Eleições: não existe almoço grátis!



Autores: Marçal Rogério Rizzo e Léo Huber(*).

Desde crianças nossos pais ensinam que não podemos mentir. Frases como “que coisa feia contar mentira” ou “não minta pra mim” estão presentes em nosso quotidiano. Sabemos que temos que buscar a verdade, ainda que não exista uma só. Todo homem deve produzi-lá no seu íntimo senão ele é um arruinado. Mas o que é essa tal verdade? A nossa verdade pode não ser a verdade de outros.

A verdade deriva de valores, de berço, de raça, de crença, enfim, a verdade á uma variante. Agora, não podemos discordar de um bordão que existe em economia que nos parece refletir não só a verdade, mas também o conhecimento adquirido por gerações: “em economia não existe almoço grátis.

Com certeza alguém pagará a conta”. Tal verdade, ou conhecimento adquirido na dura vivência dos dias, deve também ser aplicado para os períodos eleitorais, pois as contribuições (poderiam ser o tal almoço?) de campanha começam a surgir do nada. Há grandes farras de gastança em campanha, que sabemos claramente que não são custeadas pelos candidatos, pois, seus recursos não permitem tais investimentos e, também ensina o bom senso da economia e patrimônio familiar, é impróprio colocar todos os seus recursos pessoais em campanha política. Portanto, o que vemos, é uma tentativa de o fazer uma linha fordista (produção em série) de candidatos, que utilizando-se do capital (de quem? eis a questão!) para dar volume a campanha. Vemos cabos eleitorais uniformizados, baners, faixas, bandeiras e painéis ambulantes pelas esquinas da cidade, sustentados por cabos eleitorais pagos, obrigados a enfrentar as tardes mais quentes deste “calor de inverno” além de muros pintados, carros adesivados, muito som e churrascadas regadas à cerveja e, dizem algumas “bocas muito falantes”, algumas festas muitos especiais, com um público seleto, para arrecadar fundos. Fica a pergunta que não quer se calar: seria apenas abnegação, entusiasmo, o tal apregoado amor pela cidade, ou haveria também esperanças de um retorno do investimento feito?

Mas, e a democracia? Seria a vontade popular apenas mais um objeto de manipulação, confundindo a vontade da maioria, embaraçando-a à dos grupos dominantes? A mercantilização eleitoral, não é apenas uma deficiência inerente à democracia, mas algo que pode ser combatido com medidas adequadas. (O financiamento público a campanhas eleitorais e a limitação de uso de recursos particulares ou empresariais, não seria uma solução para a prevalência da vontade popular?) Ulrich Beck um professor alemão, Doutor de Sociologia em Munique questiona a existência de democracia para os menos favorecidos materialmente. Para ele, apenas as pessoas que têm uma estabilidade material é que se tornam realmente cidadãos e se apropriam da democracia, ou seja, sem segurança material, não existe a liberdade política e a democracia é corrompida no que ela tem de melhor: o respeito à vontade da maioria.

E as campanhas eleitorais, tal como hoje estão organizadas, mais do que uma apresentação para conhecimento do candidato e de suas propostas, são uma verdadeira armadilha na busca da manipulação da vontade do eleitor, levando-o a aderir a candidaturas que nada ou muito pouco tem a ver com seus interesses e esperanças.

A origem do dinheiro de campanha eleitoral é cada vez mais investigada e deve realmente despertar todo o interesse do eleitor, pois ali poderão estar embutidos os verdadeiros interesses, projetos e compromissos eleitorais do candidato. E o momento próprio para fazer tal discernimento é justamente durante a campanha eleitoral, pois após a eleição, de pouco valerão arrependimentos e denúncias. Uma vez eleito, o candidato pagará a conta com seus financiadores de campanha. O pagamento será com dinheiro público, ou melhor, o meu, o teu, o nosso perseguido e escasso dinheirinho. Tenha certeza, caro leitor, ninguém faz nada de graça! O almoço está sendo servido: rico, farto, cheio de grandes promessas e bajulações. Para quem ficará a conta?

Este é o momento próprio para refletir. Devemos ver o que é nosso município, nossa cidade, os interesses que movem cada grupo, que papeis exerceram e que pretendem desem- penhar na vida pública local e em benefício ou detrimento de quem. Sabemos que em política a lógica e a verdade e a vontade popular são objetos perseguidos, não para preservá-las, mas para serem deturpadas em benefício de alguém. Ao eleitor cabe resgata-las e protegê-las.

Artigo elaborado em parceria com Leo Huber: Historiador, Professor Universitário, Especialista em História do Brasil e Mestre em História Social pelo Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Observação: artigo publucado no Jornal Diário da Região, São José do Rio Preto (SP), p.3 do primeiro caderno, edição de 09 de setembro de 2004.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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