Fundos de pensão de estatais investem mais em shoppings



VALOR ECONÔMICO RISKOFFICE
FINANÇAS 25 DE SETEMBRO DE 2007

Fundações ligadas a empresas privadas, por sua vez, aproveitam a valorização e vendem seus ativos

Fundos de pensão das estatais e de empresas privadas estão com estratégias diferentes para o mer­cado de shoppings centers. Depois de um período de desinvestimento em ativos imobiliários, os grandes fundos de pensão ligados a es­tatais voltaram a demonstrar inte­resse, em comprar participações em shopping centers. Enquanto Previ, os fundos dos funcionários do Banco do Brasil e Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal, estão investindo um total de quase R$ 2,5 bilhões nesse mer­cado, os fundos privados, como o Valia, da Companhia Vale do Rio Doce, estão vendendo esse tipo de ativo, aproveitando o bom mo­mento do setor imobiliário que elevou seus preços.

Detentora de 15 shoppings centers onde tem participação direta, a Previ, o maior fundo de pensão do país, com patrimônio de R$ 117 bilhões, é hoje, o segundo maior investidor em shoppings, somando 511.069 metros quadrados, logo atrás da BR Malls, com 759,9 mil metros quadrados destes ativos.

Os investimentos da Previ em shoppings somam R$ 838 mi­lhões, representando 28,59% de seus negócios imobiliários, que chegam a R$ 2,9 bilhões. A renta­bilidade da carteira de shop­pings da fundação entre janeiro de 2003 a agosto de 2007 alcan­çou 211,6%, contra um CDI (Cer­tificado de Depósito Interbancário) de 111,87% e um índice atua­rial de 71,34%, como informou ao Valor Renato Chaves, diretor de participações da Previ.

Apesar de ter vendido integral­mente três participações — uma no shopping Riomar, em Aracaju (SE), outra no Iguatemi, no Rio e no Neumarkt, de Blumenau (SC) —, a Previ não tem como estratégia sair do setor. A fundação dos fun­cionários do BB está apoiando vá­rios processos de revitalização de alguns destes estabelecimentos comerciais, como Barra Shopping (RJ), Morumbi (SP), Ponteio lar (BH-MGX Parkshopping (DF) e Cu­ritiba, o que significa na prática um aumento do volume de investimentos no setor.

"Não estamos avaliando novos empreendimentos pois privilegiamos a consolidação dos atuais. Mas, rentabilidade observada neste negócio confirma a qualidade da nossa carteira", disse o diretor da Previ.

A funcef, por sua vez, recentemente retomou os investimentos e já está em negociação com shop­pings em Cabo Frio (RJ), Macapá e no interior de São Paulo. Um inves­timento em Brasília já está pratica­mente fechado, em fase de "due diligence", diz o diretor de investimentos da entidade, Jorge Arraes.

Ele observa que ainda existe um espaço para aumentar a car­teira imobiliária e que se trata de um ótimo investimento. "Acredi­tamos no segmento. Além da rentabilidade, temos o patrimô­nio", afirma, retaliando a im­portância de o fundo participar diretamente na gestão dos shop­pings.

De fato, os ganhos têm sido ex­pressivos. No ano passado, a rentabilidade atrelada a shopping centers foi de 22% e já superou 8% nos primeiros sete meses deste ano. A meta atuarial do fundo é de 6% ao ano mais a variação do Índice Nacional de Preços ao consumidor (INPC).

O fundo de pensão dos funcio­nários da CEF administra atual­mente participação em 14 shop­pings, dentre eles o Morumbi e o Paulista, em São Paulo, além de posições em outras cidades, como Belém, no Pará. A carteira da entida­de está próxima a R$ 1,6 bilhão, o que corresponde a cerca de 65% do patrimônio. "Queremos fechar o ano entre R$ 1,8 bilhão e R$ 1,9 bilhão”, diz Arraes.

Em 2004 a direção da Funcef preparou um plano de investi­mentos para reavaliar os ativos imobiliários e se desfazer dos que não apresentavam bons re­tornos. Das 19 participações que a fundação tinha, cinco foram vendidas, seja por apresentar rentabilidade baixa ou por impossibilidade de atuar direta­mente na gestão. "Às vezes é im­possível uma convergência com os sócios”, explica Arraes.

A fundação dos funcionários da Vale do Rio Doce, Valia, ven­deu as participações que possuía em três shopping centers. O pre­sidente da Associação dos Fundos de Penção de Empresas Pri­vadas (Apep), Paulo Tolentino, confirma esse desinvestimento nas entidades ligadas a empre­sas privadas. Ele citou alguns ne­gócios feitos recentemente, co­mo a venda de uma participação em um grande shopping no interior de São Paulo. "A procura dos investidores por participa­ção em shopping está muito grande", diz.

A Petros, fundo de pensão da Petrobrás, com um patrimônio de R$ 34,1 bilhões, tem investi­mento direto em quatro shop­pings — Iguatemi de Fortaleza (CE), Shopping Vitória (ES), Shopping Del Rey (BH-MG), e Market Place Shopping Center (SP) — e adquiriu uma fatia do ABC Plaza Shopping, em Santo André (SP), através de Fundo Imobiliário. A fundação não dei­xou de investir neste segmento, mas optou por fazê-lo através de instrumentos financeiros, como os fundos de investimento imo­biliário ou os certificados de recebíveis imobiliários (CRIS).

"Temos dado preferência a es­tes instrumentos porque você investe num ativo imobiliário mas não está na gestão direta. Tem porta de saída clara no mé­dio e longo prazo", disse Wagner Pinheiro, presidente da Petros. Segundo ele, a Petros não dispõe de equipe suficiente para acom­panhar a gestão cotidiana de um shopping.

Há pelo menos cinco anos os fundos vêm retirando os investi­mentos em ativos imobiliários. Grande parte desse movimento se deve à regulamentação que limi­tou esse tipo de investimento a apenas 8% da carteira, além de im­por restrições a participações em terrenos e incorporações.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fecha­das de Previdência Complementar (Abrapp), a participação des­ses ativos está em 3%, cerca de R$ 11,3 bilhões.

Além disso, a criação dos pla­nos de contribuição definida (que exigem precificação cons­tante dos ativos devido a possibi­lidade de migração dos partici­pantes) forçou a migração de al­guns fundos para ativos mais líquidos, explica o consultor da RiskOffice*, Fernando Lovisotto.

Segundo ele, de maneira geral esse desinvestimento continua. Além dessas obrigações, os fundos têm aproveitado o bom momento do setor de imóveis, que elevou o valor dos ativos, principalmente de shopping centers, para vender e embolsar recursos vultosos. “Muitos preferem vender a participação e aumentar a parcela imobiliária via compra de ações de empresas do setor ou títulos securitizados", diz o consultor.

Para Chaves, da Previ, o que falta no setor de shopping cen­ters é uma legislação semelhan­te à Lei das S/A. Ele vem traba­lhando na implementação de normas de governança corpora­tiva no setor de investimentos imobiliários, onde se enqua­dram os shoppings.

O maior problema nesta área de shoppings, diz Chaves, é a so­negação fiscal pois "ela mexe com a rentabilidade do investi­dor". Já existe o conceito de au­ditoria itinerante nas lojas, mas é grande a necessidade de me­lhorar os mecanismos de presta­ção de contas destes ativos. "O ideal é ter um padrão de condu­ta neste mercado."

*Um dos sócios da RiskOffice é Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de crédito e de mercado. Rabbat é diretor também da PR&A Consultoria.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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