimento do que a pobreza material; problema mais constrangedor é a ausência de conhecimento, que inviabiliza o surgimento de sujeitos capazes de apropriação histórica ao obstruírem a cidadania individual e coletiva.

Mudanças provêm menos de um pobre que tem fome – que acabará facilmente se contentando com qualquer “bolsa” –, do que de um “miserável” que sabe pensar.

REFLETE BRASIL!


Referência

DEMO, Pedro. Da relação educação e desenvolvimento. In:______. Educação e desenvolvimento. São Paulo: Papirus, 1999. p. 14-25.
Autor: Sonaly Beatriz Frazão Silva


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