Descobrindo O Trabalho Na Literatura Infantil



DESCOBRINDO O TRABALHO NA LITERATURA INFANTIL

Claúdia Cristina França de Alcântara[1]
Adriana Lúcia Ayres[2]

RESUMO

Este artigo é resultado de uma pesquisa desenvolvida na disciplina Educação e Trabalho do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, o qual busca discutir a representação do trabalho apresentada na Literatura Infantil. Relatamos o processo de transformação do homem através do desenvolvimento do trabalho. Em seguida tratamos da importância da leitura na construção do homem como um ser social e fizemos um breve relato histórico sobre a Literatura Infantil no Brasil e como nos dias atuais vem sendo veiculado por ela, a idéia de trabalho. No processo de conclusão, após a pesquisa de campo, analisamos os resultados, fizemos o confronto dos dados coletados com o referencial teórico, e por fim, dissertamos sobre nossa percepção com relação a apresentação do tema trabalho na literatura infantil.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho, Literatura Infantil, Homem (ser social).

INTRODUÇÃO

Desde o surgimento do primeiro ser humano, pode-se afirmar que ele vive num constante processo de transformação, onde, tem a capacidade de transformar tudo aquilo que o rodeia, como também é modificado pelo meio que vive. (BARBOSA e MANGABEIRA, 1990). Para que isso aconteça, faz-se necessário que o homemempreenda algum esforço, que segundo Albornoz, podemos denominar de trabalho. A autora diz que "na linguagem cotidiana a palavra trabalho tem muitos significados". (1986, p.8).

Considerando os diversos contextos históricos, sabemos que alguns elementos variam conforme lugar e tempo, por isso, é correto dizer que a concepção de trabalho também tem sofrido algumas modificações ao longo do tempo.Mudanças significativas acontecem, a partir do momento em que o homem passou a produzir alimentos e instrumentos de trabalho, posteriormentesurge o excedente de produção do trabalho humano, ou seja, aquele que extrapola a subsistência humana é o resultado do prolongamento do tempo de trabalho, e juntamente com ele, nasce no homem que é o detentor desse excedente, o sentimento de posse.

A privatização de um meio de produção fez com que, começasse a acontecer as desigualdades sociais. Iniciou-se o conceito do capital e dos primórdios capitalistas que ao longo da história, e com sua evolução produziu a alienação progressiva dos processos de produção do trabalhador. Delineando o modelo de produção capitalista em que uns poucos detêm o capital e os meios de produção, que dependem da massa operária possuidora da mais-valia ou como nas palavras de Vasconcelos :

O trabalhador, por conta de suas condições sociais, é impelido a vender a sua força de trabalho para o empregador que, por outro lado, é o possuidor de uma unidade de capital que precisa ser ampliada. Ressalte-se que o trabalhador não vende o trabalho, mas a sua força para trabalhar (Vasconcelos,2005).

O capitalismo surgiu com uma força tal, que sutilmente tem escravizado o homem e feito com que este, sinta cada vez menos prazer em exercer algo que deveria lhe proporcionar satisfação e fazer parte do seu processo natural de existência. Conforme Coelho quando traz as palavras de Adorno:

Na sociedade capitalista o trabalhador perdeu a capacidade de determinar as características do processo de trabalho, que é encarado socialmente como uma atividade obrigatória e não prazerosa. (2003, p. 27).

Sabendo que a escrita é um meio utilizado para transmitir e registrar informações, cultura e conhecimentos, podemos dizer que a leitura representa um recurso para o homem adquirir tais conhecimentos e sobre o que se passa ao seu redor, sendo assim, podemos dizer que a leitura é, portanto, um ato social.É também, a partir dela que o homem tem a oportunidade de tornar-se sujeito no ato da prática da leitura, e então, reconhecer-se como cidadão, que como tal, pode transformar a si mesmo e o mundo ao qual está inserido.

Existe uma quantidade enorme de livros e textos infantis, circulando no mercado brasileiro para diversos públicos-alvos, de várias idades e preferências. Conforme Yunes e Ponde:

À medida que o livro aponte noções novas de vida – contraponto de vivências infantis em soluções similares – e proporcione subliminarmente perspectivas sonegadas pelo discurso oficial, a convivência com a leitura e a intimidade com a linguagem tornam-se alternativas atraentes. (1989, p.137).

Neste artigo nos propomos a tratar das concepções de trabalho apresentadas na literatura infantil brasileira contemporânea e em algumas fábulas clássicas, então, identificaremos alguns títulos referentes ao tema trabalho, analisando como os professores da educação infantil e das séries iniciais apresentam o mundo do trabalho através dessa literatura e para concluir, qual a concepção que cada professor entrevistado tem sobre trabalho, sobre sua própria profissão.

