Menstruar ou não Menstruar? Eis a questão



Diariamente em nossa prática diária como ginecologistas somos questionados à respeito desse tema. Recentemente foi publicado na revista VEJA uma matéria à respeito desse assunto, com a seguinte manchete: “Nem as jovens querem mais. Depois das trintonas e quarentonas, agora são as de 20 e até menos que resolvem parar de menstruar. Nos consultórios, elas pedem o uso contínuo da pílula- e os médicos dizem sim”. Vale lembrar ao jornalista que escreveu esse texto que não é bem assim...

pilula2Sabe-se que todo tratamento deve ser feito com base em cada indivíduo, repeitando ao máximo a individualidade e a opinião do paciente, que tem tido um papel cada vez maior na decisão do tratamento instituído. Não existe mais aquela medicina em que os médicos falavam o que seria feito e as pacientes acatavam sem discutir nada. Hoje em dia com o advento da Internet, da Mídia e da disponibilização de informação médica de maneira acessível e de fácil compreensão, tudo mudou. Por um lado o paciente chega ao consultório com mais informações para questionar sobre as melhores condutas e medicamentos, mas por outro lado temos que tomar um pouco de cuidado de onde esses pacientes tiram essas conclusões e informações e buscar saber se essas fontes são sérias e confiáveis. Hoje em dia o paciente tem papel fundamental na decisão da conduta a ser tomada, mas não é tudo que o paciente quer que vai ser feito.

Vamos citar um exemplo: Chega ao consultório uma paciente de aproximadamente 45 anos, com queixa de sangramento menstrual irregular e com duração aumentada. Ela chega com o seguinte discurso: “Dr, não aguento mais esse sangramento todo mês, não seria melhor fazer a cirurgia para tirar logo o útero (cirurgia conhecida como HISTERECTOMIA) e resolver esse problema de uma vez por todas? Me disseram que o útero não serve para nada a não ser gerar um filho e depois doença. Você não concorda?

Inicialmente e à curto prazo podemos considerar a histerectomia como uma resolução definitiva e mais simplória para a paciente exemplificada, mas não concordo com essa história de que o útero só serve para gerar filho e doenças. ( Seria um tratamento muito mais prático e menos acadêmico para o caso). Estudos atuais vem questionando cada vez mais as queixas relacionadas à sexualidade após a histerectomia, o que mostra uma preocupação diferenciada em relação ao bem estar da paciente e em relação à qualidade de vida após a cirurgia. De maneira alguma estamos querendo dizer que não se deve mais realizar tal cirurgia, pois mesmo com todas as outras opções terapêuticas, ainda existirão casos em que só a histerectomia irá resolver, mas para sempre avaliarmos e esgotarmos todas as outras formas de intervenção antes da cirurgia.

O útero tem grande importância biológica na gestação e sustentação da pelve, entre outras funções. No entanto, percebe-se que muitas mulheres relacionam a sua feminilidade com a presença de seu útero, ou até mesmo da sua menstruação, vinculando o órgão e esse episódio (menstruação) com a condição de ser mulher, de ser feminina. O conceito de SEXUALIDADE engloba outras coisas que não somente o sexo. Para muitas pessoas esse conceito limita-se à prática de relações sexuais.

Outra opção para essa paciente exemplificada é suspender a sua menstruação de maneira eficaz, e se isso não for possível, aí sim deve-se proceder para a intervenção cirúrgica. Mas... Como fazer isso? Como parar a menstruação das pacientes? Posteriormente abordaremos mais esse tema.

Outro exemplo é daquela paciente de 20 anos, que tem cólicas intensas no período menstrual, desde a sua primeira menstruação, tem vida sexual ativa e precisa de algum método anticoncepcional. Como fazer para suspender a sua menstruação?



