O problema do mundo



Conflitos raciais

O problema do mundo


Há muito tempo se discute, no Brasil, se as diferenças de rendimento e oportunidades entre brancos e negros é uma questão de classe ou uma questão de raça. Antes da guerra, haviam autores que diziam que a "mestiçagem" contaminava o povo brasileiro com características morais e intelectuais indesejáveis, e que nossa esperança estaria no "branqueamento" gradual da população. Esta maneira racista de entender as coisas ficou desmoralizada depois do Nazismo, e a questão das diferenças entre as raças passou a ser interpretada em termos de classe. Nesta nova visão, não existe diferenças raciais significativas entre as pessoas, e sim diferenças sociais, de classe. Quando os pobres fossem menos pobres, quando houvesse educação e oportunidade para todos, os problemas de desigualdade de renda e sobretudo de oportunidade desapareceriam.

Esta visão de que o problema racial no Brasil era, na verdade, um problema de classe, com raízes na história tão recente da escravidão, se apoiava no fato de que o Brasil nunca teve barreiras raciais tão rígidas quanto, por exemplo, os Estados Unidos, e sempre experimentou um grau muito alto de mestiçagem e convivência entre pessoas de características raciais e culturais muito distintas. Alguns autores trataram de explicar isto pelas diferenças entre a Igreja Católica, que trata a todos como iguais, e a tradição protestante, que tende a manter as comunidades muito mais isoladas e fechadas. Outros buscam a explicação na cultura portuguesa, tradicionalmente mais promíscua e menos preconceituosa do que a anglo-saxã. Seja como for, o fato é que o Brasil nunca teve legislação que tratasse as pessoas de forma diferente conforme sua raça ou cor, e o preconceito e a discriminação racial, que nunca deixaram de existir, permanecem no mundo das relações privadas, e não são comportamentos aceitos nem aprovados abertamente pela sociedade. A esperança dos defensores da tese de que o problema racial era uma questão de classe era de que o Brasil poderia evoluir realmente no sentido de um grande cadinho racial, o "mel Ting pot" que alguns autores norte-americanos previam para seu país, mas do qual os Estados Unidos parecem se afastar cada vez mais. Podemos concluir observando que a época moderna tem presenciado um movimento no sentido de recuperação e valorização da identidade das pessoas, em seus diferentes aspectos - culturais, históricos, religiosos, e mesmo físicos - e também fenômenos assustadores de violência e genocídio associados a conflitos raciais, religiosos e culturais. Não é mais possível pretender que as pessoas sejam jogadas na vala comum da uniformidade, que muitas vezes encobre situações odiosas de discriminação e desigualdades. A recuperação e valorização das identidades é um processo rico e profícuo, que pode dar às pessoas mais sentido para suas existências, e abrir caminho para novas conquistas. Mas deve ser um processo das pessoas, dos grupos, e permanecer sempre aberto e plural. O Estado não deve assumir para si a tarefa de definir de forma forçada a identidade das pessoas, mesmo em nome de ideais tão nobres como a "pesquisa" ou o "conhecimento". O que hoje é proposto em nome do melhor conhecimento pode se transformar com facilidade em um instrumento de discriminações e conflitos entre cidadãos de diferentes classificações. A igualdade de todos perante a lei, apesar de encobrir, como sabemos, tantas desigualdades de fato, continua sendo uma das grandes conquistas das sociedades democráticas contemporâneas, e não deve ser mexida; se isto ocorrer, o que está pensado como um avanço pode terminar se transformando, afinal, em um grande Podemos concluir observando que a época moderna tem presenciado um movimento no sentido de recuperação e valorização da identidade das pessoas, em seus diferentes aspectos - culturais, históricos, religiosos, e mesmo físicos - e também fenômenos assustadores de violência e genocídio associados a conflitos raciais, religiosos e culturais. Não é mais possível pretender que as pessoas sejam jogadas na vala comum da uniformidade, que muitas vezes encobre situações odiosas de discriminação e desigualdades. A recuperação e valorização das identidades é um processo rico e profícuo, que pode dar às pessoas mais sentido para suas existências, e abrir caminho para novas conquistas. Mas deve ser um processo das pessoas, dos grupos, e permanecer sempre aberto e plural. O Estado não deve assumir para si a tarefa de definir de forma forçada a identidade das pessoas, mesmo em nome de ideais tão nobres como a "pesquisa" ou o "conhecimento". O que hoje é proposto em nome do melhor conhecimento pode se transformar com facilidade em um instrumento de discriminações e conflitos entre cidadãos de diferentes classificações. A igualdade de todos perante a lei, apesar de encobrir, como sabemos, tantas desigualdades de fato, continua sendo uma das grandes conquistas das sociedades democráticas contemporâneas, e não deve ser mexida; se isto ocorrer, o que está pensado como um avanço pode terminar se transformando, afinal, em um grande e lamentável retrocesso.e lamentável retrocesso.
Autor: natanael correia


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