ENTENDENDO O TEMA TRABALHO E LITERATURA INFANTIL:

Ponderando que, não é fácil conceituar o que é trabalho, julgamos necessário trazer o seu significado, através do que diz o dicionário Aurélio:

1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim. 2. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. 3. Trabalho remunerado ou assalariado; serviço, emprego. 4. Local onde se exerce essa atividade. 5. Qualquer obra realizada. 6. Esforço incomum: luta, lida. (1985)

Primeiramente, podemos dizer que o trabalho não se dá sem uma ação, ou seja, é necessário que se empreenda algum tipo de esforço para que ele aconteça. A tentativa de explicar o que é trabalho, vai do esforço que o homem faz sobre a natureza buscando meios de subsistência, ao trabalho que a dona de casa desempenha no seu lar, até a questão do trabalho numa perspectiva de emprego, ou melhor, do trabalho remunerado. Entendemos ainda que, trabalho é ação humana provida de objetivo e intencionalidade para produção de riquezas de natureza física ou intelectual, é ação humana facilitadora do desempenho de trabalho de outrem. Segundo Albornoz: "Todo trabalho supõe tendência para um fim e esforço", independentemente se esse esforço seja físico ou intelectual, pois, na maioria das vezes, um depende do outro. Portanto:

Trabalho neste sentido possui o significado ativo de um esforço afirmado e desejado, para a realização de objetivos; onde até mesmo o objetivo realizado, a obra, passa a ser chamado trabalho. Trabalho é o esforço e também o seu resultado: a construção enquanto processo e ação, e o edifício pronto. (1986, p.11-12).

A partir do surgimento da Literatura Infantil, até os dias atuais, há uma enorme discussão entre os teóricos para tentar entendê-la. Essa discussão começa pela conceituação, passa pela concepção da infância e do leitor, à ligação da literatura infantil e a escola, até o caráter literário dessas obras para crianças. Os primeiros livros para crianças foram escritos por professores e pedagogos e só surgiram no final do século XVII. Tinham uma função utilitário-pedagógica e, por isso, durante muito tempo foram considerados como um estilo literário inferior. (Zilberman, 2003).

De acordo com Caldin, desde a sua origem, a literatura infantil surgiu com o objetivo importante de formarcidadãos, que aprendessem a comportar-se na sociedade, lhes ensinando hábitos, costumes e padrões a serem seguidos. Sendo assim, podemos dizer que a literatura infantil é uma obra artística, e como tal, não se desvincula do contexto histórico no qual é produzida. Para a autora, "todo o fazer artístico cumpre uma prática ética e social" e que, "a Literatura Infantil (...) apresenta modelos de comportamento que facilitam a integração da criança na sociedade" (2003). Vale salientar que, no caso dos contos, principalmente os mais antigos, a função pedagógica era na maioria das vezes, utilizada como forma de afastar as crianças de situações perigosas, e por isso, utilizavam personagens como: bruxas, monstros, lobos, entre outros. Entretanto, em muitos desses contos, também encontramos a defesa de valores como a virtude, o trabalho, a esperteza, as crenças, etc.

Aqui no Brasil, a história da literatura infantil tem passado a alguns anos, por uma "reforma", ou melhor, uma renovação que vai desde as ilustrações, até a linguagem – que devem ser apropriadas às crianças – que transmitem uma determinada mensagem, carregada de intencionalidade por parte do autor. Sobre esta renovação,Yunes e Pondé, nos diz que:

O texto literário infantil, por um lado partiu para uma revisão do mundo na perspectiva da infância, para uma pesquisa de estrutura de linguagem e imagens próprias da criança. Por outro, ocorre uma renovação do recurso tradicional da fantasia, pelo jogo da intertextualidade, pela paródia, pela investigação de estados existenciais infantis e pelo realismo que aparece quebrando tabus e preconceitos, lidando com os problemas cotidianos que não poupam a infância.(1989, p.46).

É nítido quea literatura infantil têm diversas funções, entre elas a de iniciar a criança no mundo da leitura e de ser um agente de apresentação de conhecimentos que propiciam o questionamento de valores em circulação na sociedade.

Sabemos que toda obra literária reflete as ideologias de seus autores e que estes têm a responsabilidade de despertar no leitor-criança um pensamento crítico e reflexivo, pois, mostram os problemas sociais, econômicos e políticos que ocorrem no nosso dia-a-dia.

De acordo com Romanelli, o Brasil por ter sido colônia, começou a caminhada rumo a independência muito tarde, e foi durante os primeiros anos do século XIX que finalmente buscou conquistar seu progresso em vários setores, inclusive o cultural. No início foi bastante difícil, pois sofria com a forma como o ensino foi implantado pelos jesuítas, que tinham uma tendência totalmente européia. Entretanto, conforme nos diz Coelho:

Foi no entre-séculos (quando as grandes transformações da sociedade brasileira se processavam, que o sistema escolar nacional passa por reformas de real alcance (cf. leis e pareceres de Rui Barbosa, Leôncio de Carvalho, Benjamin Constant, Epitácio Pessoa, Rivadávia, etc.) e incorpora em sua área também a produção literária para crianças e jovens. Simultaneamente ao aumento de traduções e adaptações de livros literáriospara o público infanto-juvenil, começa a se firmar, no Brasil, a consciência de que uma literatura própria, que valorizasse o nacional, se fazia urgente para a criança e para a juventude brasileiras. (Tal como vinha sendo feito na área da literatura "adulta" e nos demais setores do pensamento culto). (1991, p.204).

