Deus Existe?



Afinal, quando todos discordam entre si, ninguém tem razão. Confúcio


Razão vem do latim, ratio, onis, segundo os dicionários, é a faculdade do raciocínio.

Na antiga Grécia, o termo correspondente era “logos” e estava vinculado à natureza e sua existência. Deve-se a Platão dividi-la em razão intuitiva (noesis), discursiva e conclusiva. Pela ordem: razão imediata; razão do conhecimento através de uma série de raciocínios; e a terceira, aquela que não permite dúvida ante as premissas que a imponham.
O racional, portanto é relativo à razão.

Já na retórica clássica encontraremos a razão demonstrativa que expõe as evidências; a razão argumentativa que usa o raciocínio lógico como proposta de discussão e a razão final, como indica o nome, que enfeixa os conceitos usados como argumento e leva a uma conclusão.

Todavia, para quem pensa que este termo teve sempre tal conotação, e sua origem latina é a mesma, pego anotações do meu pai (1) e transcrevo algumas delas:

Horácio: Ratio – o raciocínio; e mais: Mala ratione facere rem – enriquecer por modo ilícito. Lucrécio: Navigii ratio – a arte de navegar.

Cícero: Mea est sic ratio – esta é minha opinião; Ratio carceris – motivo dos encarcerados; Pro ratione fructuum – por motivo dos frutos...

Cada qual que conclua à sua moda. Contudo, no presente, somos levados a usar cada termo com seu sentido atual e deixar para os devaneios o que possa ter sido seu significado em tempos antanhos. Atualmente, ter razão é estar certo. É um conceito da Lógica.

Relativamente a Deus e à razão, muitas indagações são feitas; a exemplo: por que Deus fez o mundo? (Qual a razão de tê-lo feito). Que razão nos levaria a concluir pela existência do “Criador”? Há razão em admitir a existência de um Deus único, responsável por tudo? Ele se enquadra na lei de causa e efeito?
E por aí afora.

O nosso objetivo, porém, é analisar a figura de Deus dentro da razão, no sentido lógico, afinal, os embates entre as religiões, as linhas filosóficas e as verdades científicas criam um choque terrível, como vimos anteriormente, nos comentários já publicados.

Até o momento, pelo que se pôde ver, existe um enorme conflito entre os que negam e os que afirmam que Deus exista dentro dos puros conceitos religiosos e tudo indica que as discussões se resumem de acordo com os critérios facciosos de cada expositor.

Quem revolucionou os conceitos a respeito de Deus – para os que queiram, também, ler as entrelinhas – foi um mestre francês, discípulo dileto de Pestalozzi e que se tornou o responsável pela introdução em seu país pela metodologia de ensino do grande didata suíço. Chamava-se Léon Hippolyte Denizard Rivail (1804 – 1869), mas, ao ser convidado por Forrestier, um pesquisador dos fenômenos transcendentais da vida após a morte, a estudar tais ocorrências hoje conhecidas como metanímicas ou mediúnicas – de manifestação do morto –, dedicou-se ao seu estudo codificando uma nova doutrina filosófica de conclusões científicas, como ele próprio define, para correlacionar a existência do Espírito fora do corpo com sua vida encarnatória.

Para não misturar seu estudo pedagógico com suas pesquisas consideradas transcendentais, ele preferiu usar um pseudônimo – Allan Kardec – para expor seu novo trabalho. A essa doutrina ele criou o neologismo em francês de Spiritisme para denominá-la, todavia, no Brasil, ela tomou dois ramos distintos, um deles também conhecido como Roustaingismo, baseia-se na obra “Os Quatro Evangelhos” ou “Espiritismo Cristão” de Jean Baptiste Roustaing e segue a linha docetista de uma antiga igreja otomana do século IV e que fora condenada por bula papal já em velhos tempos.

Como tal, este segmento admite que Jesus não tenha tido corpo carnal e sim, “fluídico”, assim denominado erroneamente, já que fluido é material também. Diverge, em muitas coisas de Kardec e, aboliu da sua obra o principal livro “O Que é o Espiritismo”, considerando apenas cinco obras do codificador às quais denomina – também erroneamente – de “Pentateuco espírita”; assim mesmo, em sua tradução para o nosso idioma modifica muito do seu conteúdo, chegando a adulterar capítulos, no caso do livro “A Gênese” a fim de eliminar os textos de Kardec conflitantes com o aludido docetismo adotado. E um desses capítulos é o referente a Deus.

