Com ou sem crise, reclame!



No início dos anos 70, quando ainda era menino, morei numa pequena cidade no interior do Paraná. Naquela época, no Brasil, nem se falava em auto-serviço e as compras eram feitas nos chamados Secos e Molhados, armazéns que vendiam de tudo um pouco. Os balconistas atendiam o cliente – que era chamado freguês – e este podia, no máximo, apontar na prateleira o produto que queria levar.

Nessa época também, nos rincões do país, mal se conheciam marcas de produtos, principalmente as commodities. Comprava-se a granel: Um quilo de sal; três de feijão; dez de arroz; uma barra de sabão; um pacote de macarrão...

A maior rede de armazéns da região – três lojas em cidades diferentes – eram as Casas Santos e o seu proprietário, o “seu” Santos era também o maior anunciante da rádio local (Am é claro!) e o título desse artigo era o seu lema.

Eu, obviamente, não tinha a menor noção do que aquele homem dizia, mas hoje vejo com clarividência a profundidade daquele pensamento. Vivíamos a propalada crise do petróleo que assolou o mundo na década de 70 e deixou corações e mentes atordoadas com a incerteza do futuro. Mas as Casas Santos anunciavam promoções e vendiam a prazo na famosa caderneta do fiado. Essa também foi a escola de Samuel Klein, que transformou as Casas Bahia no maior e mais rentável varejo do Brasil. Não por acaso, o maior anunciante também. Mesmo agora que transferiu o controle acionário do negócio.

Bem, atravessamos novamente uma crise de proporções mundiais e esse foi o momento em que conhecemos os verdadeiros empreendedores. Ousados, preparados, com visão ampliada, fé no Brasil, na força do seu negócio e na capacidade transformadora dos seus colaboradores. Diferente daqueles que surfaram na maré do crescimento mundial para enriquecerem e agora se esconderam, travaram os investimentos, desmontaram o RH e novamente contaram com a sorte para continuarem vivos.

Não estou relativisando a crise, ao contrário, estamos longe de dizer que acabou. Mas, maior que a crise mundial provocada pelos sub-prime e pelos derivativos foi a crise de confiança e a crise que, se quisermos, a gente consegue domar e dominar. Nada nunca foi fácil no Brasil. Sempre tivemos um dos créditos mais caros e difíceis do mundo, carga tributária abusiva, mão de obra desqualificada, parco incentivo à pesquisa científica, deficiência de obras estruturais e falta de incentivo à produção. Sobrevivemos a ditadura, inflação, corrupção e tantos outros flagelos, mas crescemos. E apesar das crises, inflação, planos econômicos, Congresso Nacional, Assembléias e governantes de caráter duvidosos somos um país pujante e empreendedor.

O empresário sagaz não conjugou e nem conjuga o verbo da crise: Eu não compro, tu não vendes, ele não emprega. Ao contrário, aproveitou e continua a aproveitar a oportunidade. É na crise que os outros o percebem e pagam os dividendos quando ela acabar. E ela vai acabar. Sendo simplista; não há mal que dure para sempre, mas os efeitos nocivos da insegurança e da retração podem minar o negócio e destruir reputações.

O momento é de permanecer alerta e com as mangas arregaçadas. Fomentar a cadeia produtiva do segmento e qualificar mão de obra. Motivar e treinar os colaboradores. Encantar clientes e fazer parcerias ganha x ganha duradouras. De sair do ninho de conforto e trombetear para o mercado que você existe e que seus produtos têm qualidade. É hora de aumentar a malha de distribuição e animar representantes e distribuidores. De orquestrar comprometimento e não apenas envolvimento. De rever conceitos, valorizar prestadores de serviços, agências de propaganda, assessoria de imprensa e acreditar na força do associativismo.

O mundo mudou e o ser humano deve ser compreendido na sua plenitude. Esse é o agente transformador e é dele que vem o lucro. Botar a mão no seu rico dinheirinho, principalmente em períodos transitórios de crise, é tarefa para os destemidos. Talvez seja essa também a oportunidade de aprendermos com John D. Rockefeler e sua célebre frase: Se um dia só me restasse um único dólar, eu o investiria em publicidade. Ou na singela sabedoria do seu Santos que chamava anúncio publicitário de reclame!

Claro que para obter um bom retorno para investimentos em comunicação é preciso identificar o meio mais apropriado ao tamanho e perfil do negócio. Assim como zelo e foco na qualidade do material produzido para divulgação. Por isso sempre que possível, associe-se a parceiros comprometidos com o seu crescimento. E isso independe do tamanho do seu negócio.

Na crise, reclame. Na bonança, também!

Nelson Gonçalves é jornalista e palestrante.
www.nelsongoncalves.net

P.S.: Se você é um micro ou pequeno empresário e foi tocado pela filosofia do seu Santos, veja meu artigo Cresça e Apareça. Empresa pequena também tem vez!
Autor: Nelson Gonçalves


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