A renovação que está ocorrendo na literatura infantil brasileira contemporânea teve seu início por volta dos anos 70, e o reflexo dessa mudança pode ser encontrado em muitos livros que mostram personagens que possuem comportamentos diferentes daqueles conhecidos e reforçados pela ideologia da classe dominante, expondo que todos somos capazes de ser críticos e reflexivos para quebrar o ciclo reprodutivista que a sociedade capitalista nos impõe. Como exemplo queremos citar a obra de Fernanda Lopes de Almeida "A fada que tinha idéias" de 1971, publicado pela editora Ática.

Nesse texto a revolucionária fadinha Clara Luz, de 10 anos rebela-se contra as lições petrificadas dos Livros das Fadas e acende seu desejo de inventar suas próprias mágicas. A menina-fada tem idéias próprias e um excelente poder de contestação e argumentação durante todo o seu discurso no livro. Segundo Clara Luz "quando alguém inventa alguma coisa, o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado".

Sintetizando as idéias de Fülle, cabe ao professor o papel de não apenas ser um "contador de estórias" como também, ter o cuidado na seleção dos livros que serão trabalhados em sala de aula, se a linguagem é apropriada, se a concepção escolhida reforça ideologias reproduzidas pelo status quo, e se o texto é adequado àquelas crianças, etc. Ele, ao utilizar-se da literatura infantil é responsável por instigar a curiosidade e produzir novas experiências em seus alunos, através de didáticas que os permitam entender a realidade a partir do lúdico, ou seja, sem deixar de lado o encanto, as emoções que são próprias a esse tipo de produção.

PASSO A PASSO - COMO FIZEMOS

A pesquisa proposta neste trabalho é de natureza qualitativa. Caracterizada como um estudo documental e empírico, onde analisamos 20 livros de literatura infantil brasileira contemporânea, algumas fábulas clássicas e um poema.

Para tanto, foi imprescindível a leitura de um grande número de obras literárias infantis onde detidamente buscamos perceber a intenção implícita dos autores nessas publicações. Procuramos estas obras em bibliotecas públicas, nasbibliotecas de algumas escolas dos professores entrevistados, em livrarias especializadas e no acervo pessoal dos componentes da equipe.

Coletamos as opiniões de vinte e cinco profissionais da área de educação para analisá-las em confronto com nosso referencial teórico, usando registros informais nas entrevistas. Escolhemos como sujeitos da nossa pesquisa professores de escolas da rede pública e da rede privada que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental e em educação infantil.

Representação do trabalho nos livros, fábulas, contos e poema

Tendo lido inúmeras obras nacionais detectamos que existem poucas obras intencionalmente escritas com o tema trabalho. A maior parte das produções em que foi encontrada alguma referência ao tema é de forma sutil ou implícita a obra, ou seja, o trabalho não é o elemento gerador do texto.

Queremos iniciar o relato e análise dos livros e contos clássicos com uma citação do cineasta americano Terry Gilliam[3], que diz : "Acredito que os contos de fadas sempre foram ameaçadores e perturbadores. Talvez a idéia seja essa: se você consegue sobreviver bem aos contos de fadas, estará preparado para o mundo real".

Queremos agora, nos debruçar mais detidamente em algumas versões de uma das fábulas mais conhecidas de Esopo [4],"A Cigarra e a Formiga". Em nossa pesquisa, encontramos 6 (seis) versões diferentes dessa fábula e cada uma delas tem implícita algumas concepções de trabalho.

Em "A Cigarra e a Formiga" recontada por João de Barro, pudemos perceber que a formiga trabalhava carregando alimentos com o objetivo de assegurar o seu futuro (no período de inverno), assim como, para garantir sua subsistência. Nessa versão, apesar da formiga também cantar (conforme estória no apêndice desse trabalho), ela não demonstrava a mesma alegria e satisfação apresentada no canto da cigarra, que considerava sua música como um trabalho, e isso é reconhecido pela formiguinha no final da estória. Fazendo um paralelo dessa versão com o que nos diz Albornoz, podemos dizer que, enquanto a formiga trabalhava muito e com pesar, além de empreender tal esforço, buscando aproveitar durante o inverno seu tempo ocioso, a cigarra, cantava e tinha prazer no que fazia, e ainda acreditava que com o seu trabalho – cantar – proporcionava momentos alegres na vida de seus ouvintes. O fato é que a princípio a formiguinha não via a atividade da cigarra como um trabalho, tanto que a desprezou e chegou a afirmar que "as formigas também cantam, sem parar de trabalhar". No entanto, depois ela reconhece que o canto de sua amiguinha era muito bom e importante, pois, o que seria dos dias de trabalho da formiga sem o som agradável do canto da cigarra? Acreditamos que o trabalho da cigarra era de âmbito social, e Albornoz nos diz o seguinte sobre isso:

O trabalho social vem acompanhado de um certo desprezo por parte de quem faz outro trabalho produtivo no sentido estrito, tanto na produção de bens essências à sobrevivência,como naprodução de coisas úteis ou belas, ou no que o capital julga produtivo porque dá lucro.(1986, p. 94).

