O ENSINO DAS ARTES VISUAIS E A DIVERSIDADE ÉTNICO-CULTURAL



INTRODUÇÃO

Inicialmente, devo pontuar um aspecto relevante e certamente comum a nós brasileiros, que é a chamada diferença conceitual entre raça e etnia. É de fundamental importância que os diversos seguimentos da sociedade incorporem em seus processos organizacionais essa percepção global e científica. Uma proposição com novas ferramentas, trazendo nova consciência e sensibilidade norteando atitudes, construindo mudanças. Assim, essa diferença pode ser referenciada através de uma pequena história.
Há muito tempo atrás, quando o nosso Planeta enfrentava o que os cientistas hoje chamam de Era Glacial – EG (região Norte da Europa), período intermediário conhecido como Würm, entre 50 e 10 mil anos atrás, em que a História traduziu como o início do Paleolítico Inferior (pré-história), o estado da Arte atribuía-se a instrumentos manufaturados com ossos de animais, esculturas em argila e pedra e desenhos pitorescos na rocha. Ali viveram duas populações de seres que evoluíram de formas diferentes ao longo de 130 mil anos, separadas das originais por essa EG. Chamados inicialmente de Homo habilis saídos da África Setentrional e espalhando-se pelo Oriente-médio e Ásia Central, este ser deu origem a duas espécies denominadas de Neanderthal (homem das cavernas, extinto a 30 mil anos) e o Homo sapiens (chamado de Cromagnon na região da França) nosso ancestral direto a 100 mil anos. O Habilis, também fora uma evolução de 400 mil de anos de povos antecessores vindos da África Centro-Oriental, onde hoje se encontram países como a Tanzânia, Quênia, Uganda, Zâmbia e R.D. do Congo. Lembrando que o ser humano só tem aproximadamente 1,5 milhão de anos de evolução, muito pouco comparado a animais como o tubarão, a baleia ou o crocodilo, que chegam a três.
Com uma objetividade incomparável e seu poder ingênuo de manter seu vigor aguçado, diferentemente do Sapiens, o Neanderthal competia com grandes animais em cavernas e eram bem robustos. Então, diferentes anatomicamente e em tradições culturais (costumes), um dia se encontraram e competiram por espaço e alimento. O Neanderthal foi vencido pela relevante complexidade de conceitos levantados pelo nosso ancestral. Habilidades como a percepção sensitiva e destreza manual apurados levaram a nossa descendência a um melhor desempenho. E conseguimos sobreviver ao frio, à fome e à guerra endêmica estabelecida com a nossa chegada na Europa. Sendo assim, posso definir um sentido amplo e talvez subjetivo à produção desses grupos culturais e marcamos esses eventos como Arte pré-histórica. E a partir dela, estabeleceu-se uma eugenia.
Nossa espécie, portanto, fora uma dentre algumas, que naqueles tempos, evoluiu e conquistou seu espaço nesta disputa, em vista das outras que se extinguiram, na luta pela sobrevivência animal. Ainda assim, todos eles foram seres humanos, da espécie humana. Mas o que é a raça humana? São seres evoluídos de Símios e resultado de comportamentos e herança animal, com necessidades ímpares de mudança, rica em sua diversidade étnica , definida por esses padrões inerentes a sua condição, emerge de sua constante busca nômade e descobertas empíricas, relacionadas à singularidade e à pluralidade (ou coletividade). Este nascimento o que foi descrito durante os séculos como História da Arte, confundiu-se com o próprio inicio da História da humanidade na África negra de hoje. Para examiná-la, necessitamos, sobretudo, analisar o que se possa ter como referência. Eis as Artes Visuais, nascida nas cavernas da Europa. Mas como defini-la?

