Lideranças Saudáveis E Disfuncionais



Palavras-chave: Gestão de Instituições de Ensino, Liderança , eficiência e eficácia, mudanças, clima organizacional, renovação, legado.

Resumo em Português:

Os educadores têm assumido cargos gerenciais em diversas instituições de ensino. Para que se tornem líderes saudáveis é necessário que desenvolvam competências de gerenciamento e liderança. Inspirada no livro "O Monge e o Executivo", escrito por James Hunter, o artigo objetiva apontar os caminhos para formação de lideranças saudáveis dentro do ambiente educacional. A ausência de ferramentas e recursos pode levar as instituições a obterem baixos níveis de eficiência e eficácia. As transformações e mudanças pelas quais passam as instituições de ensino impactam o clima organizacional e a vida das pessoas, portanto capacitar às lideranças é fundamental para o sucesso da organização. A capacitação é tratada aqui não apenas como um meio para dotar os líderes de recursos externos, mas como uma estratégia para levá-los ao autoconhecimento e fortalecimento dos recursos internos. Dessa forma poderão aprender a sustentar paixão, serenidade e propósitos para construção de legados pessoais e organizacionais.

Resumo em Inglês:

Educators have assumed managerial positions in various learning institutions. To become healthy leaders it is necessary to develop skills in management and leadership. Inspired in the book "The Monk and the Executive," written by James Hunter, the paper indicates the ways to train leaders within the healthy educational environment. The absence of tools and resources can lead the institutions to achieve low levels of efficiency and effectiveness. The transformations and changes by which the institutions of education are submited impact the organizational climate and life, therefore, empower the leadership is critical to the success of the organization. The training here is treated not only as a means to equip the leaders of external resources, but as a strategy to lead them to self and strengthening of internal resources. Thus can learn to sustain passion, serenity and purposes for the construction of personal and organizational legacy.

Lideranças Saudáveis e Disfuncionais

Hoje em dia a história de John Daily, o protagonista do best-seller O Monge e o Executivo por James Hunter, viraram ponto de referência em praticamente qualquer conversa sobre liderança ou negócios.E por que tanto interesse nesse livro? É mais uma história do executivo altamente inteligente e habilitado que foi promovido à liderança, e, depois, fracassou no trabalho. Ou seja, não possuía as habilidades e competências necessárias para liderar. Ao mesmo tempo observou que ao se dedicar compulsivamente ao trabalho sua qualidade de vida e tempo com a família diminuíram o que impactou diretamente sua relação com seus familiares. Em fim, toda uma vida de "sucesso" aparentemente estável perdeu-se de repente, sem explicações ou fatores mensuráveis.

Será que o caso de John é um pouco como a história de lideranças que encontramos hoje em nossas instituições educacionais? Acredito que muitos líderes em nossa geração estão perdidos ao tentar administrar uma vida sem suficientes recursos internos, nem externos? Nossas instituições precisam ser reconhecidas como empresas de vanguarda, que alinham gestão de pessoas à estratégia organizacional.

Instituições de ensino precisam acolher bem o cliente, formá-lo com excelência e manter um relacionamento de qualidade e em longo prazo. Como os funcionários no dia a dia poderão fazê-lo se o clima interno nas escolas e universidades não propiciam esse ambiente inspirado. Trabalhamos em empresas onde tanto o processo como o resultado são fatores humanos.

Estamos em busca de um porto seguro num mundo em constante mudança e nos faltam ferramentas, mentores e assessores que possam nos ajudar a exercer a liderança de forma confortável e produtiva. Todo líder precisa conhecer o seu senso de destino e missão pessoal para então colaborar com o crescimento organizacional. Precisamos parar e descobrir quem somos hoje e para onde estamos indo. Isso é o que torna a figura de Simeão – o ex-executivo que se tornou monge, coach e treinador de líderes-servos num personagem atraente.