Na Coleção Fábulas Encantadas, das Edições Sabidas, analisando "A formiga e a Cigarra", o trabalho da formiga é semelhante a da versão anteriormente citada, porém, já a cigarra era tida como um ser improdutivo e aproveitador que queria apenas usufruir do trabalho da tal formiga.Temos ainda, as duas versões de Monteiro Lobato, sobre a mesma fábula:

A Formiga Boa

- E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?

A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois de um acesso de tosse.

- Eu cantava, bem sabe...

- Ah!...- exclamou a formiga recordando-se.

- Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?

- Isso mesmo, era eu...

- Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: "que felicidade ter como vizinha tão cantora!" Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol. (Monteiro Lobato Fábulas. São Paulo, Melhoramento,1994 )

e,

A Formiga Má

[...] a formiga era uma usuária bem estranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres.

- Que fazia você durante o bom tempo?

- Eu... eu cantava!...

- Cantava? Pois dance agora, vagabunda! E fechou-lhe a porta no nariz: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria pela falta dela?

(Monteiro Lobato. Fábulas. São Paulo, Melhoramentos 1994).

http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=artigos/docs/confabulandovalores

Na primeira estória, a formiguinha, encarava o seu trabalho como labor, - em sua fala: "enquanto nós labutávamos..." - o que nos faz mencionar mais uma vez Albornoz quando explica que a palavra trabalho tem vários significados e que no português essa palavra se origina do latim tripalium (um instrumento feito de três paus afiados), além de ligar a palavra ao sentido de sofrimento, esforço, laborar e obrar.Já na segunda, a formiga não atribuiu nenhum valor ao canto da cigarra e a expulsou, não considerando importante a atividade da outra. O texto nos faz refletir sobre o trabalho dos artistas como: poetas, cantores, escritores, etc., enfim, trabalhadores que apesar de não executarem suas atividades empreendendo força física, produzem trabalhos maravilhosos com sua inteligência e seu esforço intelectual.

No livro "O Coelhinho que não era de páscoa", escrito por Ruth Rocha, o significado de trabalho, apresentado explicitamente na estória, é relacionado a escolha de uma profissão, levando em consideração a vocação que existe em cada um. Fazendo um curto relato da estória, trata-se de uma família de coelhos, onde todos conforme histórico genealógico, tradicionalmente trabalhavam na entrega de ovos de páscoa. Quando os coelhinhos estavam crescendo era chegado o momento de escolher suas profissões, todos escolheramseguir o ofício do pai, avô, bisavô, exceto o caçula (Vivinho) que para desgosto dos pais, queria aprender outra profissão. Ao final da estória, é exatamente Vivinho que salva a família, pois, no mercado não existiam mais ovos de páscoa para vender, porém, ele aprendeu com alguns amiguinhos a fazer todo tipo de doce, inclusive ovos de páscoa. Então, mobiliza toda a família para produzir, embrulhar e vender/entregar ovos de páscoa.

Com essa estória, além de percebermos que a família de Vivinho era limitada e só sabia fazia uma única atividade, ou seja, entregava ovos de páscoa, em outras palavras, eram alienados, ainda podemos confrontar com o que nos diz Farias (1998) quando trata de polivalência e politecnia. O coelhinho foi capaz de identificar o problema que surgiu em sua família (a falta de ovos de páscoa que os pais precisavam comprar e entregar), e com sua habilidade em saber fazer ovos, pôde transferir seus conhecimentos para toda a família, e assim, todos puderam produzir o produto que antes apenas entregavam.

Numa outra estória da literatura infantil brasileira contemporânea, também da escritora Ruth Rocha, "Pedrinho Pintor", o personagem principal e todos os envolvidos, também são coelhos. Pedrinho é um pintor de lindos quadros, que tem como característica bem peculiar, o fato de usar roupas bem coloridas e extravagantes. Ele vai até a fábrica de ovos de Sr. Botelho procurar emprego. Chegando lá é atendido pelo gerente Sr. Veloso (todo mundo troca o nome dele) que apesar de saber que a fábrica precisa admitir um novo pintor, dispensa Pedrinho pois o julga pelas roupas. Após uma reunião com o dono da fábrica, seu Veloso se vê forçado a empregar Pedrinho que quando admitido faz uma verdadeira transformação na fábrica, pois, além de motivar todos os outros pintores com suas pinturas alegres e bem feitas, faz com que a produção da fábrica aumente rapidamente. Mais uma vez buscamos pensar sobre a questão do trabalhar com prazer, satisfação e alegria. E também, enfatizar a questão que nos dias atuais está em voga, a importância de se ter no mercado de trabalho, profissionais qualificados que atendam as exigências das empresas. Colaboradores que consigam adaptar-se as regras e normas das empresas, e que trabalhem com produtividade, motivação, responsabilidade e que use de criatividade, ou seja, o chamado profissional politécnico.

