Não Somos Uma Nação: Somos Apenas Um País



Quando se viaja ao exterior, e, mais impressionante, a outros países da própria América Latina, verifica-se que, não obstante o similar nível de desenvolvimento que muitos de nossos vizinhos mantém em relação a nós, eles estão anos-luz à frente em um quesito básico para a resolução dos dilemas nacionais: a consciência de unidade nacional, inexistente no Brasil.

A consciência de unidade nacional se manifesta quando uma população, diante da ineficiência estatal, busca por si própria os meios para o exercício de pressão sobre o Estado com o escopo de resolução dos problemas. Pode-se questionar os meios pelos quais isso ocorre - na Argentina temos os panelaços e a quebradeira de agências bancárias, na Venezuela há violentas manifestações diuturnas contra e a favor do governo chavista, na Bolívia até os indígenas questionam a política de Evo Morales - mas nunca se pode negar que, mesmo por vias errôneas (já que muitas vezes violentas), esses povos procuram definir seus destinos com as próprias mãos. Nesses países, o orgulho nacional prevalece sobre a inércia, a obediência cega não tem vez e os usupardores da coisa pública, mesmo se não juridicamente punidos, convivem o resto da vida com o mais deprimente desprezo público. A América Espanhola se defende, de um modo ou de outro.

No Brasil, nenhuma pressão da população ocorre sobre o Estado, pois a inconsciência de unidade nacional não faz de nós uma nação, mas apenas um imenso território habitado por milhões que não enxergam o outro como um igual concidadão, resultando, assim, na total incapacidade de articulação política em um nível minimamente decente, de modo que nossas mentes passam a ser dominadas pelo mais abjeto individualismo, que culmina na mais absoluta indiferença em relação aos negócios públicos (pois, ao não sermos um grupo unido, não consideramos a mesma bandeira e os mesmos valores, e, então, o imediatismo individualista passa a imperar, fazendo com que o dinheiro público seja visto como de ninguém, do qual qualquer um pode se apropriar impunemente). Corruptos e corruptores são, em todas as eleições e seu exceção, reeleitos para cargos da mais alta responsabilidade, pois a estupidamente aprovada ação do "rouba mas faz" é vista como sinônimo de uma forçada alternativa de eficiência, e não como o crime que verdadeiramente é (faz sim, mas faz mal-feito e superfaturado, objetivando apenas vantagens pessoais - o que é a mesma coisa que um imenso prejuízo). Quase ninguém sabe os direitos que a Constituição lhes confere e nem o modo de defendê-los, uma vez que aqui não há a cultura da defesa coletiva e da intelectualidade, e se dá mais valor às habilidades dos pés do que às da cabeça (aliás, como não somos uma nação, mas apenas um país, nossa sagrada bandeira infelizmente não é considerada nacional, mas sim esportiva: afinal, é empunhada apenas de quatro em quatro anos em virtude de um evento organizado por uma entidade supranacional, e não por iniciativa dos próprios brasileiros para a defesa dos interesses coletivos).

Os nossos vizinhos têm os mesmos problemas que nós, e talvez ainda mais graves, já que em alguns deles há sérias restrições à democracia, mas lutam unidos para resolvê-los, inclusive enfrentando Estados de viéses totalitários. Não estão mortos. Aqui não há ameaça manifesta à democracia e não usamos isso em nosso favor, o que demonstra, como cantava o gênio Renato Russo, que no Brasil “está tudo morto e enterrado agora”.

Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho
Autor: Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho


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