Um olhar urgente para o lixo



Autores: Marçal Rogério Rizzo* e Sirlei Tonello Tisott**

O consumismo, a ideia de encontrar a felicidade nas compras, o marketing e as propagandas cada vez mais eficientes, a televisão e o merchandising entrando em nossos lares e, pois, a imposição de novos padrões de vida têm sido responsáveis por muitas transformações na sociedade atual. É um resultado desalentador para uma sociedade que só pensa em consumir, só tendo olhos para o “ter” e esquecem-se do “ser”. Até as crianças tem sido tratadas como consumidores.

Paradoxalmente, isso tudo se tornou uma mistura explosiva que constitui o retrato de nossa sociedade, que está longe de dar conta dos danos ambientais que vem provocando com a geração de lixo.

É importante justificar que a destinação inadequada do lixo põe o equilíbrio ambiental e os próprios seres humanos em risco. Sua decomposição emite gases, odores e, em muitos casos, fumaça contendo possíveis gases tóxicos. Uma parte desse descarte, como sacos plásticos, papéis, jornais e outros resíduos leves, pode ser levada pelo vento e espalhar-se por grandes áreas. O lixo gera chorume, que contamina a água e o solo, além de poder servir de abrigo e alimento para animais e insetos que são vetores de doenças. As mais comuns são a leptospirose, a peste bubônica e o tifo murino, causadas pelos ratos; a febre tifóide, a cólera, a amebíase e a giardíase, causadas por baratas, além da malária, febre amarela, dengue, leishmaniose e elefantíase, transmitidas por moscas, mosquitos e pernilongos. O lixo jogado nas ruas entope galerias e agrava o problema das enchentes, indo para os rios e posteriormente para os mares, afetando, assim, a vida marinha.

Essa combinação de impactos ambientais permite-nos afirmar que o lixo é um grave problema para a sociedade moderna. Assim, vivemos numa sociedade de/em risco. Esse senso de incertezas e indefinições sobre o futuro do planeta e da humanidade arrasta-nos para reflexões.

O livro “Sustentabilidade: um exemplo de cidadania na Amazônia”, elaborado no Porto das Trombetas (Pará), já de início alerta que: “[...] atualmente, o homem ocidental consome em média 100 vezes mais recursos do que consumia seus antepassados nos anos 1700. Consumimos 40% de tudo o que a terra produz. Se não forem reduzidos esses padrões de consumo, o futuro é bem negro. Por volta de 2050, teremos falta de alimento e de água muito mais do que temos nos dias de hoje”.

Essas observações sobre a escassez de recursos naturais são frequentes na mídia em geral e nos estudos da própria comunidade acadêmica, evidenciando tratar-se de um risco eminente para o ser humano.

O pano de fundo deste artigo é, no entanto, levar para o debate em alto tom, os resultados de nossas ações diárias com relação à geração de resíduos sólidos. Se continuarmos nesse ritmo de consumo e de geração de resíduos, outros riscos – que aqui representamos por meio de questionamentos: Onde vamos colocar tanto lixo? O que vamos fazer com nossas sobras? E a quantidade cada vez maior de embalagens usadas para onde vão? Qual será sua destinação?

O exercício de buscar o fio condutor para responder a essas perguntas é fascinante. Começamos, então, lembrando que, no imaginário popular, o lixo deixa de ser problema quando é recolhido pelo caminhão defronte de nossas casas. Isso traz a sensação de nos termos livrado dessa incumbência, que é dar um fim adequado aos restos gerados, no entanto não nos tornamos imunes às consequências que esse lixo pode ocasionar, pois, no Brasil, ainda a maioria dele vai para os lixões a céu aberto, contaminando o solo, a água e o ar.

Isso faz que todas as vias nos levem a rever nossas atitudes diárias. Os pessimistas e acomodados já se dão por vencidos, pensando que nada pode ser feito e que a “guerra contra o lixo” já está perdida.

Reafirmamos que a “guerra” só está começando; afinal de contas, nossas ações diárias são pequeninas diante do gigantesco problema que o lixo traz para o meio ambiente, com fortes impactos sobre o equilíbrio ambiental. O foco dado aqui ocupa um lugar singular, uma vez que toda grande ação depende de detalhes, ou seja, de pequenas ações, e, se cada indivíduo contribuir com sua parte, muita coisa poderá mudar.

Olhando para a adiante, não será fácil nem rápido reestruturar a forma de pensar e de agir de cada cidadão com relação a seus restos. O ponto de partida poderia ser a sensibilização da comunidade.

Na tentativa de superar esse problema, iniciativas vigorosas que têm dado resultado ocorreram em torno da aplicação da política dos “3 Rs” (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Agora, existe uma variação dessa política ampliando outros Rs. O próprio livro já citado apresenta 7 Rs: o 1º R é o REDUZIR – que, como o próprio significado da palavra traz, é reduzir o consumo em nosso dia a dia, otimizando somente o que é necessário, e, assim gerando menos resíduos. O 2º R é o REUTILIZAR – que se resume em pegar algo que iria para o lixo e transformá-lo em outro objeto que atenda a nossas necessidades. Já o 3º R (REAPROVEITAR) é algo que não serviria e agora se tornou aproveitável, como, por exemplo, talos e cascas de legumes e frutas que são reaproveitados em outros pratos. O 4º R é o REPENSAR – que, de forma sintética, é pensar melhor antes de consumir e também, pensar o que consumir, sempre analisando a geração de resíduos. O 5º R diz respeito ao RECUSAR – é saber dizer “não” sempre que necessário. O 6º R é RECUPERAR – ao invés de comprar novo, recuperar-se o que já possui. Por fim, o 7º R é o RECICLAR - que, em sua essência, é destinar o que poder ser reciclado, como, as latas de alumínio, as garrafas pet, entre outros materiais.

Nesse sentido, o editorial da Folha de São Paulo (edição 30/01/2010) discute o cenário da reciclagem no Brasil: “Quem vê os milhares de garrafas plásticas de refrigerante a entupir rios e córregos pelo Brasil afora, neste verão incomumente chuvoso, não imagina que o país ostente o segundo maior índice de reciclagem do material. Com 54,8% alcançados em 2008, só fica atrás do Japão (69,2%). A União Europeia, com toda sua tradição ecológica, reaproveita meros 46%. No que respeita às latas de alumínio, recicla-se por aqui mais de 90% do total em circulação, recorde mundial. Tal desempenho se explica por vários fatores, a principiar pelo alto gasto de energia na fabricação do alumínio e consequente vantagem econômica da reutilização.O sucesso do alumínio decorre também, por outro lado, da abundância de brasileiros pobres, para os quais os centavos angariados com latinhas podem pesar no orçamento familiar [...]”.

É encorajador ver pessoas e instituições voltadas para os Rs, entretanto é necessário não só melhorar a situação ambiental de sua casa, bairro, cidade, e do planeta, mas também criar diretrizes, rotinas para o cumprimento de metas que levem aos 7 Rs e, assim, o estabelecer prioridades com o nosso lixo de cada dia.

*Marçal Rogério Rizzo: economista e professor da UFMS - campus de Três Lagoas (MS).

**Sirlei Tonello Tisott: Contadora e professora da UFMS - campus de Três Lagoas (MS).

OBSERVAÇÃO: Artigo publicado no Jornal Folha do Povo - Campo Grande (MS), 16 de junho de 2010 (Ano XII – nº 3.674) – página A-2

Artigo publicado no sítio eletrônico do Instituto de pesquisa e Educação Ambiental Planeta Terra.

Artigo publicado no sítio eletrônico da Revista Visão Socioambiental.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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