Analisando o poema "A mão do poeta" de Leo Cunha, o significado do que é trabalho não está apresentado de forma explícita, ao contrário, trata de forma sutil que a mão do poeta produz algo "mágico".

Poeta tem mão de fada. Quando ele escreve, a caneta voa que nem borboleta,vira vareta encantada.

Não é mais caneta, não, é varinha de condão.

Poeta tem mão-de-obra, (...) Tijolo aqui, laje lá... (1998).

O texto nos quer chamar atenção para o fato de que, o poeta é também um trabalhador, que usa sua inteligência, criatividade para escrever palavras que tocam fundo no coração e alma de seus leitores. Digamos que, segue a mesma linha de análise que vimos anteriormente, quando citamos o trabalho da cigarra, ou seja, a música.

No conto "Os três Porquinhos", obra atribuída aos Irmãos Grimm, a qualidade do esforço e da dedicação investidas no trabalho tem como recompensa a proteção e garantia de um bom futuro. O tema trabalho é representado pela a construção das casas de cada personagem. No começo do conto a mãe dos porquinhos lhes entrega uma mesma quantidade de dinheiro para que possam começar uma vida independente, entendemos aqui que todos os porquinhos têm as mesmas condições para sobreviver. Cada porquinho aplica o dinheiro em suas casas de acordo com sua escolha de ou capacitação para a vida futura.

Na ação da construção de cada casa, cada porquinho tem como pré-requisito seu nível de escolarização onde a casa de palha nos remete ao ensino fundamental, a casa de madeira faz uma analogia ao ensino médio e a casa de tijolos é vista como a formação de ensino de nível superior.

Com relação aos níveis fundamental e médio as escolas de nosso sistema público de ensino, não tem alcançado seus objetivos de formação plena dos alunos, tanto por desígnios da classe dominante, ao qual não interessa uma formação rebuscada de seus alunos, quanto ao acesso extremamente escasso da ciência, do conhecimento. Tal acesso implica na reflexão de qual é o real valor e significação da ciência. Citando Franco:

O ensino da ciência (como de resto o ensino de qualquer saber escolar) vai além da transmissão dos conteúdos das diferentes ciências. O que a escola progressista deve buscar, o que é necessário e urgente, é a transmissão também do próprio significado da ciência, a sua importância para a vida do homem na sociedade presente. É necessário, pois fugir da transmissão dos conteúdos científicos como se estes valessem por si mesmos, fossem autônomos e independentes da sociedade e nada tivessem a ver com a superação dos problemas enfrentados pelo homem. A ciência é parte integrante e inseparável dos mecanismos de funcionamento da sociedade global, e a escola não deve contribuir para colocar uma "muralha" entre esse conhecimento e a vida social. O valor educativo da ciência pressupõe a compreensão do seu significado social. (1988, p 59-60)

É preciso refletir ao mesmo tempo em que os educadores que atuam em nosso sistema não tiveram em sua formação acesso a um alto nível de conhecimento da ciência e sua significação social. Foram vítimas do mesmo problema hoje em dia reproduzem "da falta de significação dos conhecimentos". Um exemplo comum desse problema é a conhecida frase que tanto ouvimos em sala de aula por parte dos alunos ou que tenha sido por nos mesmos proferida : "por que eu tenho de aprender isso, ou aquilo, eu nunca vou usar isso na vida ou em meu trabalho"

Como a escola pública não tem privilegiado a formação dos alunos para o acesso ao nível superior entendemos que tal parcela de estudantes que participam deste nível de ensino recebe um público quase em sua totalidade de origem da rede privada. No entanto esta origem não os diferencia muito no tocante a significação inerente a ciência, pois como é citado na análise das entrevistas de participantes que detêm formação superior o entendimento do que é trabalho assemelha-se com o de outros participantes que tem formação em nível médio.

Analisamos uma coleção onde o objetivo principal é o tema das profissões. Produzida intencionalmente para o público infantil e das séries iniciais a autora Hilá Flávia retrata as profissões como identidade dos profissionais e de garantir um lugar no mundo. Cada profissão representa o trabalho numa perspectiva de emprego. Nessas estórias a autora trata a questão da importância de cada profissão, salientando o quanto é necessário haver um equilíbrio na escolha ou alocações dos inúmeros trabalhadores em suas profissões, (o que seria do mundo se todos quisessem ser médicos, ou dentistas, feirantes, motoristas de ônibus, garis, costureiras, etc?). Enfatizando a questão do trabalhar com amor e satisfação, e ainda, a idéia de perseguir um sonho, ou seja, empenhar-se para chegar onde se deseja, buscando novos conhecimentos como no trecho do volume intitulado O pedreiro que diz na página 10 : "José Lúcio tem gosto pela sua profissão e quer sempre melhorar e aprender jeitos novos de construir. É um pedreiro dos bons, por isso nunca lhe falta serviço".