PADRÕES ESTÉTICOS

Temos antes que trabalhar com o jogo estético e a aparência, isto é, Paixão vs Emoção e Dor vs Prazer, elementos que interferem no gosto, na leitura, na concepção e execução de uma obra ou realização qualquer, por conseguinte a sua interpretação. Então, os padrões estéticos ou qualitativos de um objeto qualquer podem e mudam de uma época para outra, de uma cultura para outra e também de uma sociedade para outra, mudando o resultado da sua realidade aparental. Segundo Hume, pesquisador do comportamento humano, a paixão, em seu sentido amplo, não é objeto de sentido externo, mas sim os seus signos. O desejo, a paixão é a conseqüência de um fenômeno cultural, de seus paradigmas traduzidos em códigos, que dão sentido à sua significação e manifesta-se numa mensagem consciente com a imagem que obteve através do seu olhar particular, dando forma à matéria e à realidade da forma, o homem então, liberta-se do jugo da Natureza e dedica-se ao lúdico. Começa a viagem pela imaginação.
Desde o início do século XX, princípios científicos de observação e percepção são demonstrados e desde então, levando em conta elementos de um padrão total, busca-se a unidade e a ordem no simples ato de olhar. Sendo interiormente subjetivas, as apreensões criadoras, imaginativas, inventivas, perspicazes e de beleza, move a atenção para o objeto, baseada no contexto cultural, experiências do sujeito, paradigmas associados, sua formação ou origem social e a religião ou crenças que segue. Todos esses aspectos dão vida a elementos como o equilíbrio, a configuração, a forma, o espaço, a luz, a cor, o movimento, a dinâmica e à expressão, São todos princípios básicos da percepção visual. Cada um vê aquilo que sabe.
Portanto, a Educação através da Arte é na verdade um movimento cultural e histórico, que constrói a constituição de um ser humano complexo e total, dentro dos moldes do pensamento livre e autocrítico da democracia, valorizando estes princípios, moral, estético e moralmente definidos, procurando despertar sua consciência individual e harmonizá-lo ao grupo social a qual pertence. O objetivo é ver a Arte não apenas como uma meta educativa, mas como um processo criador e criativo, a fim de criar potenciais mais humanos, agentes transformadores. Contudo, é necessário rever o nosso modelo atual e repensarmos no trabalho que está sendo desenvolvido. Será que a metodologia empregada fornece os subsídios necessários à aprendizagem os conhecimentos e os resultados que possibilitando ao sujeito expressar, representar e sentir a sua realidade em sua plenitude, com conceitos, regras, ética e preconceitos? Que linguagem deve ser estabelecida? São questões a serem administradas a cerca de uma disciplina e uma clareza objetiva, na busca de um modelo organizacional de educação que mostre uma melhor aquisição da aprendizagem.

DIVERSIDADE ÉTNICA

[...] Esta posição intelectual abre espaço para especulações deste proposto cenário. Um exemplo foi Nina Rodrigues, apontado como pioneiro dos estudos africanos no Brasil, vinha trabalhando sobre o tema desde o final do século XIX e que já em 1900 havia publicado no Jornal do Comércio o que viria a ser depois capítulo do livro póstumo Os africanos no Brasil, de 1933, resumindo bem as contradições de atitudes em relação ao negro que marcaram a obra do médico e intelectual maranhense na Bahia. Defensor dos valores culturais dos africanos no Brasil e dos seus direitos à liberdade de suas práticas religiosas, mesmo contra as autoridades policiais:
O critério científico da inferioridade da Raça Negra nada tem de comum com a revoltante exploração que dele fizeram os interesses escravistas dos norte-americanos. Para a ciência não é esta inferioridade mais do que um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade nas suas diversas divisões ou secções (...) A Raça Negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem os generosos exageros dos seus turiferários, há de constituir sempre um dos fatores de nossa inferioridade como povo (...).
E mais:
O Negro americano, ao descobrir que tem um passado, adquire uma segurança maior de que terá um futuro
A oposição entre o otimismo culturalista de Herskovits e o pessimismo cientifista de Nina Rodrigues explica-se, entre outras coisas, pela própria mudança dos paradigmas teóricos no tratamento dos africanismos na América e pelo descrédito científico em que acabara caindo a frenologia lombrosiana e que tanto marcava a postura intelectual de Nina Rodrigues e de tantos outros no Brasil, inclusive Euclides da Cunha em Os Sertões [...].
Essas representações visuais podem mudar um denominado estereótipo e determinou um arquétipo sobre o Negro e sua Arte desde a colonização. A Arte Africana foi voltada ao utilitário e não ao estético, segundo nossa interpretação desses valores. Então, objetos como máscaras, patuás e adornos, a própria culinária e sua escultura, têm um conceito transcendental e sagrado, assim como em seus cânticos, danças e coreografias, recriados nos Terreiros de Candomblé, havendo uma grande resistência, com o que há até hoje.
Por isso, é importante que a escola fundamental intervenha severamente na condição social, legitimando esses valores culturais, fazendo-os perceber a sua riqueza e complexa simbologia, sugerindo atividades as quais levarão a dar um espírito crítico à leitura e interpretação de composições sofisticadas da publicidade contemporânea em TVs, revistas, jornais, outdoors, livros e rádios, reconhecendo e identificando os signos e ícones nas suas entrelinhas.
A Arte Africana e seus movimentos culturais em diversos países e em última análise, não só convergiu como coexistiu sem se influenciarem significativamente, tanto antes como depois do Islã. O continente é pouco uniforme cultural e geograficamente falando. Não são simplesmente uma etnia primitiva, como afirmava-se, e Picasso provou isso muito bem, juntamente com outros colegas como Brake, Modigliani, Brancusi entre outros.
Seus habitantes têm diversas origens culturais com fortes traços e indícios do período Neolítico (pré-história) , camponeses e tribais. A cultura naturalista Nok (vale do rio Benuê, entre Nigéria e Camarões), por exemplo, de 900 e 200 dC, provavelmente surgiu há quatro ou cinco séculos aC, com a introdução na idade do ferro.

