Volatilidade amplia ganhos e perdas com derivativos



VALOR ECONOMICO
EU & INVESTIMENTOS
30 DE ACOSTO DE 2007

Mercados futuros têm oscilações maiores que os à vista e podem criar oportunidades para quem consegue avaliar bem riscos.

Risco e volatilidade são conceitos mais que conhecidos dos in­vestidores, mesmo os mais modestos que aplicam em fundos conservadores. Mas, quando se fala do mercado de derivativos, essas duas palavras passam a ter um significado mais amplo, muitas vezes bem mais positivo. Ou assustador, no caso de uma crise.

Num mercado, onde amadores não tem espaço, um risco maior pode significar, na verdade, a possibilidade de ganhar muito mais. Até porque, quando se trata de derivativos, o nome do jogo é a aposta justamente no risco dos ativos. E, nesse caso, o lugar para estar posicionado é o mercado de contratos futuros. Lá, a volatilida­de tende a ser sempre maior do que a dos ativos de referência no mercado à vista. Os derivativos são contratos que derivam de um outro ativo, como uma ação, titulo do governo ou moeda.

As razões para uma volatilida­de maior são simples e lógicas. São dois os fatores básicos que costumam elevar o risco: o volu­me das operações e as variáveis envolvidas nesses tipos de con­tratos. No primeiro caso, o fenômeno dos derivativos criou um volume de negócios que, na maioria das vezes, supera o dos mercados a vista. Isso quer dizer que, geralmente, os contratos futuros de um ativo movimentam mais dinheiro que os negócios à vista com o papel. Naturalmente, esse volume superior leva a uma maior sensibilidade do papel, dado que no mercado há perspectivas positivas e negativas para um mesmo título.

Outro ponto fundamental pa­ra compreender a volatilidade dos contratos futuros são as variáveis que influenciam no seu preço. Como se trata de um negócio que será fechado agora com base num preço futuro, uma operação com derivativos sempre terá mais variáveis capazes de mudar seu preço em comparação ao ativo de referenda.

Numa operação com uma opção de uma ação (contratos que dão aos investidores o direito de comprar ou vender um ativo nu­ma data futura a um preço preestabelecido), além dos riscos do papel, pelo menos um outro fator entra na composição do preço: o da variação da taxa de juros no período transcorrido até liquidação do contrato. No caso de uma operação futura de cambio, além da taxa de juros local, costuma-se levar em conta os juros do país cuja moeda está sendo negociada.

"Por se tratar de uma operação mais complexa que a do mercado à vista, é natural que o risco potencial seja mais elevado", diz Carlos Fagundes, presidente da consultoria financeira Integral Trust. Segundo ele, é precipitado, no entanto, dizer que o mercado de derivativos é mais arriscado que outros. Até porque esse é um ambiente mui­to utilizado para fazer operações de proteção", lembra. "Mas em um momento de estresse, ele tende a ser mais volátil", diz.

Por conta dessa sensibilidade maior aos momentos de turbulência, costuma-se dizer também que é justamente no mer­cado de derivativos que as crises se manifestam primeiro. A razão é lógica: trata-se de um mercado que opera em cima de expectativas e, se uma crise é aguardada, o estresse é imediato. "Qualquer crise sempre será sentida primeiramente no mercado de de­rivativos e é lá que elas costu­mam se mostrar", afirma o consultor financeiro Ney O. Brito.

A crise com papéis hipotecários americanos de alto risco é um exemplo. Por conta do crédito fácil para aquisição de casas nos Estados Unidos, o mercado de derivativos sofreu uma inundação nos últimos anos de con­tratos referenciados em opera­ções de empréstimos imobiliários. Com o desaquecimento do setor e com as perspectivas ainda piores para o futuro próximo, diversos investidores que se alavancaram para operar nesse mer­cado sofreram perdas relevantes. O problema é que, no caso do crédito, há o risco de inadimplência. Isso toma esse mercado mais arriscado, pois a perda de um fundo que está aplicado em futuros de crédito pode ser completa, lembra Brito.

A possibilidade de alavancar patrimônio para operar contra­tos futuros, aliás, adiciona outro ingrediente de risco ao mercado de derivativos: o de contaminação das perdas de um investidor pelo mercado financeiro como um todo. Foi o que aconteceu durante as crises asiática e russa, entre 1997 e 1998, quando o fundo hedge Long Term Capital Management (LTCM)—bastante alavancado em operações futuras — perdeu mais de US$ 4 bilhões, forçando o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a intervir para não haver um efeito em cadeia. Naquele mo­mento, um grupo de bancos resolveu injetar mais de US$ 3 bilhões na carteira para evitar um colapso dos mercados.

"Esses mercados acabaram atingindo um volume muitas ve­zes maior do que os ativos de referencia e em momentos de forte estresse, isso pode ser um proble­ma", explica, Fernando Lovisotto, ' sócio da RiskOffic*e, consultoria especializada em gestão de risco.

Os executivos destacam, porem, a mudança na volatilidade dos mercados nos últimos anos, reduzida pelo avanço da economia global e formação robusta de reservas por países emergentes. As reservas acumuladas pelo Banco Central (BC) são muito importantes para proteger de variações mais bruscas, lembra Fagundes, da Integral Trust.

Valor Responde

Sou leitor da coluna "De Olho na Bolsa" e estou com algumas dúvidas. Como a renda fixa pode sofrer desvalorização? Sei que há papéis de renda fixa atrelados ao IPCA ou aos juros. Com a crise, esses indicadores subiram. Por que, então, houve perdas?

Valor: Nos fundos de renda fixa, o que há é um conjunto de títulos que inclui papéis prefixados — onde a remuneração é estabelecida no momento da aplicação — é pós-fixados. Todos tem negócios diários no mercado ca­so um fundo que comprou um papel precise do dinheiro hoje para pagar um resgate. Ai ele vai e vende o papel. O preço de mer­cado é usado para atualizar as cotas, que nada mais são que a so­ma do valor dos títulos do fundo dividido pelo numero de cotas. Se o preço dos títulos cai no mer­cado, a cota cai. Esse cálculo é feito diariamente e chamado de marcação a mercado. O que acontece quando o juro pré sobe de 10% para 11%? O preço do pa­pel prefixado que pagava 10% ao ano precisa cair para compensar o juro menor que ele oferece pa­ra quem o compra após a alta. O mesmo ocorre com o papel indexado a inflação, pois nele há uma parcela de juros fixa.

*A RiskOffice é dirigida também por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em gestão de riscos de mercado e de crédito. Rabbat também é sócio da PR&A Consultoria.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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