A coleção no geral detalha o dia-a-dia dos profissionais mostrando algumas atribuições inerentes ao trabalho que cada um desempenha. Em outros disserta uma estória paralela em que alguém sem a qualificação adequada tenta cumprir a função de um profissional que deve ser extremamente preparado e que pode acabar gerando a ineficiência deste ato, isso é evidenciado no título "O eletricista" quando um personagem tenta consertar um aparelho elétrico e provoca um curto-circuito, cabe ao eletricista corrigir o desastre.

Em Lolo Barnabé, de Eva Furnari fomos contempladas com uma versão infantil e divertida dos trabalhos de Albornoz, Barbosa e Mangabeira quanto a evolução das sociedades primitivas através do trabalho, da transformação da natureza e da natureza do próprio homem. E do quanto é imprescindível criar e o usufruir qualitativamente o tempo livre na vida do homem.

No texto depois de tantas invenções, que são uma analogia explicita da ação do trabalho humano, Lolo e sua família sente-se felizes após tantas realizações, mas como no livro : "Eles eram felizes... mas nem tanto" Muito trabalho, inúmeros avanços em busca de conforto e melhores condições de vida, mas ocorre que não havia mais tempo pra família, não havia mais tempo para o lazer e nem mesmo para agradecer a Deus a beleza das coisas.

O livro Serafina e a criança que trabalha é, na verdade, um documentário sobre o trabalho infantil. A obra, que fala do assunto às crianças de maneira sutil, foi elaborada com o trabalho de três autoras segundo a Revista Construir Notícias :

Iolanda Huzak, repórter fotográfica há mais de 30 anos; Cristina Porto, que é escritora de livros infantis (sua coleção mais conhecida é a das Serafinas: Serafina sem rotina, O dicionário de Serafina, etc.); e Jô Azevedo, jornalista há quase trinta anos, que já trabalhou em rádio, revista, jornal e televisão. (2003).

A idéia de fazer o livro sobre o trabalho infantil começou quando Jô Azevedo conheceu Iolanda em 1992, eram colaboradoras de um jornalzinho de uma fundação de empresários. Era um jornal sobre criança e, certo dia, as duas foram fazer uma matéria sobre o trabalho infantil. Entrevistaram uma socióloga que preparava parcerias para o Programa Internacional de Eliminação do Trabalho Infantil, da Organização Internacional do Trabalho. As autoras propuseram, por meio da Fundação Abrinq, a realização de uma série de reportagens sobre o trabalho infantil, para dar visibilidade a essas ações.

A partir das parcerias surgiu o livro Crianças de Fibra, editada pela Paz e Terra em 1994. A editora Ática ficou interessada e pediu as autoras um texto de ficção para as crianças, a editora aproximou as autoras a Cristina Porto.

Cristina trouxe a Serafina para esse mundo. Em 1996, as três ganharam o prêmio de Melhor Livro Informativo da Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil, com o Serafina e a criança que trabalha.

A coleta de materiais foi feita por Jô e Cristina, demorou nove meses de campo e mais três de edição. A pauta foi feita com a ajuda de parceiros da OIT na campanha e depois foram feitas garimpagens jornalísticas.

O livro tem uma linguagem adequada às crianças, usando a personagem Serafina, como uma criança normal e compara o cotidiano dela com os das crianças que trabalham.

O livro é uma narração de histórias reais, fala do sofrimento das crianças trabalhadoras, mas usam ternuras nas palavras e a personagem Serafina colabora com essa ternura.Muitas das crianças trabalham porque precisam ajudar no sustento da casa, outro fator para o trabalho infantil são as mudanças econômicas que surgem o tempo todo, empobrecendo a população e obrigando essas crianças a trabalharem para terem o mínimo para a sobrevivência. Folheando as páginas percebe-se que há uma abordagem dos direitos das crianças, mas não aborda os deveres dela, talvez porque falar de dever quando existe total falta de direito não teria sentido.

Há também uma abordagem sobre a proibição do trabalho infantil, mas deixa claro que para isso acontecer muitas coisas terá que mudar. Achamos que pode acabar se a política econômica privilegiar o emprego, a renda e a distribuição de terras. Essas são as questões estruturais atrás do trabalho infantil. Enquanto isso não acontece, é necessário ter políticas compensatórias com programas sociais. A bolsa-escola é uma medida paliativa que demonstrou bons resultados.

