Abortados na fé



O aborto – sabemos – é uma questão bastante complexa e que exige para a sua prevenção uma mínima consciência. Com a mente estimulada pela liberalidade dos últimos tempos, tudo se nos parece permitido. Será?
O que sabemos é que o indivíduo usa do seu livre arbítrio como bem lhe apraz. Havendo leis ou não, ele concluirá seus projetos segundo suas convicções. Nem sempre uma lei é capaz de prover alguma mudança nesse sentido...
Há quem atribua ao Estado o poder de evitar tal evento, caso que merece uma mínima observação: Se a questão do aborto se resolvesse no âmbito institucional, seria o Estado o responsável popr formar essa consciência de valor? Seria a responsabilidade do governo conscientizar e levar à reflexão os indivíduos sobre o real valor da vida, do amor ao próximo e da família?
O leitor percebe aqui uma atribuição ao Estado de competência doutrinária?
Não seria da igreja, em qualquer denominação, o julgamento desse valor?
A igreja só comprova desse modo, ao que parece, não formar mais, eficientemente, indivíduos moldados à sua fé e, por isso, imprime sobre outrem a responsabilidade e a culpa de seu fracasso na dimensão da formação, na sua catequese e evangelização.
Em recente embate ideológico e religioso, a CNBB se exaltou, proclamando ser o governo o novo Herodes. Sugere, no entanto, ver bem o cisco no olho do que gere as leis, porém não reflete as imensas traves inscrustradas nas pálpebras da própria instituição.
Ainda há pouco omitiam-se anos de exploração infantil dentro da Santa Madre Igreja. O que os padres fazem parece há muito estar acima da lei e de toda a razão.
Onde estão os Direitos Humanos quando o assunto envolve essa instituição? O que fazem? Eis aí um delito (o da omissão) que merece menção. A imprensa tem sido piedosa com esses. Por que não gritam contra os "HERODES" da própria congregação? Para quem valem mesmo as leis?
São os Farizeus desse tempo os que ungem as palavras no ofício da demagogia eclesial. Não é preciso recorrer à sua hermenêutica para ver quão controvertida é a causa por que lutam. Algumas instituições, inclui-se aqui todas as que legislam e executam as leis desse país, defendem com mais ardor benefícios a própria causa. A igreja não diferentemente quer distribuição dos bens alheios, contudo pergunto: e quanto aos seus?
"Roubar é pecado", incentivar a invasão de propriedades privadas não?
Há até os que celebrem missas pré-invasão, um ritual de guerra, não é mesmo?
A igreja protagoniza em nossos tempos a relatividade de suas próprias leis e quer, inexoravelmente, julgar ao rigor de suas próprias incoerências aquele que está constituído em poder. E diz o versículo: “toda a autoridade é escolhida por Deus”.
A instituição quer, como parece, dirimir-se de sua responsabilidade nas práticas funestas de seus fiéis e atenuar a daquele que foi capaz de ir a termo em sua façanha lúgubre. Antes de abortar, houve alguém, uma família, um evangelista, uma instituição sem preparo para orientá-los quanto ao valor da vida que se via ameaçada. Quase todo o aborto é praticado por um indivíduo batizado nas igrejas cristãs... Há que se lamentar muito ser esta uma verdade comprovável.
Andam, porém, a culpar as leis, os juízes, o governo. Pergunto: Culpam o que pratica o aborto? Funciona para esses tal lei? De que tem servido a lei ao ignorante? Ao infiel? Ao maior responsável por números e estatísticas cada vez maiores da rejeição a vida do infante? Enfim, de quem é a consciência? Quem não a formou? É o governo o novo Herodes, meu caro?
Leis nem sempre são relativas... Relativos parecem ser sempre os casos. Culpar o mundo quando a si mesma nunca a Igreja tem culpado. A família? A TV? O senhor padre? Absolvidos pela massa acrítica e subserviente.
Felizmente, sou um que não defende a prática do aborto, mas sei, como todos, onde ele pode ser evitado. Não será em nenhuma lei. Há muitos que tanto crêem nelas (nas leis) que vivem armados.
Contem nas prisões o número de fiéis seguidores do Homem de Nazaré, devotos da senhora de Aparecida. Julgarão também o aborto um crime, uma covardia, mesmo tendo sangue nas próprias mãos.
A responsabilidade será mesmo fundamentalmente do Estado? Não me comprazo em defendê-lo, mas eu detesto ideias mal fundamentadas.
Vida boa para o ladrão. Os Direitos humanos me perdoem, mas andam mais ocupados em proteger os direitos do bandido.
Talvez falte mais experiência na evangelização com resultados. Líderes mais que leis para inspirar-nos os arbítrios, as escolhas da vida.
Fossem homens de fé pensariam em agir em seus domínios primeiro. Que tal a pastoral contra o aborto? Por que não visitar, conscientizar, dar exemplo, testemunhar, – quem sabe um conselho?– acredito que a mudança seria real. Boa vontade, sr. Bispo... Uma lei não muda ninguém por dentro. Tanto são as leis e quantas já são as transgressões? Para cada lei criada, mais presídeos, mais detentos, mais condenados. Os que estão aí já não dão mais conta.
Se é para condenar a loucura deste mundo “Alienista”, ensaiaremos já em vida a OBRA de Machado, e desfilaremos todos rumo ao hospício. Ficará alguém de fora? Talvez o maior louco – digo daquele que começou a fazer o mal juízo dos outros.
Cobrem o dízimo, contem o dinheiro, mas não se esqueçam de contar as ovelhas primeiro.– é o que penso. Que tal elevar a estima e dar mais valor a vida de cada ovelha, que tal cuidar da família.
O sentimento do aborto está na alma de muitas crianças... Quantos chegaram neste mundo nas vias de muita tristeza, do despreparo conjugal, da extrema pobreza, e até mesmo da rejeição maternal?
Quantas não foram recebidas no frio da incerteza, no não querer, nasceram assim de surpresa, contrárias aos planos familiares, como ameaças a felicidade do casa?
"Vai atrapalhar meus estudos!"
"Vai dificultar no meu trabalho!"
"Eu não queria casar agora!"
"Porque isso tinha que acontecer comigo?"
As leis existem há muito e não evitaram tamanho infanticídio no mundo.
Herodes é também essa igreja que não se percebe como notícia constante de abusos.
Muitos morrem na fé, porque tiveram na Eclésia um perfil mais pérfido do que de um assassino.
O que será pior, seu Bispo, perder a vida ou perder a fé?
Que tristeza! Quantas vezes foi a igreja, em qualquer denominação, uma instituição para o aborto?
Sim, porque aquele que abortou um dia, antes, foi abortado em sua fé, com certeza.
A igreja falhou junto a seus batizados e, agora, espera que o Estado lhes impeça os arbítrios de sua fé.
Autor: Bruno Resende Ramos


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