Yes, we can! But not this way.



Estudos de diversas entidades respeitadas, mundo afora, são unânimes ao apontarem o Brasil como uma das maiores potências econômicas do mundo, baseado no tamanho de seu PIB nos próximos anos.
Se fizermos uma análise mais criteriosa, podemos constatar que muito se avançou desde o governo discreto de Itamar Franco, com a implantação do Real e a continuidade, responsável, de Fernando Henrique Cardoso, com sua equipe econômica muito bem representada pelo grande economista Pedro Malan. O controle efetivo da inflação foi, sem dúvida, a maior vitória de nosso país ficando apenas atrás, talvez, da proclamação da República.

Ainda, no governo de Itamar, a aprovação da lei 8.666, que regulamentou o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, instituindo normas para licitações e contratos da Administração Pública, deu maior controle e transparência aos processos licitatórios no Brasil, contribuiu para a diminuição da corrupção e de desvios, mostrando ao mundo que o país se incomoda com seu atraso e busca mecanismos para sair dessa condição de país emergente e passar a ser visto, o mais rápido possível, como um país desenvolvido.


Com FHC, a reforma do Estado, tendo a sua frente Bresser Pereira, volta-se novamente para a grande questão da reforma da administração pública brasileira que, por diversas vezes se iniciou, mas sem alcançar um efetivo avanço, como foi o caso da Administração Paralela de JK, a tentativa de desburocratização do Estado com o saudoso Hélio Beltrão, e a descentralização da Administração Federal com o Decreto-Lei 200 de 1967. Todas essas tentativas de mudança visavam a quebra de um modelo de administração pública herdada da Era Vargas que, no início, foi o que havia de melhor, mas com o passar dos anos foi se agigantando e causando o que mais se teme em administração, seja ela pública ou privada: a não eficiência de seus meios e controles tornando-se onerosa e lenta. E essa situação não leva ao desenvolvimento.

Com a aprovação de diversas leis importantes, como a RLF 101/2000, que diz em linguagem jurídica, mas em alto e bom tom que, todo agente público que estiver a frente de recursos públicos responde à justiça não somente pelo desvio mas, também pelo mau uso, o que dá ao mundo, mais uma vez, a idéia de que aqui, nós não temos apenas bananas, temos muito mais, temos uma sociedade preocupada com os gastos governamentais e com a efetividade das políticas públicas.

Nesse raciocínio de buscar o desenvolvimento, pode-se verificar que nos últimos anos muitas pessoas ascenderam à classes sociais mais altas, e milhões de outras (26,9 milhões – segundo o IBGE) saíram da linha da pobreza e adentraram a classe C ( pelo conceito do IBGE, famílias cuja renda é de R$ 1.115,00 a R$ 4.807,00). Essa migração de classes sociais demonstra claramente que boa parte dos brasileiros aumentou sua renda, bom sinal para um país que almeja ser desenvolvido. Atentos a esse efeito, diversos grupos econômicos, de peso, começam a se interessar pelos, agora, cidadãos consumidores e suas rendas (46% da população brasileira).

Com vista ao mercado internacional, diversas empresas tentam se alavancar no consumo interno para se impor ao mundo globalizado e, a classe C robusta de hoje garantirá esse feito, sem dúvidas. Grupos como Vale, AmBev, Foods, Natura, Gerdau e, mais recentemente, a fusão do Pão de Açúcar com as Casas Bahia, transformando-se em um dos maiores grupos de varejo do mundo, solidificam-se com eficiência em gestão e conhecimento de mercado, aproveitando oportunidades e transformando o antigo modelo de vinte anos passados em progresso e negócios lucrativos. Isso sem dúvida demonstra uma capacidade de crescimento extraordinário de nossa economia, pois nossos bancos não sabem mais onde colocar dinheiro de tanto que cresceram, não apenas por conta das altas taxas de juros, mas por serem agressivos e diversificarem seus investimentos em outras atividades como mineração, tecnologia e outras tantas mais.

Tudo isso mostra que temos empresas fortes para competir com empresas estrangeiras e empresários competentes, cenário bem diferente de quando o presidente Collor lançou seu atabalhoado plano econômico e de quebra a frase: “...quem não tiver competência para ser empresário que abra um botequim.”

Segundo o grande empresário brasileiro Abílio Diniz, o país está crescendo cada vez mais, a construção civil (casas) está aumentando muito, e essas casas vão precisar de móveis e utensílios dentro delas. Pensamento correto do empresário, claro. Ainda pelas contas do empresário recebemos, em 2009, investimentos na ordem de US$ 25 bilhões e, para 2010, a conta será ainda maior, US$ 35 bilhões.

Se considerarmos que o ano de 2009 foi de crise para todo o mundo, nós estamos muito bem, ainda que a carga tributária seja de 37,5% do PIB e o déficit de cerca de R$ 50 bilhões no sistema previdenciário (dependendo da ótica). Ah, quase esqueci, estamos entre os países com as maiores taxas de juros reais do mundo, isso é naturalmente um inibidor de investimentos, mas ao que parece o empresário não tomou conhecimento e avança investindo sem medo. Fato curioso, pois nossa economia tomou um rumo certo, ainda que seus fundamentos, muitas vezes, apresentem resultados que causam certa estranheza.