Outro ponto relevante é que as autoras não tocam em temas como crianças que trabalham no tráfico de drogas. Achamos que não trataram para não se tornar um incentivo e por atender um público de sete a nove anos. Também percebemos a falta da prostituição infantil como trabalho, é muito difícil abordar este tema para as crianças.

Por fim, temos consciência de que o livro trata do trabalho infantil que é um problema que tem que ser mostrado as nossas crianças, e de que eles têm direito há um futuro brilhante. (Fonte: Revista Construir Notícias, Recife. Ano 02 / Nº12 – Setembro/Outubro -2003.

Os Professores e seus Estilos de Trabalho

Tomando por base as entrevistas que fizemos com professores da rede pública e particular de ensino, a partir de agora apresentaremos os resultados obtidos através dos dados coletados. Ressaltamos ainda que, as entrevistas (inseridas no apêndice deste trabalho) foram realizadas com a ajuda de um questionário por nós elaborado, o qual possuía 6 perguntas e 1 que servia de apoio, caso uma determinada pergunta, tivesse um "não" como resposta.

Entrevistamos 25 profissionais da área de educação, sendo, 24 professoras, que estão na faixa etária entre 26 e 51 anos, e um professor.Por questão de ética e para manter em sigilo os nomes dos entrevistados, quando se fizer necessário citarmos alguma coisa relacionada a eles, usaremos o termo participante, acompanhado de um determinado número atribuído a este.

Dos 25 professores que fizeram parte de nossa pesquisa, 4 possuem Magistério e estão em formação, cursando Pedagogia, 9 não tem formação superior, 12 são graduados, sendo: 7 em Pedagogia, 5 em graduações como, Letras, Biologia e Geografia. Dessas cinco, 1, apesar de não ser graduada em Pedagogia, tem especialização em Educação Especial, e outra, além de ser pedagoga, também é graduada em Ciências Sociais.

Apesar de serem profissionais preparados, pudemos observar que, em sua grande maioria, são professores que adotam metodologias e didáticas com tendências tradicionais.

Uma das perguntas do questionário era se dentre os títulos da Literatura Infantil usados em sala de aula, algum abordava o tema trabalho ou profissão, e como esse tema era trabalhado com os alunos. Somente 7 professoras disseram que já abordaram o tema trabalho utilizando a Literatura Infantil. Duas delas (participantes 8 e 25) disseram que trabalharam com a fábula "A Cigarra e a Formiga", e a participante 25, ainda utilizou-se do livro de Ruth Rocha, "Pedrinho Pintor", para tratar da importância dos estudos no sentido de garantir uma profissão no futuro. Tal comentário, nos remete a questão do papel da escola, conseqüentemente, o papel do professor, tão bem tratado por Franco, principalmente quando ele diz que:

(...) a escola conta com professores para desempenhar o seu papel de "transmitir de maneira lógica, coerente e sistemática, os conhecimentos acumulados historicamente pelo homem, ou seja, os conhecimentos científicos, tecnológicos, filosóficos, culturais, etc., indissoluvelmente ligados à experiência dos alunos e às realidades sociais mais amplas. (1988, p. 56).

Dos demais entrevistados, 9 afirmaram que já trataram sobre a questão de profissões, uns, com pesquisas sobre as profissões dos pais das crianças, outros, procurando mostrar a importância das diversas ocupações existentes no mercado de trabalho.

Perguntamos se os professores envolvidos já participaram de alguma capacitação, e a grande maioria respondeu que sim. No entanto, pudemos perceber que, uma boa parte deles, são profissionais que estão cansados do seu cotidiano profissional, e cumprem com suas tarefas apenas por questão de obrigação e para garantir o seu sustento. Ao longo do tempo, podemos dizer que muitos professores construíram uma identidade profissional pautada na idéia de que ser professor é ser um sofredor. As participantes 18 e 23, nos deram uma resposta querendo dizer que a profissão de professor é mal remunerada e pouco valorizada. Com isto, podemos fazer um contraponto com o que nos diz Pimenta, quando trata da significação social da profissão. Ela diz:

Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. (2002, p. 19)

Tanto que, quando questionados sobre o que é trabalho, 11 dos participantes responderam que, trabalham porque precisam sobreviver, para obter retorno financeiro, "é o meu ganha pão, meu sustento e da minha família", conforme nos disse a participante 18. E ainda, nos fizeram refletir sobre o trabalho tratado por Antunes, quando ele fala do estranhamento do homem com o trabalho que exerce. Quanto a isso, as respostas mais interessantes foram: "É sacrifício, necessidade.", "Parece ser um castigo ...", "É uma rotina difícil, eu achava no começo que ia sempre gostar de trabalhar, mas ficou cansativo e até chato. É o que eu faço para ter dinheiro". Antunes cita um texto de Marx, que explica exatamente o sentimento desses professores com relação ao trabalho que exercem:

No estranhamento do objeto do trabalho só se resume o estranhamento, a alienação na atividade mesma do trabalho. O que significa dizer que, sob o capitalismo, o trabalhador repudia o trabalho; não se satisfaz, mas se degrada; não se reconhece, mas se nega. Daí que o trabalhadorsó se sinta junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho. Sente-se em casa quando não trabalha e quando trabalha não se sente em casa.O seu trabalho não é, portanto, voluntário, mas compulsório, trabalho forçado. Por conseguinte, não é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele. (MARX, 1983, p. 153) In: Antunes.