A segunda corrente, dos “cristãos espíritas” – também chamada de Emmanuelismo –, baseia-se principalmente em obras mediúnicas de Entidades espirituais que, em sua vida terrena, foram ligadas à Igreja e tem como fundamento principal os Evangelhos do Novo Testamento, os quais também os interpreta sem levar em conta as críticas de Kardec feitas em seu livro relativo aos mesmos.

Seus seguidores quase nunca se preocupam com as obras da codificação, estudando quase que exclusivamente os trabalhos mediúnicos destas Entidades.

Há ainda uma série de seitas mediúnicas, conhecidas como “terreiro” que se dizem espíritas e que servem para os detratores apontarem o aludido Espiritismo como coisa do “demo”. Nenhuma delas, porém, sequer estuda a codificação.

A única doutrina que pratica o mediunismo e merece todo respeito, sem se dizer espírita é a Umbanda, fiel a suas origens afro, embora muitos de seus adeptos – e mais do que os que se dizem espíritas – estudem Kardec.

O que ora iremos analisar, das palavras de Kardec, por vezes entrará em choque com ambas as correntes acima citadas porque foge inteiramente aos seus conceitos evangélicos, contrariando, em parte, muitas de suas posições, já que as mesmas “adoram” Deus à moda cristã e têm Jesus como Guia supremo do nosso planeta.

A fim de evitar conflitos, usaremos as obras de Kardec no seu original francês, publicadas em 1868 – Ed. Lacroix – que, segundo Dr. Silvino Canuto Abreu, foram as últimas edições revista pelo mestre lionês. Com destaque para o cap. I de “O Livro do Espíritos” (6ª ed.) e cap. II de “A Gênese” (3ª ed.), além de tópicos do seu principal livro “O Que é o Espiritismo” em sua primeira edição original.

Como todos sabem, os livros de Kardec foram inspirados em perguntas por ele feitas aos Espíritos manifestantes e à hegemonia de respostas dadas por diversos deles, para que pudesse observar uma certa universalidade de opiniões. Vejam a sutileza de indagação e a resposta dada, logo na primeira pergunta que Kardec fez em O Livro dos Espíritos:

P. – Que é Deus?

Ora, isto afasta por completo o conceito de Deus Ente espiritual como um ser humano (à nossa imagem e semelhança), pois, neste caso, a pergunta seria obrigatoriamente “Quem é Deus?” Já contrariando a Bíblia, em ambos os Testamentos e as correntes doutrinarias brasileiras que O têm como um Espírito.

A resposta ainda é mais contundente: – Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

Por partes: ser “causa primária” não é ser Criador; o cigarro é, em certas pessoas, a causa primária do câncer pulmonar, mas, não é o criador do tumor maligno. E mais: também defini-Lo como “inteligência superior a tudo” não significa que ele tenha criado nada. Além disso, vamos ver ainda Kardec definindo Deus como “infinito”, portanto, não pode ser contido por um espaço restrito como o cósmico nem nele se manifestar, principalmente porque este se expande. Já, poder-se-ia dizer que Deus contenha o Universo; não se garante tal hipótese, mas, sendo “infinito”, nele está tudo o que possa ser finito e, como tal, Ele é que não cabe no restrito espaço cósmico finito. E em expansão.

Matematicamente, o limite infinito das coisas é o começo de tudo que não tenha origem, portanto, este conceito se enquadra nas Ciências exatas. É também o fim de tudo em condições idênticas. A circunferência é infinita nos dois sentidos: em que ponto ela começaria e em qual terminaria? Pode-se ficar rodando sobre ela infinitamente sem saber onde está seu começo nem onde será seu fim.

Por outro lado, se o Universo, como conseqüência de alguma ação existe, a ele corresponderá uma causa, para que seja dela o efeito ou conseqüência. Ora, sem dúvida: a causa da existência do Universo tem que ser “suprema” – superior a tudo –, primária e compatível com ele; não apenas, ter a configuração restrita dos habitantes de um ínfimo planeta que nada representa perante sua grandeza.

Deus, assim, jamais poderia ser um “Espírito” como os humanos; e Kardec nos mostra, em seus conceitos, que Ele pode ter predicados correspondentes àquilo que sirva de definição para as coisas, todavia, sem jamais possuir caracteres humanos. É assim que no aludido capítulo II de “A Gênese” Kardec tenta descrever a figura de Deus diferenciando-a dos conceitos bíblicos adotados pelos evangélicos, inclusive os que se dizem espíritas em nosso país.

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http://ensinoespirita.blogspot.com/2010/02/deus-existe.html
Autor: Francisco Amado


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