Fogo: sinônimo de limpeza urbana?



Autores: Marçal Rogério Rizzo* e Sirlei Tonello Tisott**

Nos últimos dias, vários canais de comunicação vêm alertando a população sobre a baixa umidade do ar, uma situação que leva ao desconforto e dificuldades para respirar, provocando alergias, dentre outros problemas respiratórios. Somado a isso, observa-se uma intensificação na prática de queimadas em perímetro urbano como forma de eliminar lixo, folhas, galhos, gramíneas e arbustos que incomodam o cidadão.

Conforme matéria veiculada no Jornal do Povo de Três Lagoas (edição de 24-01-2009), os terrenos baldios representam 48% da área urbana. “Dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico apontam para uma triste realidade – visível a olhos nus - em Três Lagoas: a quantidade excessiva de espaços vazios no Município”. Diante de elevada quantidade de vazios urbanos – muitos desses utilizados somente como forma de especulação e em situação de extremo abandono –, surge a reação da população, que, por meio de métodos primitivos, ateia fogo para “limpar o terreno” e, assim, vemos nossas cidades ora em focos de chamas, ora tomada pela fumaça e por grande quantidade de fuligem. Três Lagoas é apenas um caso para ser tratado aqui no artigo, pois a maioria das cidades convive com esse problema.

Surge, entretanto, um questionamento: será que o cidadão que ateou fogo em um terreno ou monte de folhas e galhos sabe o que representou sua ação? São inúmeros os prejuízos que o fogo pode causar, sejam ambientais, sejam econômicos. Acarreta danos à saúde humana (provoca crises respiratórias), degrada o solo, contribui para o aquecimento global, desequilibra o ecossistema, elimina qualquer forma de vida (das visíveis até as microscópicas), além de pôr em risco a vida de pessoas. O dano estético também ocorre, pois ninguém, em sã consciência, acha agradáveis e bonitos espaços pós queimadas.

Matérias em jornais de caráter elucidativo e informativo sobre a ilegalidade das queimadas em terrenos baldios são bastante comuns. Citam-se os exemplos da Folha do Povo (edição de 06-07-2010); Jornal on-line Capital do Pantanal (edições de 24-07-2007; 15-07-2008 e 17-08-2009) e do Jornal do Povo de Três Lagoas (edições de 12-03-2009; 11-03-2010 e 17-04-2010). Nesse mesmo sentido, contamos ainda com as matérias televisivas e de rádio.

É inadmissível que, em pleno século XXI, onde são ativas e abrangentes as discussões e debates sobre preservação e conservação ambiental, que as pessoas ainda não se conscientizaram sobre os impactos negativos que o fogo, a fumaça e a fuligem trazem para toda a sociedade e meio ambiente.

A nova ordem mundial não aceita mais esse tipo de atitude, já que existem outros métodos saudáveis para efetuar a limpeza de áreas urbanas. Por exemplo: a “velha” capina (mesmo que exija maior esforço) talvez seja a melhor aliada à conservação do solo e ainda poderá gerar postos de trabalho e renda para alguns cidadãos. O resíduo das gramíneas, folhas e galhadas poderia servir de matéria-prima para compostagem e transformado em adubo orgânico.
Devemos abdicar da crença de que o fogo é um aliado da limpeza, já que ações maléficas ao meio ambiente trazem a má qualidade do ar e os demais impactos.

Temos que construir e conservar o pensamento ambientalista que se tornou um lema da descentralização ambiental a partir da Conferência da RIO-92, que é o “pensar globalmente e agir localmente”. De tal modo, a mudança de hábitos começa com pequenas atitudes individuais e, considerados os aproximadamente cem mil habitantes que vivem em Três Lagoas, poderá resultar numa efetiva contribuição para a sustentabilidade.

Precisamos mudar este conceito, pois fogo não é sinônimo de limpeza, mas sim de ausência de civilidade, de falta de educação ambiental, de poluição, degradação e destruição. Por fim, atear fogo a terrenos é crime ambiental!

*Marçal Rogério Rizzo: economista e professor da UFMS - campus de Três Lagoas (MS).

**Sirlei Tonello Tisott: Contadora e professora da UFMS - campus de Três Lagoas (MS).


Observação: Artigo publicado no Jornal Folha do Povo - Campo Grande (MS), 07 de julho de 2010 (Ano XII – nº 3.691) – página A-2

Artigo publicado no Jornal O Pantaneiro – Aquidauna (MS), edição de 17 a 23 de julho de 2010. (Ano XLIV – nº 2.436). - página 4B.

Artigo publicado na homepage da Fundação Planeta Terra.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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