Acredite Se Quiser... (3)
Embora eu só tivesse oito ou nove anos de idade, isso fazia com que eu me sentisse muito maior, porque me dava a sensação de que era uma maneira de protegê-la ...
Sem nenhuma outra fonte de renda, ela costumava alugar três dos quatro quartos da casa: um para a família do seu Marinho , outro para a família do seu Anibal e o terceiro para dois seresteiros que costumavam tocar violão pelas ruas da nossa Ilha.
Eu e minha avó costumávamos dormir na mesma cama: uma enorme cama colonial e aconteceu que numa das noites que eu estava lá com ela, o grande portão de ferro rangeu como sempre fazia quando era aberto e ouvimos passos de alguém subindo os degráus da escada que dava acesso à varanda, caminhando até a porta da sala e rodando a chave na fechadura ...
Meio assustado, eu perguntei baixinho para a minha avó:
- "Que barulho é esse, vó ?" ...
- "Deve ser alguém dos quartos que chegou ... Não é nada demais, não !" ...
E então, eu me virei para o outro lado e procurei dormir, mas logo em seguida, começou um barulho diferente: era como se alguém estivesse jogando uma bolinha que rolava pelo chão e eu, então, agora já apavorado, perguntei à minha avó:
- "E agora , vó ? ... O que é que é isso ?" ...
- "Não é nada não, meu filho !... São os gambás rolando os cajás que eles apanham nos cajazeiros do quintal !... Pode dormir sossegado !"...
E eu acabei mesmo dormindo mas, para o nosso espanto, na manhã seguinte, constatamos que não haviam chegado nenhum dos moradores dos quartos, que continuavam completamente vazios e que também não eram gambás rolando cajás no telhado porque estávamos no Outono e não havia nenhum cajá nos pés ! ...
Acredite se quiser ! ...
Autor: Marcelo Cardoso
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