A mulher que quer parar de menstruar deve ter alguns assuntos bem esclarecidos na sua cabeça:

· Como vou me sentir se ficar sem menstruar? Será que vou achar que estou grávida todos os meses? Se você é aquela mulher que fica super preocupada com qualquer sintoma de mudança na sua vida talvez ficar sem menstruar não seria a melhor opção para você.

· Será que a minha menstruação me incomoda tanto assim? Tenho tanta cólica e TPM a ponto de não querer menstruar? Quais as outras indicações para ficar sem menstruar?

· Posso usar algumas das técnicas e medicamentos disponíveis para parar a minha menstruação? Será que não apresento nenhuma contra indicação aos métodos?

· Quais os métodos anticoncepocionais que podem levar à ausência da menstruação?

· Existe algum método anticoncepocional que me dê 100% de eficiência e que não tenha nenhum efeito prejudicial a minha saúde?



Vamos lá... Vamos tentar responder a algumas questões citadas anteriormente...



Se você é daquelas pessoas que se atrasar 3 horas a sua menstruação você acha que está grávida, NÃO use qualquer método para suspender a sua menstruação pois você irá ficar praticamente louca com isso. O uso de anticoncepcional com pausa leva a um sangramento que SIMULA a menstruação normal. Isso foi feito para que a população recebesse esse método (as pílulas anticoncepcionais) com mais naturalidade na época em que foram lançadas (há aproximadamente 50 anos). Portanto, para aqueles que falam que a menstruação serve para “limpar”o organismo ou que ficar sem menstruar não é natural, a menstruação como uso dos anticonceopcionais hormonais também não é natural e após 48 injecao1horas da ingestão do último comprimido de anticoncepcional, o corpo já eliminou o hormônio contido no comprimido. Concluindo o raciocínio, então não haveria nenhum problema ficar sem menstruar, desde que a paciente não apresente nenhuma contra-indicação para o uso do método. E quais são os métodos que levam a paciente à AMENORRÉIA (ausência de menstruação)?

Dentre os métodos que fazem a paciente ficar em amenorréia, podemos citar as pílulas anticoncepcionais de uso contínuo ( como CERAZETTE®, ELANI 28®, GESTINOL 28® por exemplo) , as pílulas de baixa dose de uso cíclico ingeridos continuamente (YAS®, YASMIM®, ELANI CICLO® por exemplo) , alguns anconcepcionais hormonais injetáveis ( DEPOPROVERA ® por exemplo), a introdução de um DIU com ação hormonal ( MIRENA®), ou aplicação de um implante no tecido subcutâneo (IMPLANON®).

Dentre as contra-indicações, de maneira geral são:

· Alergias a componentes dos métodos

· Idade da paciente (Pacientes acima de 35 anos devem tomar cuidado por aumento do risco de trombose venosa profunda associado ao uso de anticoncepcionais hormonais)

· Tabagismo

· História pessoal de câncer de mamas

· História de sangramento genital sem causa aparente diagnosticada.

· Antecedente pessoal de Problemas cardíacos

· Colesterol elevado

· Antecedente pessoal de trombose venosa profunda e ou acidente vascular cerebral (AVC ou derrame cerebral)



Vale lembrar ainda que não existe nenhum método anticoncepcional que seja 100 % seguro e eficaz. As pílulas, os DIUs, as injeções, o implante, a vasectomia e a laquedura tem sempre um índice de falha, conhecido como índice de Pearl e podem sempre ter complicações como irregularidade menstrual e sangramento. Portanto sempre lembre-se de perguntar ao seu médico ginecologista quais são as medicações e outras condições que podem interferir na eficácia do seu método anticoncepcional.

Se você também não quer menstruar, consulte seu ginecologista e veja se no seu caso é possível.criancasnapraiademaodada

E lembre-se :

Você merece uma vida saudável!


Dr Ricardo Luba

Comentários: Visite: www.ginecologialuba.com.br ou http://ricardoluba.zip.net
Autor: Ricardo Luba


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