Vasto mar de álcool



Socorro!
Estou me afogando
Neste vasto mar de álcool
Que me cerca!
Este mar implacável de etanol
Da cerveja, da cachaça, do vinho, do whisky
Cheio de barcos, de pessoas amantes do mar
Não tem ninguém para me ouvir
Para me ver sofrer
Estou sem fôlego
Sem forças
Sem ânimo
Sem esperança
Sem vida!
Não aguento mais viver
Cercado de álcool!

Estou cansado de nadar
Exausto
Já nadei por quilômetros ao meu redor
Por anos e anos
Por entre os tantos barcos de gente que gosta desse mar
(e eu não gosto, nunca gostei)
E não encontrei sequer um chão onde pisar
E descansar
Neste mar alcoólico.

Estou precisando pisar
Num chão
Numa terra emersa
Que me salve de estar cercado de álcool por todos os lados
Estou precisando que alguém
Me salve
Porque não tenho mais força para procurar uma terra
Onde eu possa pisar
E viver
(tranquilo).

Há anos estou vagando neste mar
Nadando em busca de uma terra firme
E agora estou cansado
Estou exausto
Não tenho forças mais para procurar
Numa área enorme
Não tenho mais onde procurar!

Vejo ao meu redor
Todo mundo mergulha, se diverte
Pula de seus barcos
E tchibum no álcool
Todo mundo adora este mar
Este mar é sagrado pra todos ao meu redor
Enquanto eu me afogo
E lamento estar sozinho
Sem ninguém me ouvindo
Porque está todo mundo
Mergulhando, doidão, se divertindo.

Aliás, o que não falta ao meu redor
É barco
Desde barcos pequenos
Até iates chiques
Variados nomes esses barcos têm:
Barco do Matuto, Barco do Galego,
Barco do Zé, Barco da Boa,
Barco do Seu Pedro, Barco Recanto do Papudinho
Barco Portal do Sol, Barco Paidégua
Barco do Cavanhaque, Barco dos Amigos...
Barcos que vêm ao mar de álcool
Trazer a galera pra tomar banho
Pra se esbaldar no álcool
Eu nunca gostei desses barcos
Andar de barco nunca foi meu hobby social
Ao contrário de todo mundo ao meu redor
Que o que mais gosta de fazer é se reunir com os amigos nos barcos
E vir pro mar tomar banho
A cultura que me cerca é a cultura do barco
É a cultura adoradora do mar alcoólico
Que cultua o Poseidon Bêbado
Mas eu não creio no deus deste mar
Não o cultuo
E por isso até hoje venho nadando neste mar
À procura de terra
Mas nunca acho
Só o que acho são barcos e muita gente curtindo o mar
Surda ao meu afogamento.

Meu sonho hoje é encontrar terra firme
Nem que seja uma ilha relativamente pequena
Onde eu encontre pessoas que não gostam dos barcos
Que navegam por aqui
Nem gostem de nadar no mar de álcool
Que deem valor aos mares de água
Não de álcool
Mas acho que nesta cidade de barcos que se formou ao meu redor
Não vou mais conseguir encontrar
Nem mesmo um assoalho subalcoólico
Onde pisar e descansar.

Aqui estou
Cercado por muitos barcos
Por muitas pessoas a se divertir, a nadar no álcool
Eu, desejoso de uma terra firme
Creio que fracassei em minha procura
Mas ainda está me restando um pouco de força
Para emitir ao universo este apelo
Que estou falando
E para gritar mais uma vez:
Alguém me ajude, me tire deste mar, do meio de tantos barcos ébrios!
Não estou aguentando
Eu, único sóbrio neste mar
Estou me afogando!!!
Autor: Robson Fernando


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