Segundo o relatório Global Economics Paper Nº 99 da Goldman Sachs, o Brasil se despontará entre as cinco maiores economias do mundo já em 2015, se posicionando como uma potência econômica de fato. Notícia muito boa, pois ouvimos falar que o Brasil é o país do futuro desde sua independência em 1822. Parece que de fato esse momento está chegando, quase duzentos anos depois. Porém, ah! porém, sempre tem um porém, como dizia um ex-professor meu de tempos longínquos, nem tudo é o que parece e nem tudo que reluz é ouro. Desculpem o clichê, mas torna-se necessário para chamar atenção para algumas coisas.

Um país para se desenvolver, que é o foco desse assunto, precisa alavancar algumas outras variáveis, sistema de saúde de qualidade, nível educacional e distribuição de renda são algumas dessas variáveis intrínsecas à qualquer forma de desenvolvimento de uma nação. Pois bem, vamos avaliar: a Saúde no Brasil está caminhando para níveis considerados ótimos, ou ao nível de países como Canadá, França ou mesmo Chile? Em 2015 teremos a Saúde dos nossos sonhos, com atendimentos e procedimentos médicos de primeira qualidade? A política de saúde pública vigente em nosso país está em sintonia com essa afirmação (ser potência em 2015)? Parece que não, pois a dengue e a doença de Chagas ainda convivem conosco como se nada estivesse acontecendo. Mas continuemos nossa análise. No que concerne à Educação, podemos verificar no site do INEP que nossas crianças estão cada vez mais ficando mais tempo em sala de aula, as escolas estão abarrotadas de alunos, isso também é bom, é ótimo, mas a pergunta que não quer calar: Qual o nível dessas escolas, desses professores, dessa política educacional? Para estarmos no grupo seleto das maiores economias do planeta não basta produzir aço, soja, carne bovina, minério, ter uma das maiores reservas de petróleo do mundo, é necessário ter Educação, mas não somente educação de b-a-bá, precisamos ter educação de qualidade e isso passa pela melhor formação do corpo docente, das instalações educacionais Brasil afora, de pesquisa de ponta em Universidades sérias, de investimento em tecnologia. Isso não se resolve em apenas cinco anos, são necessários pelo menos trinta anos (conforme experiências comprovadas em países como Coréia, Chile, Tailândia, China, Índia e outros). Esse modelo educacional existente em nossas escolas, principalmente as públicas, onde o aluno finge que aprende e o professor finge que ensina, não poderá sustentar a posição de um Brasil potência por muito tempo. Ser potência mundial vai muito mais além do que ter uma balança comercial com superávits por meses consecutivos, de prêmios internacionais oferecidos ao nosso presidente, de ser escolhido o país sede para uma copa do mundo de futebol ou de uma Olimpíada.

Ser potência econômica requer de um país ter um povo educado, não para a mamãe ou para a Unesco, mas para o mundo globalizado e feroz que está aí. Nossos jovens precisam desenvolver a cultura do saber, do querer saber. Nossos governantes devem aos jovens brasileiros uma política educacional de Estado, não de Governo. Os governos passam, o Estado fica, e nesse momento precisamos ter discernimento para cobrar, dos responsáveis pelas políticas públicas, algo mais sério e duradouro que as simples bolsas-isso ou bolsas-quilo. O Brasil já mostrou que pode, Yes, we can! But not this way! A distribuição de renda está de fato melhorando, e aí alguns otimistas exagerados de plantão poderão dizer: com o aumento da renda dos brasileiros, cada um buscará a melhor forma de educar seus filhos, ledo engano, pois ao contrário do que diz a teoria econômica clássica, onde todos os agentes são racionais, o cidadão não tem a capacidade de defesa quando a questão passa por políticas de Estado (atitudes de governo para o longo prazo).

Pois bem, quem está dizendo que seremos potência mundial nos próximos anos são eles, os estrangeiros (OCDE, Banco Mundial, Goldman Sachs, Bill Gates, e muitos outros organismos internacionais sérios). Se não quisermos perder o Trem-bala da história, a hora é agora.

Desenvolvermos políticas educacionais de longo prazo e com alto nível de qualidade, transformar a profissão docente em um espécie de carreira de Estado, ter atrativos reais para que as melhores cabeças se motivem a abraçar a carreira de professor, como já ocorre nos Estados Unidos, entender que o Brasil precisa de políticas públicas para o Brasil, não para aquele estado ou aquela região.
Como disse um embaixador americano em uma das reuniões da OMC, quando interessa ao Brasil ele se comporta como potência, quando as coisas começam a se complicar ele logo saca seu discurso de país emergente. Ora, Brasil, assuma sua posição no pecúlio, assuma os louros e os ossos de ser um país em tardio, mas franco desenvolvimento.
Autor: Carlos Daniel da Silva


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