Tratando mais especificamente da rotina de leitura, os critérios adotados pelos professores na escolha do material que será utilizado nas atividades de leituras e no desenvolvimento das atividades pós-leituras, podemos destacar que, 22 entrevistados costumam freqüentemente fazer algum tipo de leitura em sala de aula. Surpreendentemente,colhendo os dados, pudemos perceber que, dos 25 sujeitos de nossa pesquisa, 9 (nove), através da leitura, trabalham apenas a questão do letramento da criança, ou seja, não procuram fazer algum tipo de atividade que suscite o lado crítico do aluno. Somente cinco professores,mostraram-se preocupados em fazer atividades que estimulem e promovam o gosto das crianças pela leitura. Ainda que,

As práticas discursivas de leitura e escrita são fenômenos sociais que ultrapassam os limites da escola. Partimos do princípio de que o trabalho realizado por meio da leitura e da produção de textos é muito mais que decodificação de signos lingüísticos, ao contrário, é um processo de construção de significado e atribuição de sentidos. Pressupomos, também que a leitura e a escrita são atividades dialógicas que ocorrem no meio social através do processo histórico da humanização. (AMARAL,2004).

O professor é um agente responsável por despertar o lado crítico do aluno com relação à sociedade em que ele está inserido e assim, contribuir para a formação de um verdadeiro cidadão.

Outro ponto que nos chamou a atenção, foi o fato de que os professores, ou melhor, a maioria, não tem autonomia para escolher os livros e temas que serão abordados em sala de aula, tanto que, dos 25 que responderam as entrevistas, nove, disseram que "escolhem" de acordo com o planejamento, ou indicação da escola e/ou coordenação pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo sobre como o tema trabalho é abordado nos livros de literatura infantil. O primeiro passo do trabalho foi identificar através de estudos como é a concepção de trabalho e descobrimos que desde os primórdios, o ato de trabalhar vem se confirmando como expressão humana. Em nossa concepção, trata-se de um fenômeno que, em outras palavras, engloba um conjunto de ações cujo processo e produto, por mais que sejam concebidos e regulados a partir de desígnios externos a quem as exerce, sempre acaba por traduzir, de algum modo, aquilo que somos, numa dimensão de significação subjetiva do ato de trabalhar e do seu resultado.

Parafraseando CUNHA, podemos considerar que, se o trabalho perde a substância de atividade imposta; passa-se a corresponder à manifestação de si, do indivíduo, e não de sistemas, de processos ou de classes; se dissolve no agir humano em função de valores intrínsecos e nãocomoação central e determinante da vida, então não há lugar para a existência de uma parcela de tempo ou de atividades contrapostas ao trabalho. Ambos podem fundir-se, unindo a existência à essência, o subjetivo ao objetivo, o interior ao exterior, em uma expressão concreta de liberdade e satisfação.

Percebemos a grande intenção do por que apreender as concepções do que é trabalho e do quanto essa aprendizagem interfere em nosso cotidiano e em nossa própria identidade como profissionais e educadores. O quanto temos como responsabilidade desvelar essas concepções para as gerações futuras e imediatas com os quais trabalhamos na tarefa de educar.

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____________A costureira. Ilustrações de Osório Garcia. Belo Horizonte: Mazza Edições,1999. Coleção Eu Serei

____________ O bombeiro. Ilustrações de Osório Garcia. Belo Horizonte: Mazza Edições,1999. Coleção Eu Serei

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[1] Estudante do 4º período do Curso de Pedagogia pela UFPE – Universidade Federal de Pernambuco.

[2] Estudante do 7º período do Curso de Pedagogia pela UFPE – Universidade Federal de Pernambuco.

[3] Dotado de um arrojado estilo e com o freqüente uso de elementos fantásticos. Terry Gilliam dirigiu o filme Os Irmãos Grimm (The Brothers Grimm, 2005) ficção em que homenageia os irmãos pesquisadores da cultura oral européiaos alemães Jacob e Wilhelm Grimm que iniciaram a publicação de conto de fadas.

[4] Célebre fabulista grego, provavelmente nascido pelo ano de 620 a.C. Segundo o historiador Heródoto, esopo teria Nascido na Trácia, região da Ásia Menor, tornando-se escravo na Grécia. Discute-sea sua existência real, assim como acontece com Homero. Levanta-se a possibilidade de a obra esopiana ser uma compilação de estórias ditadas pela sabedoria popular da antiga Grécia.


Autor: Claudia Alcantara


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