LETRA LEGÍVEL? OBRIGAÇÃO E NECESSIDADE



Quem nunca, após consultar um médico, foi à farmácia comprar o medicamento e se deparou com a situação do farmacêutico não conseguir entender qual o remédio que foi prescrito, passando a receita de mão em mão pelos funcionários da farmácia, a fim de decifrar o que foi receitado. Esse é um caso freqüente e que a maioria da população já passou. Algumas vezes, ainda tendo que retornar até o consultório para que o médico “traduza” o que foi por ele receitado.

Mas qual seria a explicação para os médicos terem a letra tão feia? Eles alegam falta de tempo nas consultas e que na Faculdade aprenderam a escrever de maneira rápida em virtude da quantidade de informações recebidas e então, essa maneira de escrever, tornou-se um hábito.

O jornalismo do programa Fantástico da Rede Globo, do dia 11 de abril, mostrou a família de uma idosa que teve dificuldades para comprar o remédio receitado pelo médico, que estava escrito de maneira ilegível. Relata a neta da idosa que percorreu dez farmácias na cidade tentando entender, sem sucesso, o que foi prescrito pelo médico. Com a impossibilidade de entender o prescrito, voltou até o médico que também não entendeu o que havia receitado para a paciente.

Se o médico tiver consultório, fica mais fácil resolver o mal-entendido. É só fazer uma ligação ou se dirigir para o local. O difícil é resolver quando se trata de plantonista da rede pública de saúde, aonde os médicos não vão todos os dias, apenas nos dias em que estão de plantão. E como saber qual será o próximo dia de plantão? E se ele irá comparecer no seu plantão, visto que são muito comuns as faltas médicas.

O risco de ocorrer à compra de medicação errada é muito grande. Um caso recente aconteceu no interior do estado de São Paulo, na cidade de Adamantina, onde um cidadão foi comprar um remédio para gripe e acabou levando um para o coração. A dificuldade do farmacêutico em entender a letra do médico acabou causando uma troca de medicamentos. Vale lembrar que muitos medicamentos têm o nome parecido, o que pode levar um farmacêutico ou balconista menos experiente ao erro.

Esses enganos não ocorrem apenas nas receitas médicas, mas também em prontuários. Em um estudo realizado pela Universidade Estadual de São Paulo (Unifesp), cerca de 34% dos prontuários escritos a mão não são interpretados corretamente. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas divulgou que cerca de 1.500 casos de intoxicação ocorrem por ano, sendo eles por erro administrativo, que inclui a falta de entendimento pela letra ilegível do médico.

O novo código de ética médica entrou em vigor no dia 13 de abril de 2010, essa foi sua sexta atualização, a última havia sido feita há 20 anos atrás. O problema de letra ilegível do médico foi um dos alvos da mudança com o intuito de evitar enganos nas receitas e nos prontuários. A letra terá que ser legível, podendo ser digitalizada. Mas se essa mudança trará alguma melhoria para os pacientes, só o tempo poderá dizer. Tudo indica que não, pois os médicos alegam que os hospitais públicos e postos de saúde não têm estrutura física para a digitalização dos prontuários, das receitas e atestados médicos.
Autor: Matheus Testa Dias Furtado


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