O próprio Peter Drucker – que preservou sua lucidez de forma surpreendente até o final de sua vida disse recentemente no seu artigo "Você está preparado?": "Daqui a algumas centenas de anos, quando a história do nosso tempo estiver sendo escrita com a perspectiva de um distanciamento maior, muito provavelmente o mais importante evento que os historiadores verão não será a tecnologia, nem a internet, nem o comércio eletrônico. Será a mudança sem precedentes ocorrida na condição humana. Pela primeira vez, literalmente, um número substancial e crescente de pessoas tem a possibilidade de fazer esco­lhas. Pela primeira vez, as pessoas terão de administrar a si próprias. E é preciso que se diga uma coisa: elas estão totalmente des­preparadas para isso."

Em minha experiência como consultoraestou constantemente ouvindo a mesma pergunta: "Com que ou com quem posso contar num mundo onde nada parece definitivo ou absoluto?"No século XXI, poucos adultos sabem planejar suas vidas com clareza e confiança. Como ensinar nossos funcionários e alunos a fazê-lo? Como preparar lideranças capazes de lidar com as transformações necessárias no presente século.

Penso que se líderes e adultos conseguirem aprender a gerenciar o processo de mudança em suas próprias vidas, então vão descobrir novas formas de renovar suas famílias, suas empresas, suas instituições de ensino, sua cultura e finalmente, as salas de aula. O domínio e maestria de mudança são vitais para o processo de renovação que nossa sociedade como um todo procura. A instabilidade e clima de mudanças pelo qual vem passando as IES com fusões e aquisições precisam ser olhados com cuidado.

Então, nos cabe identificar competências e habilidades para capacitar líderes e adultos no exercício de suas funções que se inicia com o planejamento de vida. Nesse processo, após algum tempo de aperfeiçoamento, tenho ouvido de vários líderes: Estou aprendendo a ter consciência de minha realidade atual – quebrar paradigmas pessoais e transferidos, definir meus propósitos e paixões, sem esquecer-me de perceber as reais ameaças, oportunidades, pontos fortes e fracos no ambiente em que estou inserido. Isso significa aprender a navegar com maestria em fases de transição.

Nem todo líder passa por crises pessoais e profissionais de forma dramática, como as que descobrimos nas biografias dos grandes líderes (Ghandi, Nelson Mandela, Madre Teresa, Abraham Lincoln, Winston Churchill, etc.) e empreendedores mais conhecidos (Jack Welsh, Abílio Diniz, etc).

O que tem nos ajudado bastante no desenvolvimento de lideranças é a descoberta do modelo simples de Frederic Hudson sobre as fases no "Ciclo de Renovação". Estamos todos diante do mesmo desafio: como sobreviver e prosperar tanto pessoal como profissionalmente num mundo tão difícil de compreender, muito menos dominar. Até o próprio conceito e forma de "dominação" está sendo questionado nesse contexto. Ser um dominador hoje pode ser tanto uma declaração de poder como de fraqueza, dependendo da situação e visibilidade, como no exemplo do antigo líder autoritário e não democrático.

Em se tratando de mercados, concorrentes, mas ágeis e inovadores, surgem com uma velocidade assustadora e subvertem a posição de grandes grupos, uma vez que não consigam reagir com a mesma velocidade e destreza. Infelizmente o tão cobiçado e procurado "domínio" do mercado ou da vida não é mais estável. Novamente, o fascínio pelo dilema do "executivo" John Daily no mosteiro, no livro "O Monge e o Executivo": Seu desencanto não difere muito do nosso. Na realidade os modelos para os executivos de hoje mudaram:

1. De crescimento linear para cíclico (saber prosperar no caos tanto na vida pessoal como profissional em vez de contar com velhas formulas, sendo mais proativo e espiritualizado, e menos reativo e imediatista);

2. De liderança controladora para servidora (de líderes voltados só para resultados e tarefas para lideres que sabem inspirar os colaboradores com visão para o futuro e formação de um ambiente agradável e produtivo dentro da empresa).

