O retrato dos professores no Orkut
chamada XYWZ PROFESSOR, que a princípio achei
que tratasse do orgulho de ser professor,
e ver apenas reclamação.”
O texto da epígrafe é parte do desabafo de uma professora no fórum “Não acredito em educação”, de uma das maiores comunidades de professores no Orkut (90.722 membros em 04/02/2010). Em resposta, um professor polêmico retrucou que “cada um tem a liberdade de criticar, exaltar e reclamar do que quiser, inclusive da profissão de professor”, e que até onde ele sabe, “não tem nada de sagrada”. E atacou: “Então não venha com o velho discurso que soa como condenação aos hereges”.
Se quisermos conhecer o que se passa pela cabeça de grande parte dos professores brasileiros, basta acessar uma comunidade de professores como essa e ler o bate-boca que por ali corre solto, as agressividades aos colegas que discordam, os xingamentos – inclusive por parte de moderadores -, as ironias, tudo o que não se espera de quem está cuidando de nossos filhos nas salas de aula de nossas escolas, especialmente públicas. Muitos deles se escondem atrás de pseudônimos e não têm coragem de mostrar a cara na foto. A ortografia nem merece comentários. Lá, quem toca na ferida dos professores é expulso, banido da comunidade de uma vez por todas.
Em comunidades como essa, alguns professores confundem o ódio que sentem pelos governantes e pedagogos com a raiva que têm dos alunos que infernizam suas vidas nas salas de aula. E sabemos que uma coisa nada tem a ver com a outra.
Outra coisa interessante é que os tópicos mais comentados pouco ou nada têm de construtivos, são mais perguntinhas bobas, tipo “Você é professor de que???” (assim mesmo, sem acento) e MSN, blogs e twitter de professores. Das enquetes, as mais visitadas e votadas abordam os temas “No trabalho o que te irrita por ser falta de educação???”, “Qual é a formação dos professores dessa comunidade?”, “Qual (is) materia (s) você leciona?” e “De qual estado você é?”. Muito interessante!
Um professor até comentou que estava há pouco tempo na comunidade, mas já havia notado que professores com politizados são poucos por lá, e que boa parte prefere falar só abobrinhas. Realmente. Quando não são abobrinhas, brincadeirinhas infantis, são desabafos de quem odeia a profissão e não vê a hora de se aposentar ou arrumar outra colocação ou outro emprego. Não sei bem o que ele quis dizer com “politizados”, nem qual o conceito que ele tem disso. Mas postou uma verdade.
Pergunto eu: o que podem fazer noventa mil professores? Se bem que pelo menos uns 20% ali nem o sejam, mas mesmo assim o número ainda é bem grande. Ocorre que a maioria nem participas dos debates ou das enquetes. Apenas fazem número na comunidade. É uma pena. Imaginem essa tropa toda trabalhando, agindo em prol da educação. O que não poderiam já terem realizado.
Mas não é bem isso que passa pelas cabecinhas de uma quantidade bastante significativa desses professores, a maioria de um dos estados que oferece uma educação pública das piores qualidades. Se é que podemos dizer qualidade. E para completar, na descrição da comunidade tiveram a ousadia de colocarem um verso de minha conterrânea Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Convido meus leitores, sejam ligados à educação ou não, para fazerem uma visitinha a comunidades de professores como essa. E boa leitura.
Autor: Prof. Maurício Apolinário
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