"Não é um espetáculo, mas não é ruim"
13 de setembro de 2007
Economistas elogiam investimentos e indústria, mas dizem que desempenho poderia ser melhor
Chistina Borges Guimarães
São Paulo
As contas nacionais trimestrais assinalaram uma nova aceleração dos investimentos e, pelo lado da oferta, mostraram relevante aquecimento da indústria no segundo trimestre. As informações foram bem vistas pelos especialistas, que apesar disso afirmam que o desempenho econômico brasileiro poderia ser ainda melhor caso os problemas de competitividade sistêmica - como elevada carga tributária, deficiências de infra-estrutura e burocracia - fossem resolvidos.
"Não é um espetáculo de crescimento, mas não é nada ruim", afirma o economista da LCA Consultores, Francisco Pessoa Faria. O professor e consultor Carlos Rocca da RiskOffice* e do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec) e o vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP), Waldir Gomes, lembram que se comparado ao padrão de crescimento brasileiro recente a taxa anualizada é significativa, mas ainda é inferior à registrada por nossos pares. "O Brasil está se aproximando da média de crescimento mundial (5,5%). mas ainda apresenta taxas inferiores às dos outros Bric (8,5%). É muito melhor que a média histórica brasileira em torno de 2% ao ano, porém poderia ser ainda melhor", diz Gomes.
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,4% no segundo trimestre do ano em relação a igual período de 2006, a maior taxa desde o segundo trimestre de 2004, quando havia registrado expansão de 7,5%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e ficaram em linha com a expectativa dos analistas do mercado. A taxa acumulada em 12 meses é de 4,8%, mas a maior parte dos economistas acredita que ainda há espaço para crescer 5% neste ano, mas que em 2008 a expansão deve ser menor.
Investimentos
"Os números de investimento mostram o exagero de se falar em inflação de demanda neste momento", destaca Pessoa Faria. O professor de economia da PUC Antônio Corrêa de Lacerda também considera que o fato de os investimentos ainda estarem crescendo acima do PIB indica uma tendência de expansão da oferta mais forte que a da demanda, amenizando os riscos de pressão inflacionária. "O crescimento econômico para 2007 já está dado entre 4,5% e 5% e a inflação não é um problema, pois existem apenas pressões pontuais. Por isso. há espaço para que a taxa básica de juros continue caindo no segundo semestre", afirma.
Já Gomes acredita que o risco inflacionário aumentou e que o Copom optará pela manutenção da Selic nas próximas reuniões. "Os investimentos estão crescendo mais que o PIB graças à queda dos juros, mas sem o equacionamento dos gastos do governo não há como reduzir a carga tributária e crescer de verdade", diz. Também para Rocca, o crescimento dos investimentos superior ao PIB não afasta a pressão da demanda e o risco inflacionário devido ao tempo de maturação destas inversões. "Hoje existem pressões de preços de entressafra e outras mais permanentes associadas ao plano internacional. O cenário ainda não está claro", avalia Rocca.
Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do Banco Real e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC (Banco Central) também aposta na mudança de postura do Copom, que deverá manter inalterada a Selic no segundo semestre. "O risco inflacionário existe e é preciso estar atento a isso. O aumento da demanda tem sido mais forte que o crescimento do PIB potencial induzido pela alta dos investimentos", conclui.
Em linha com o mercado
O economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, estimava crescimento de 5,5% no segundo trimestre frente ao mesmo período do ano anterior. "Para o ano fechado, prevemos crescimento da economia de 5%", diz Teles. A expectativa da LCA para o PIB a preços de mercado também era de alia de 5,5% em relação a igual período de 2006. Para 2007 e 2008 a estimativa da LCA é a mesma: expansão de 4,7%. Enquanto Teles vê o espaço para cortes da Selic reduzido no segundo semestre devido à força da demanda e à conseqüente preocupação com um possível hiato do produto. Pessoa Faria aposta na continuidade dos cortes.
O estrategista no BNP Paribas Alexandre Lintz previa um resultado mais forte do que o apresentado no segundo trimestre, no entanto, afirma que isso "não tirou a cara boa do PIB". "Um desempenho como esse. puxado por consumo e investimento e não mais por exportações, tende a se sustentar no longo prazo", avalia. Lintz destaca a tendência de recomposição de estoques indicada pelo crescimento do PIB pela ótica da oferta (0,8%) abaixo do apurado pelo lado da demanda (1,4%) e afirma que com inflação sob controle e investimentos em alta ainda há espaço para redução da taxa básica de juros.
De acordo com a agência de classificação de risco Moody’s a política monetária continuará cedendo a fim de permitir que a economia possa expandir-se à sua capacidade natural. Entretanto, considerando a atual turbulência financeira, poderá ser determinada uma pausa monetária ou uma moderação de abrandamento monetário no restante do ano. "Continuamos prevendo uma forte recuperação para este ano, e calculamos que o PIB registrará um crescimento de pelo menos 4,5% para o ano, em comparação com 3,7% no ano passado."
*Um dos sócios da RiskOffice é o consultor de investimentos Marcelo Rabbat, especialista em risco de crédito e de mercado. Rabbat também dirige a PR&A.
Autor: Assessoria de Imprensa Web
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