O modelo de Hudson, no "Ciclo de Renovação" tem quatro fases principais – dois "capítulos" de vida que são períodos de relativa estabilidade, e duas fases de "transição" de vida que são períodos de mudança profunda. Ao "entrar na onda das mudanças" em vez de resisti-las, cada um descobrirá caminhos criativos para planejar sua vida – e a de sua empresa -- tanto em tempos estáveis como instáveis. Aprenderá que as estações e as transições têm uma função importante.


Em tempos de rápidas mudanças, não é realista pensar que vamos passar por uma vida profissional e pessoal linear, esperando que os acontecimentos sejam previsíveis. É mais realista enxergar a vida como sendo uma série de transições – algumas previsíveis e outras não – a qual atravessamos com se fossem as estações do ano. Muitos de nós, em nossa trajetória passamos por todas as fases do ciclo. É emocionante trabalhar com lideranças e ver todos os membros chegar a um consenso sobre a fase coletiva da organização! Um verdadeiro teste para uma equipe que provavelmente vencerá os desafios da carreira e da vida pessoal.

Se o líder for alguém dotado de postura de escuta ouvirá o grito da alma de seus colaboradores, de que talvez lá no mosteiro – em algum lugar longe daqui – poderá se achar as respostas profundas para as complexidades que vivemos hoje.Sobreviver e prosperar nesse clima requer uma capacidade criativa e de renovação constante sem prescedentes. Requer um espírito de empreendedorismo prático e ao mesmo tempo sensitivo que considera as necessidades do outro tão importante como as suas.

Uma Sociedade Resiliente de Líderes e Adultos Auto-Renovados que Terminam Bem

Nós, como os adultos e líderes de hoje, conduzimos, nossas vidas nas muitas dimensões do caos e estamos sendo desafiados a aceitar isso como estilo de vida, da forma indicada no clássico de Tom Peters "Prosperando no Caos".Querendo ou não, gostando ou não, esse é nosso mundo de hoje, nosso ambiente de trabalho, nosso espaço e tempo atual. Não adianta tentar fugir.

Quando Dag Hammarskjold foi Secretário Geral do ONU, ele observou: "Não temos escolha em termos do contexto de nosso destino. Mas, o que inserimos dentro do contexto é nossa responsabilidade. Aquele que procura uma vida de aventura escolha essa experiência - na medida de sua coragem".

Como bons atletas, podemos nos preparar para viver e até fazer diferença neste mundo – independente de suas realidades complexas. Podemos aprender a sustentar paixão, alegria e propósito durante todas as estações. Podemos descobrir realização num mundo diferente daquele como que estávamos acostumados. Podemos – se não temos outra opção – aprender a soltar nossas perdas e descobrir novos caminhos para nossas vidas. Até quando passamos por transições e perdas podemos tirar proveito de toda uma gama de recursos na luta para manter o sentido em nossas vidas, até nos momentos de desencanto e recolhimento.

Apesar de nem sempre alcançar o estado desejado de equilíbrio e, com toda certeza haverá um universo infinito de surpresas e imprevistos, se nos abrirmos para passar pelo processo de renovação contínua e permitir que nossas vidas pessoais sejam monitoradas, maior será nossa capacidade de dominar os períodos de crise e direcionar nosso barquinho nos rios turbulentos em que nos encontramos.

O objetivo da vida é viver e servir, deixar um legado, fazer diferença num mundo indiferente, não simplesmente existir ou envelhecer. Temos que viver com paixão até o final, não meramente ter sucesso e construir um patrimônio. O que é crucial é que os líderes aprendam a não se esgotar, mas saber se sustentaremem toda situação, durante a vida. Precisamos adquirir as competências necessárias para encarar e administrar as mudanças contínuas em nossas vidas, até quando sentimos que tudo está desmoronando. Então faremos como o "executivo" que declara uma trégua e visita o seu "monge", para ancorar suas expectativas em informações corretas e práticas. Precisamos inventar caminhos para famílias, empresas e comunidades, ao mesmo tempo em que vivemos num mundo turbulento. Barreiras e bloqueios estarão aí para nos ensinar a trabalhar e viver sobre pressão. Cabe a nós escolher a postura que termos diante das situações que se apresentam.

