Perdemos o bonde...mais uma vez!



Quando criança meu avô sempre dizia que nós colhemos o que plantamos. Minha professora no pré-primário (como se chamava na época), contava a fábula da formiga e da cigarra. Mais tarde, já no fim da década de setenta, ouvía-se muito nos programas de entrevista de personalidades políticas, a seguinte frase: o Brasil perdeu o bonde da história.
Confesso que naquela época minha cabeça se confundia um pouco, pois parecia que todos falavam por metáforas! Não via sentido nenhum naquelas frases. Muito tempo depois, já adulto, pude perceber e entender o que cada frase queria dizer e mais, o que estava por trás da fábula da formiga e a cigarra.
No início dos anos setenta, o Governo falava, na figura do então ministro Delfim Neto, que para o país desenvolver, primeiro era necessário fazer o “bolo crescer” e aí sim, dividir esse bolo com o povo brasileiro. Assim de 1973 à 1980, vários empréstimos internacionais foram tomados na tentativa equivocada de resgatar o "Milagre Econômico”, posição que o país exibia por crescer em torno de 10% ao ano. Ainda, em meados da década de setenta, o mundo mergulhou em uma crise enorme e de proporções devastadoras, a crise do petróleo. O Brasil importava praticamente 87% do petróleo que consumia nessa época e sua situação frente aos credores internacionais se mostrava delicada. Mesmo com o crescimento fabuloso para a época, a posição financeira era desequilibrada, se agravando ainda mais devido a crise e a falta de responsabilidade do Governo brasileiro da época, por não ter promovido um ajuste duro e austero, culminando em total desequilíbrio externo, gerando a concentração de renda brutal e aumento da pobreza, binômio que os brasileiros amargam até os dias de hoje.
Alguns anos após esse episódio, em fevereiro de 1987, o então presidente Sarney declarou que suspenderia o pagamento da dívida externa, ato que agravaria ainda mais a situação financeira do Brasil perante o mundo. E isso trouxe consequências graves ao crescimento e, obviamente ao desenvolvimento do país. Dizía-se então que o país não se desenvolvia por conta da dívida. Passados mais alguns anos, já no governo Collor, o problema não era mais a dívida mas a inflação, daí o país não alcançar o tão almejado desenvolvimento econômico e social. Chega então o plano Real, no governo do presidente Itamar Franco (e não de FHC), e finalmente controla-se a inflação. O discurso então era mais uma vez outro, que o país precisava passar por amplas reformas para, aí sim, desenvolver. Claro que em outros governos também se falou em reformas, em inflação, em dívida externa, mas a cada governo se escolhia qual seria a bandeira da vez para a desculpa dos fracassos na Administração Pública do Brasil.
Por diversas vezes, o país se viu regredindo frente aos acontecimentos da economia e da própria história. Hoje estamos em plena Globalização e a desculpa agora são as crises mundiais, como a que ocorreu em setembro do ano de 2008 e ainda vitima muito as economias pelo mundo afora.
Sem dúvida que as crises afetam as economias e, assim, o desenvolvimento de todos os países, mas o que afeta ainda mais o desenvolvimento de um país é o nível de importância que se dá às políticas de Estado, e não de Governo. Enquanto o Brasil considerar as políticas de Governo mais importantes que as políticas de Estado, perderemos todos os bondes da história, colheremos apenas o que plantamos de forma incipiente e atrasada, e com certeza faremos companhia para a cigarra, não mais tão cantante como antes.
Autor: Carlos Daniel da Silva


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