SÍNTESE PRELIMINAR

Com isso, quero dizer que se levarmos em conta todo esse processo, a colonização dessas tribos resultou em nossa colonização cultural positivamente, embora a infiltração da Cultura Negra com o elemento escravo (por volta de 1550) nas Artes Plásticas Brasileiras coincida com a própria eclosão das mesmas no país.
Não se poderíamos jamais dizer, no entanto, que os Negros têm procedência duvidosa ou marginalizá-los. Isso seria um ato de pura ignorância e desconhecimento de todo esse quadro. O produto de sua arte, Rupestre, Nok ou tribal, sugere uma enorme riqueza e devemos identificá-la com ancestralidade. Denegrir o Negro é denegrir as Artes. A nós mesmos. A nossa identidade étnico-cultural.

REFERÊNCIAS

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DISCOVERY Civilization: Humanos, Quem somos nós? A Invasão Humana. Produção Discovery Channel. 2001. 1 Fita de Vídeo (45 mim), VHS, son., color.

DISCOVERY Civilization: Humanos, Quem somos nós? A Origem da Mente Humana. Produção Discovery Channel. 2001. 1 Fita de Vídeo (45 mim), VHS, son., color.

FEBVRE, Lucien (Org); BRAUDEL, Fernand (Org). Coleção Rumos do Mundo. In: VARAGNAC, André (Direção). O Mundo antes da Escrita. Ed. Cosmos: Lisboa - Rio de Janeiro, 1963. Caps. 1-7, p. 11-186.

GUIDON, Niède. Pré-história no Piauí: Arte e Incógnitas do Homem Americano. Horizonte Geográfico. Out. 1990, p. 40-48.

LOMMEL, Andreas. Enciclopédia Britânica do Brasil. O Mundo da Arte. A Arte Pré-Histórica e Primitiva. 1978. 176p.

NG apresenta: A Jornada do Homem. Produção National Geographic Channel. 2001. 1 Fita de Vídeo (105 mim), VHS, son., color.

PRÉ-HISTÓRIA. Banco de dados. Disponíveis em:< http://www.discoverychannel.com >; < http://www.geocities.com/achahud/index.html >; < http://www.avph.cjb.net >;
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< http://planeta.terra.com.br/educacao/euamohistoria/index.html > Acessos em Fev. 2003.

TRINDADE, Lena. O mais Antigo Homem Americano. Revista Geográfica Universal. Set. 1990, 36-44.

VOGT, Carlos. Ações afirmativas e políticas de afirmação do Negro no Brasil. Disponível em: < http://www.comciencia.br/reportagens/negros/01.shtml > Acesso em Jul 2004.
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Artigo publicado em 'psicopedagogia.com.br'
Autor: Marcos Veloso de Albuquerque


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