Conclusão: Tornando-se líderes servidoras

Peter Senge, autor da "Quinta Disciplina" e professor do Sloan School of Management (MIT) pressupõe que os líderes do futuro sejam facilitadores de aprendizagem social: "Líderes são desenhistas, professores e administradores. Esses papéis requerem novas competências: a capacidade de construir uma visão compartilhada, identificar e desafiar os modelos mentais prevalecentes e promover padrões de pensamento sistêmico."

Resumindo, os líderes de "organizações que aprendem" são responsáveis para construir organizações onde pessoas estão continuamente expandindosuas capacidades para moldar o futuro – ou seja, líderes que são responsáveis pela aprendizagem da organização.

Num futuro próximo, redes de "líderes do futuro" em redes formais e informais irão inspirar liderança para todos os setores da sociedade. Não serão iniciativas apenas governamentais , mas do setor privado, terceiro setor inseridos em variadas instituições e nas mais variadas carreiras.

Alvin Toffler observou: "Isso então é o objetivo final de futurismo social – não a mera transcendência de tecnocracia e sua substituição para um planejamento mais humano, democrático e voltado para o futuro, mais a submissão da própria evolução á orientação humano consciente"

A responsabilidade social nas instituições de ensino é exatamente o que predisse Toffler.

No passado as pessoas buscavam segurança no governo, empresas e famílias. Hoje as estruturasde menor porte em suas vidas, amigos e estruturas mais imediatas e acessíveis parecem ser mais seguras e saudáveis. Vivemos num mundo de pequenas peças e arranjos funcionando dentro de grandes instituições disfuncionais.O grande desafio dos líderes é criar organizações que são auto-renováveis, auto-sustentáveis, tanto com estruturas que aportam continuidade como processos que promovem aprendizagem e mudança contínua.

Maria Carmem Tavares Christóvam é Diretora da Gênesis Consultoria Educacional e Consultora para o Projeto Linha Direta.
www.genesisedu.com.br
www.linhadireta.com.br

(11)50832728
(11)81453354

Sobre a autora:

EXPERIÊNCIA:

·Ex Pró Reitora e Diretora de Universidades, Centros Universitários e Faculdades. Consultora para o Ensino

Superior do Projeto Linha Direta e Diretora da Gênesis Consultoria Educacional.

FORMAÇÃO:

·Aperfeiçoamento na metodologia de Ensino Baseado em Problemas (PBL), pelos docentes da Universidade

de Maastrich (Holanda), cujo objetivo é utilizar diversos modelos de integração de conteúdos, o princípio do currículo em espiral e centralização no aluno, como importantes pilares – Janeiro 2006.

·MBA - One Year Graduate Studies in administration and management - Harvard University

(Boston, MA, Estados Unidos) – 1990/1991.

·Especialização em Administração de Recursos Humanos – UNIBAN/SP – 1995.

·Pedagogia com habilitação em Administração Escolar e Supervisão Escolar Universidade

Estadual de Minas Gerais – 1982.

·Participação em vários seminários, fóruns e cursos de pequena duração, com temas sobre

Filantropia, Captação de Recursos, Criatividade e Inovação na Gestão, Diretrizes Metodológicas tanto para o Ensino Básico quanto para o Ensino Superior.

BIBLIOGRAFIA:

HUNTER, C. James. O Monge e o Executivo. Editora Sextante, 2004;

DRUCKER, Peter. Você está preparado? Artigo retirado do Site da Revista VOCÊ SA - Agosto de 2000;

HUDSON, Frederic M.   The Adult Years : Mastering the Art of Self-Renewal . Editora: Jossey-Bass, United States;

SENGE, M Peter. A quinta disciplina. Editora: Best Seller, Rio de Janeiro.


Autor: Maria Tavares Christóvam


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