Conflitos internacionais: um jogo de regras complicadas



A diversidade de línguas, costumes, raça constituiu-se, no decorrer das eras motivos de conflitos entre nações. Muitas práticas em razão da cor da pele ou condição social - como a escravidão - e as perseguições religiosas, na época das Grandes Cruzadas chegaram também ao século XX, em outra roupagem, mas no mesmo ideal, como podemos ver nas atrocidades cometidas durante a II Guerra Mundial, guiada pelo culto à uma raça.
Todos esses acontecimentos revestiam-se da intolerância com a diferença e, mesmo agora, diante de normas internacionais pela propagação e respeito à dignidade humana, os conflitos gerados principalmente em razão das etnias não cessaram. Embora as manifestações de repúdio, xenofóbicas, ocorram em todo o globo, os locais habitados por povos muito diferentes são áreas de alerta, pois estão sempre propícios às manifestações violentas para garantirem território e poder.
Vemos essa realidade na cultura basca - território espanhol famoso pelos seus atentados – nas guerrilhas entre palestinos e israelenses, nas lutas entre tribos africanas rivais que foram colocadas em mesmo território ou os perderam quando da colonização.
Questão envolvendo problemas étnicos também voltaram a estremecer a Ásia Central.
Na segunda quinzena do mês de junho, o Quirguistão, país próximo ao Uzbesquistão, ganhou atenção dos noticiários do mundo todo. O motivo reside em um conflito étnico deflagrado após a deposição do então presidente Kurmanbek Bakiyev, no mês de abril.
Apesar de esse ser um considerado um dos estopins da guerrilha, o quadro político do País sempre careceu de estabilidade, motivo em parte devido ao território, povoado por cerca de 5,3 milhões de pessoas, ser separado em três etnias distintas, a saber: quirquiz (69%), uzbeques (14,5%) e russos (8,4%). No local também estão instaladas bases militares e aéreas da Russia e Estados Unidos, respectivamente.
Segundo noticiou a agencia Folha Online, do jornal Folha de São Paulo, no dia 19 de junho, a crise envolve as etnias quirquiz e uzubeques e os conflitos ocorrem em sua maioria na região sul do país, na cidade de Osh.Diante dos embates armados, a população uzubeque buscou refúgio no país vizinho, Uzbesquistão, entretanto há grande dificuldade está em garantir que essas pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, cheguem com vida até a fronteira.
Assim como em todo conflito de grandes proporções e predominantemente armado, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas foi acionado. Esse órgão, conforme nos ensina Gustavo Bregalda Neves (2010, p. 127), é chamado quando se necessita de uma “intervenção política na solução pacífica dos conflitos”, mesma tarefa atribuída à Assembléia Geral da ONU. Ainda em lição do autor, o órgão “[..] em caso de ameaça à paz, tem o poderio de atuar de modo preventivo ou corretivo. Pode, inclusive, utilizar-se da força militar ofertada pelos membros das Nações Unidas.”
No caso do Quirguistão, o Conselho atuaria na contenção dos revoltosos de maneira a devolver a paz na região atingida e minimizar o fluxo de refugiados. A participação desse órgão no local faz-se concomitante à do Conselho de Direitos Humanos da ONU, cuja tarefa é investigar as causas que ensejaram a luta entre as etnias. Há suspeita, por parte do Conselho de Estado Americano, que o conflito tenha sido ensejado por grupos políticos exilados que pretendem desestabilizar o país, segundo consta em reportagem divulgada no site de notícias da BOL, em 19 de junho. (http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/06/19/eua-anunciam-ajuda-de-r-56-milhoes-para-o-quirguistao.jhtm),
O panorama apresentado é, portanto, o de um país retalhado por grupos étnicos mantidos em suposta paz por uma tênue linha de tolerância. É palco ainda da demonstração de força de duas das maiores potencias bélicas do mundo, Rússia e EUA. Qualquer abalo nesse precária estrutura social não resultaria diferente.
A deposição de um governante seguida pela continuação dos entraves políticos que propiciaram esse ato convergiram para o conflito em tela, além de insuflarem as rixas étnicas existentes as quais, infelizmente, acabam servindo de instrumento para a manutenção da instabilidade na região, impedindo que um governo provisório restabeleça a ordem. A situação no Quirguistão é preocupante pois abriga em uma área estratégica no sentido militar, o que pode contribuir no aumento das áreas conflitantes e servir de campo para um domínio paralelo comandado pelos dissidentes do governo deposto.
Frente a casos como esse, envolvendo povos tão distintos em mesmo território deve-se compreender que a coexistência forçada não garante tempos pacíficos. Basta uma ruptura nas forças que equilibram esse complicado jogo e nada mais. O liame do suportável é ultrapassado a ponto de somente o trabalho exaustivo de organismos internacionais conseguir restabelecer a tolerância e a conseqüente paz.
Autor: Thaís Rodrigues Iembo


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