Quando a maré encher e a chuva passar



E nos disse o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva - “Não chove todo dia nem toda hora. Quando acontece uma desgraça, acontece”. Então, vamos deixar acontecer Vossa Excelência! Vamos deixar que mais gente morra, vamos deixar que mais gente perca sua dignidade carregada pelas enchentes e pelos deslizamentos de terra. Vamos deixar que mais sonhos sejam destruídos e que ao menos a condição de ser humano seja perdida. Será que precisamos esperar que mais chuvas aconteçam, pois são elas as responsáveis pelos caos das cidades alagadas e, exclusivamente, por esta razão nos leva a pensar que nada deve ser feito? Esperaremos, portanto, de braços cruzados por mais chuvas a fim de alagarem mais sonhos, mais histórias de vida levadas por correntezas e enchentes.
E onde estão os direitos do homem? O que fazemos com eles? Não são garantidos a todos? Será que só quando acontecer mais uma desgraça é que vamos pensar em agir? Então, precisamos de um desastre natural para nos impulsionar a mobilização social e a responsabilidade pública?
Também! Essas pessoas que agora estão alagadas moram nas favelas, nos morros, em zonas de riscos para um deslizamento de terra. Sim, mas eram as moradias que essas pessoas dispunham. São barracos chamados de lares e são vidas que ali residiam. Vidas com histórias, com singularidades, vidas merecidas de um mínino de respeito e de condição de serem vidas.
Vidas que, neste instante, já não são mais vidas. São números, corpos, vítimas, escombros, e estão mortas. Quantas dessas vidas transformaram-se em lama? Quantos dos esforços oriundo das forças de trabalho significam, agora, nada? E Vossa Excelência diz que não se pode fazer nada enquanto as chuvas não pararem. É fácil colocarmos a culpa nos fenômenos naturais porque são eles os responsáveis pelo caos que a humanidade tem se transformado. É fácil dizer que a culpa vem do céu e que infelizmente são desastres naturais inevitáveis.
É culpa das chuvas, dos terremotos, é culpa dos céus e da Natureza e a culpa do homem? Não, o homem não age no mundo e não o modifica. O homem não se co-responsabiliza porque não é culpa dele já que não chove todo o dia nem toda hora, assim, não se pode evitar que aconteça uma situação catastrófica.
As ações do homem não provocam consequências? E será que não são essas consequências a explicação para tantos desastres? Afinal, a culpa não é do homem.
Ele não precisa fazer nada, basta deixar com que as chuvas, os terremotos levem embora mais sonhos, mais vidas, mais histórias e levem também, em meio à lama e destroços, a dignidade humana.
O que fazer com as pessoas que choram? O que fazer com as crianças, agora, órfãs? E onde essas pessoas que perderam tudo vão morar? E, para onde vão os sonhos? E o que de fato chamamos de vidas? E o que está sendo feito para que não mais vidas sejam chamadas de mortas?
Vamos esperar a chuva passar?
Autor: Max Vinícius Mariano


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