DENGUE E LEISHMANIOSE: ORIENTAÇÕES



A relevância da orientação e informação adequadas tem peso fundamental tanto no que se refere à prevenção quanto à gestão de epidemias.
A DENGUE retornou ao nosso país há mais de 20 anos e foi se instalando nos municípios.
Surtos epidêmicos ocorreram em alguns estados e não chegaram a chamar atenção embora já no início ocorressem casos graves e óbitos, pois algumas pessoas já com a saúde debilitada ou por confundir a doença com outras patologias de origem febril, a trataram de forma errada.
Recordo que em 1993/94 houve em Rondonópolis uma grande epidemia, com muitas pessoas infectadas pela Dengue, e já com alguns óbitos, mas as dúvidas e/ou desconhecimento quanto à doença eram quase totais, o que, certamente, gerou um enfoque equivocado na condução e tratamento dos casos.
A atenção para as emergências epidemiológicas deve ocorrer de modo contínuo e sistemático com o aperfeiçoamento dos mecanismos de identificação das emergências epidemiológicas, concorrendo para isto a capacitação do profissional da área médica. Isto – ressalte-se – é importantíssimo!
Em Rondonópolis dispomos de um médico infectologista, atendendo nossa cidade e vários outros municípios, que aqui buscam atendimento, o que se dá através de encaminhamento seja do clínico geral ou outro médico ao identificar a importância do quadro do paciente.
Acontece que muitos não buscam atendimento e outros recebem o diagnóstico vago: “É uma virose...” e sequer são encaminhadas para as sorologias, importantes e necessárias.
Volto a frisar: as sorologias são importantes e necessárias!
Não interessa a demora no resultado!
Estes exames são importantes para o paciente, pois em caso (e muitos tiveram) de uma segunda Dengue, eles deverão receber maior atenção. São importantes também para a Saúde Pública, devido à necessidade da notificação ao Ministério da Saúde. Não existindo a notificação, até os repasses de recursos diminuem, aumentando ainda mais o problema.
A DENGUE inicia de modo repentino. Estado febril (a temperatura é sempre alta), dor de cabeça, nos olhos, no corpo, mal-estar geral. Outras patologias cursam com sintomas semelhantes e devido a isto é importante a consulta, a orientação médica e o exame sorológico.
Outro grave equívoco que ocorre: o uso abusivo do Paracetamol (Tyllenol)!
- É bom pra dengue, eu comprei e já estou tomando...
É comum se ouvir isso.
Quando há a prescrição médica é de oito em oito horas; o uso errado poderá causar graves danos ao fígado e ao sistema renal. Muitas pessoas costumam utilizar tal medicamento para todo e qualquer mal-estar, indiscriminadamente. Lembro também que o Paracetamol faz parte da composição de inúmeros medicamentos!
Quando à LEISHMANIOSE, é uma doença silenciosa.
Na maioria das vezes, a pessoa nem percebe quando foi infectada.
Uma febre baixa, tosse seca, gânglios inchados debaixo dos braços e no pescoço; pode ocorrer, mal-estar, dores no corpo, diarréia num dia ou dois, e melhora. Mas o protozoário já está no organismo do individuo, agindo silenciosamente, por um tempo que pode envolver meses ou anos.
Conforme os professores doutores Éderson Akio Kido e Paulo Paes de Andrade: “A Leishmaniose começa com sintomas que despertam pouca atenção, e que vão avançando até deixar a pessoa tão fraca que pode levá-la a morte. As principais vítimas são as crianças. Adolescentes e adultos também são afetados, embora em menor número. Um rápido diagnóstico é importante e os profissionais da área de saúde, familiares e amigos, podem ajudar se souberem como identificar”.
Geralmente, começa com uma febre que pode durar horas ou o dia inteiro, não é muito forte e se apresenta quase todos os dias. A criança com febre procura abrigar-se do vento e sentar-se ao sol. Dias depois, ela perde a vontade de brincar, passando a maior parte do tempo sentada ou deitada, e deixando de se alimentar direito. Posteriormente, passa a ter tosse, fica pálida, com os lábios descorados, o cabelo sem brilho, perde muito peso, e a barriga cresce. A febre continua, e um longo cansaço a impede que brinque, vá à escola ou faça as suas tarefas, explicam eles.
A relevância do exame é fundamental e pode ser feito pela mãe, o pai ou o agente de saúde e vai verificar que há algo duro e crescido no lado esquerdo da barriga da criança, que sai de trás das costelas e pode ir até abaixo do umbigo, nos casos mais graves. O médico, ao deitar a criança (ou adulto) perceberá que o baço e o fígado estão aumentados e deverá solicitar as sorologias.
Torna-se importante a observação: um leve aumento de temperatura, emagrecimento, crescimento do abdome não costuma impedir a vida normal, e a pessoa prossegue suas atividades. Mas enquanto isto a doença prossegue e não sendo diagnosticada logo, sem o tratamento correto, poderá evoluir para um quadro grave.
A orientação é procurar os Postos e PSFs, relatando ao médico a ocorrência dos sintomas acima descritos. E, com o tratamento adequado, à doença tem cura!
A Leishmaniose não iniciou agora, repentinamente. O inseto vetor está presente em nosso meio há vários anos, com alguns casos ocorrendo anualmente. Mas a partir de 2007 o número aumentou.
Centenas de cães doentes foram mortos e surgem novos animais doentes a cada dia. É muito triste ver um animalzinho de estimação, que está com a família há muito tempo, ser sacrificado. Como já escrevi em artigos anteriores (Artigos.com, ou em meu blog Vetores Patogênicos, blog Abril), os cães são vítimas inocentes assim como nós.
A eliminação do vetor começa na casa de cada um com a limpeza de folhas no quintal. Talos e folhas de bananeira devem ser removidos, restos de lixo em locais sombreados, a criação de animais de sangue quente: deve ser evitada (flebótomos tem predileção por galinha, cavalo e burro, além do cão).
Importante: quem transmite a doença não é o cão!
É o Flebótomo, um mosquito muito pequeno, que costuma atacar à noite e de manhã bem cedo. Seu vôo é saltitante e muito rápido. A picada é dolorida, ‘queima’.
Lamentavelmente tanto a DENGUE quanto a LEISHMANIOSE estão presentes em nosso município (e em muito locais no país).
Descaso e falta de atenção pelo poder público ao longo dos últimos anos, erros no enfoque no combate ao vetor e está aí o resultado. Para mudar esse quadro, novas ações (e o retorno de outras atividades que eram eficazes e foram abandonadas) e poderemos ter em nosso município uma população saudável, livre de mazelas...
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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