EU ME DEMITO!



Eu me demito!

Hoje por volta das 19 horas e 30 minutos, fui destinado a efetuar algumas demissões em meu quadro de funcionários, executar tal tarefa não é nada fácil, uma coisa é você ver um reality show, outra é você mexer com a vida das pessoas.
Eu me recordo uma vez, quando eu era um pouco mais jovem, carregando comigo a leveza da inexperiência e uma maturidade nada apurada, fui desligado de uma empresa a qual eu trabalhava. Ao chegar em casa minha garganta parecia estar soterrada com um caminhão de areia, a voz não saia por nada, sentei na cama e disse a minha esposa: “fui demitido!” começando a chorar, pois estava recém casado. Eu me lembro que minha esposa apenas pôs as mãos sobre meus ombros e vale abrir um parentes para o fato de como as mulheres são mais fortes que nós homens, como elas encaram certos problemas com uma superioridade notória.
A demissão traz uma frustração tamanha e me lembro que desde que assumi um cargo de gestão, descobri que a frustração possui, nesta hora, mão dupla, pois a primeira vez que desliguei uma pessoa, cheguei em casa quase que com o mesmo ar, do que da primeira vez que fui demitido!
Hoje ao efetuar estas demissões, me bateu um sentimento de tristeza, um vazio, uma forma de sentir que me fez mal, comecei a me interrogar sobre os reais motivos de cada uma, o porque não consegui restaurar aqueles funcionários. Pensei, pensei e confesso ter segurado bem no canto do olho, certa lágrima que insistia em querer tocar meu rosto.
É bem verdade que aqueles funcionários, não estavam no perfil da empresa e que não fora eu quem os contratara, mas fiquei me imaginando no lugar deles, o que fazer, para onde ir, como entrar em casa e dizer a família! Percebi que minha posição também não era nada fácil, pois vi ali diante dos meus olhos que por mais que sejamos treinados, recebamos orientações de profissionais de RH, líderes, etc, ainda assim somos seres humanos, nehnum treinamento é capaz de trocar um coração de carne por um de pedra, podemos nos tornar um pouco duros demais, mas não deixamos de ser homens e sem misturar sentimentalismo com profissionalismo, numa demissão, os dois perdem, empregado e empregador, sai um para cada lado sem saber o que fazer, um não sabe como continuar, o outro como prosseguir!
Seria muito bom se soubéssemos todos, a hora de parar, a hora em que não produzimos mais, a hora de sair, mas infelizmente, continuamos a nos basear dia após dia no que achamos que somos e não no que dizem que somos, a minha mulher por exemplo vive me dizendo que sou de um jeito e eu, eu sempre dizendo que ela é de outro, não seria o segredo da felicidade se vivêssemos uma para o outro na perspectiva do que o outro vê e acha!
Talvez nos magoemos tanto por querer viver a vida sob a visão do próprio eu, sendo levados a sofrer traumas, por decisões dos outros, pois se assim fosse, não seríamos desligados, nos desligaríamos, não perderíamos nada, abriríamos mão, para poder enche-la novamente, seriamos livres dos outro, podendo escolher quando e como ser mais ou menos útil!
Desta forma, teríamos menos marcas e mais frutos, pois seríamos capazes de gritar em bom e alto som: “ eu me demito!” com toda a certeza de um futuro melhor, pois a frase: “ você está demitido!” não gera apenas medo e desespero, gera a incerteza de como seria se isso não acontecesse neste momento, melhor ou pior, bom ou ruim, cresceria ou decepcionaria mais na frente, daria certo ou errado! Se todos nós saíssemos de uma empresa por livre e espontânea vontade, poderíamos circular livres no mercado das emoções, com uma única e justa causa, o crescimento moral e profissional!

LUCIANO PIERRE
Autor: LUCIANO PIERRE


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