O Leitor do Século XXI



O Leitor do Século XXI

A educação nos dias atuais pode ser considerada como uma prática da liberdade. “Que pensar de uma educação que admite o escândalo de um povo marginalizado e imerso na passividade? O discurso oco torna-se um verbalismo vazio sobre a arte de educar”. O leitor no século vinte representa o caminho para a dinamicidade cultural, a destinação para um futuro brilhante e com características belicosas cuja vertente será um futuro promissor, diamantizado para a sabedoria com faustos construtivos e delirantes. O leitor deste século é rigoroso, audacioso e sabe o que quer. Não são obras mesquinhas e deletérias, que vão imantar o ego de um grande leitor. Baseia-se num guia interativo de qualidade pessoal. O bom leitor não suporta palavras chulas, ocas e permissivas. Fogem do seu caráter pedagógico e ampliam os caminhos que entranham no verbalismo e no vazio do pensamento.


O que dizer do formalismo, da mentira, da incompetência, do beletrismo, do cinismo, da descrença tão imersa nas camadas elitizadas que estão fora e dentro do poder. Esse poder pode ser do social, do político, do capitalismo destruidor e das gerações aquinhoadas com um imenso baú de vil metal. A maioria dos letrados afirma categoricamente que o brasileiro é preguiçoso e não gosta de ler. Discordo em gênero, número e grau e afirmo o porquê. Se o homem desse século lê muito menos que seus antepassados eu diria que estamos diante de uma ignomínia. Uma coisa é certa: “O fenômeno que tem resposta na própria sociedade, nas transformações pelas qual essa sociedade passou. Essa (alienação) vem deteriorando nossa cultura e mesmo comprometendo nossa inserção no mundo. O problema da falta de leitura perpassa todas as camadas da sociedade e, ao mesmo tempo, todas as faixas etárias”.


Nessas conotações cabe uma resposta dura e que irá gerar uma situação geênica para os que assim pensam! Temos que antes de enunciar qualquer ligação entre saber e cultura, associá-los ao capitalismo venenoso, destruidor, aniquilador que vai flechar e sangrar com ferimentos profundos as camadas mais baixas da sociedade. Em recente viajem que fiz, percebi o quanto às autoridades políticas de nosso país massacra a escolaridade na infância e na adolescência. Vi crianças maltrapilhas, raquíticas, neurônios quase mortos e que só frequentam a escola com uma única finalidade à merenda escolar, e que se diga de péssima qualidade. Só podem fazer essas afirmações pessoas que sentem na pele e conhecem os dissabores que os políticos traçam para a educação. São afirmações verdadeiras e identificáveis, visto que o Brasil possui um grande percentual de analfabetos e crianças abandonadas, fora da escola, mendigando nas ruas das grandes metrópoles, muitas vezes vendendo seus corpos para comprar o pão e saciar a fome cruel e desumana. Diante desse écran alarmante, ainda teremos a petulância em afirmar que o leitor do século vinte e um é preguiçoso e não gosta de ler?


O homem/criança, muitas vezes se transforma em criança homem. Estão aí nas ruas das cidades praticando os mais cruéis e brutais crimes contra a pessoa humana e contra o patrimônio. O tema conhecer o homem melhor é utópico, pois todos eles são imperfeitos. Identificar as razões pelas quais não há estímulo para leitura? Como as escolas se comportam em relação a isso? Como os pais estimulam como dão exemplos, enfim, pais que não leem, são iguais a filhos que não lêem? O comportamento do mercado em relação a estes “possíveis consumidores” condiz com a realidade? Para responder a essa parafernália teremos que ajuizar melhor nosso conhecimento, fazendo uma pesquisa minuciosa, tanto no mercado, como nas escolas públicas dos Estados e Municípios brasileiros. É um papel para um super-homem com certeza. Histórias macabras acontecem no cotidiano de nossas vidas e no dia a dia dessa caminhada terrena. Senão vejamos: “Uma senhora ansiosa preocupada, feições sofridas - estava a cata de um livro para seu filho que cursava a oitava série do ensino fundamental”.


Ao deparar-se com a primeira livraria adentrou, retirou o papel que trazia na bolsa e indagou ao gerente da livraria. O senhor tem esse livro? O rapaz de imediato respondeu. Tem senhora e ela retrucou: quanto custa? O rapaz com um sorriso sarcástico de pronto respondeu, são R$ 140 reais. A senhora amarelou e quase cai. O rapaz preocupado indagou: a senhora está passando mal? Não! Meu senhor. Se eu comprar esse livro minha família vai comer o pão que o diabo amassou. Se a senhora for professora lhe daremos um desconto de quinze por cento, ela deu as costas e desapareceu. Fatos dessa natureza acontecem com constância fazendo renascer o comércio informal dos livros. A cada calçada, a cada rua o que se vê são inúmeros comerciantes de livros usados. Os que não têm condições de adquirir livros novos, vãos aos sebos. Conseguem comprar os mesmos livros pela metade do preço. O detalhe é que são usados, mas na realidade o conteúdo é igualzinho ao do novo. O que muda de verdade são as edições que possuem novos formatos. È a velha mania de ganhar dinheiro fácil, e os menos aquinhoados que se lixem. Os aspectos aqui ressalvados só podem ser discutidos por quem conhece as nuanças “in loco”. Político não quer povo alfabetizado, pois pessoas letradas e unidas jamais serão vencidas.


O que gastam com educação é uma vergonha. Primeiro que nossas palavras não sejam chulas ou ocas. Que não se esconda com o verbalismo vazio do pensamento; com o formalismo, a mentira da incompetência das autoridades brasileiras. Na verdade estamos passando por uma cultura ociosa e poderá gerar um instrumento de transformação global do homem e da sociedade. A verdade é que não sabemos ainda nos motivar e inspirar. Tão simples, porém difícil. No futuro só sobrevirão aqueles que conseguirem ultrapassar o modelo de formação baseada unicamente nos fatos e investirem pesados no conhecimento da natureza humana, na credibilidade, no senso de ética, na capacidade de comunicação e na competência pedagógica educacional. É a educação como prática de liberdade que serve de guia interativo da qualidade pessoal. Não devemos fazer juízo de valor, pois ainda engatinhamos e caindo de vez em quando na esperança de dias melhores. Até o velho jornal o pobre não pode comprar, pois vai fazer falta em casa, já que o salário é miserável e não suficiente para cobrir as despesas com alimentação. Quem está com fome vai pensar em livros e em leituras? Seria esperar que caíssem dos céus o vetor para iluminação da mente humana, que estão carentes de observação, centro de interesse, associação e força de expressão. “Quem não tem cão caça com gato”, esse jargão é verdadeiro e tem uma conotação maravilhosa.


O rádio ainda é a melhor solução para os que estão as margens da cultura escrita. Quem não tem condições financeiras vai aprendendo com o radinho de pilha e o aparelho de televisão preto e branco. Em cores só para as datas festivas e na copa do mundo de futebol. Há quem afirme de que não existe coisa alguma de social na educação; de que, como a arte, ela é “pura” e não deve ser corrompida por interesses e controles sociais. Por todos esses aspectos podemos dizer sem medo de errar que a pouca leitura dos brasileiros, está mais na pobreza social do que na vontade de ler. Dê um livro a qualquer brasileiro para ver o que acontece?


ANTONIO PAIVA RODRIGUES-MEMBRO DA ACI- DA UBT-AOUVIRCE-ALOMERCE-AVESP
Autor: Antonio Paiva Rodrigues


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