Nando um palmeirense doente ou um doente palmeirense?



Nando acordou eufórico, todo alegre, pois era dia de clássico e naquele dia o seu verdão, o seu Palmeiras ia jogar contra o maior rival, o Coríntians Paulista no jogo mais esperado do ano e que seria transmitido para todo o Brasil pelos principais canais abertos de TV. Um jogo que alem de deixar o vencedor mais perto do titulo, pois estava valendo a liderança do campeonato ainda garantia já naquela rodada a tão sonhada vaga para a copa Libertadores da America, o segundo maior titulo que um time brasileiro pode conquistar, pois perde em importância apenas para o Mundial inter clubes. Como era um domingo Nando não perdeu tempo, se arrumou rapidamente e saiu em direção ao mercado municipal para fazer a feira semanal, pois aquele dia era mágico e nada poderia dar errado, nada mesmo. Por isso nem perdeu muito tempo escolhendo as frutas uma a uma como era do seu costume, as verduras nem as examinava, apenas pedia, pagava e as guardava nas sacolas que carregava entre as mãos. O pastel acompanhado do caldo de cana, um costume de todo domingo, uma de suas prioridades na feira foi saboreado afoitamente, quase sem mastigar, pois ele ainda tinha muito que fazer. Faltava ainda passar no açougue para comprar a carne do churrasco, faltavam o carvão e a cerveja, coisas que teria que comprar no super mercado mais próximo, mas o principal de tudo, o primordial de tudo era achar uma lojinha de elétrica onde pudesse comprar uma antena nova para a TV já que o vento forte dos últimos dias cuidara de danificar a sua. Nando é um cara comum, um homem honesto e trabalhador, um bom marido e bom pai um cara quase sem defeitos, um cara que como a maioria do povo brasileiro adora futebol e por isso segundo ele mesmo entre seus poucos defeitos o maior deles é ser palmeirense fanático, alias coisa herdada de seu pai que sempre um foi palestrino doente, bem antes dos tempos da academia de futebol quando o time contava com Djalma Santos, Djalma Dias, Dudu Ademir da Guia & companhia. Seu maior sonho é um dia poder adentrar o Parque Antártica para assistir um jogo do verdão ao natural, no meio da torcida cantando o hino do palestra,vibrando com os gols de Kleber, de Váldivia e com as defesas do maior ídolo do clube nos últimos tempos, o goleiro Marcos. Enfim com as compras sob controle Nando volta para casa apressado, pois ao chegar tem muito ainda por fazer. Tem que temperar a carne, acender o fogo, gelar a cerveja, tudo isso antes que seus amigos cheguem, pois se ele der mole Tião seu cunhado corintiano vai lhe encher o saco o resto do ano dizendo para todos na fabrica que ele é um molenga, um bicho preguiça, e que por isso é que ele é palmeirense, é por isso que ele não serve para ser corintiano. É só brincadeira ele sabe muito bem disto, mas que enche o saco enche. Logo ele que cresceu ouvindo da boca de seu pai historias fantásticas sobre o Palmeiras como a daquela vez em mil novecentos e quarenta e oito (1948) quando um combinado argentino formado por jogadores do River Plate e do Boca Juniors jogaram contra um selecionado paulista no Pacaembu onde os argentinos usaram como uniforme a camisa do Palmeiras. Seu pai inclusive guardou por muito tempo uma foto do jornal da época, que mostrava os craques argentinos vestindo o manto sagrado. Uma foto que ele fazia questão de mostrar para todos quando dizia que um dos maiores craques de todos os tempos do futebol mundial, o famoso Alfredo di Stefano jogou com a gloriosa camisa palestrina. Logo ele que ainda no ventre de sua mãe já era palmeirense, ele que enquanto criança ao aprender a falar a primeira palavra correta que disse foi Palmeiras coisa que seu pai lhe ensinou exaustivamente. Não, nem pensar em ser chamado de corintiano disse para si mesmo. E foi assim neste corre corre que tudo se ajeitou. A cerveja gelou a contento, a carne ficou no ponto e a antena ficou pronta a cinco minutos do começo do jogo, mas ficou. E deu gosto de ver a imagem da TV enquanto os times entravam em campo. Finalmente a bola rolou e já no primeiro ataque do adversário um susto enorme, pois o chute do centro avante encobre o goleiro e a bola passa raspando a baliza e quase dorme no ângulo. Ao bater o tiro de meta nova falha do zagueiro que chuta fraco e bola cai nos pés do meio campista corintiano que lança para Ronaldo na saída do goleiro que faz pênalti ao tentar a defesa. Ai não teve perdão, bola na marca da cal e cartão vermelho para Marcão. Com menos de cinco minutos de jogo a coisa estava bastante complicada. O Palmeiras com um jogador a menos e o placar adverso. Nando não se abalou apesar das gozações impostas por Tião seu cunhado. Mas parece que aquele não seria seu dia mesmo, pois nova falha da zaga e outro gol de Ronaldo. Tudo isso com menos de meia hora de jogo. Enquanto Tião se divertia as suas custas Nando apenas sorria sem graça, um sorriso amarelo de quem esta desapontado, mas confiante que algo vai acontecer para mudar o rumo desta historia. Porém aos quarenta e três minutos o time corintiano que martelava a defesa adversária desde o inicio consegue o terceiro tento coisa que Nando não conseguiu suportar. Levando as mãos ao peito Nando caiu sobre o tapete da sala. Não via mais nada, tudo estava escuro á sua volta, um silencio profundo, Aos poucos, no entanto começou a ouvir vozes que pareciam vir de muito longe, forçou a vista, mas tudo o que conseguia enxergar eram vultos vestidos de branco que o rodeavam e tentavam a todo custo levantá-lo do chão. Nando levou um susto enorme quando conseguiu reconhecer entre esses vultos as figuras de seu pai e da sua mãe, como era possível isso se ambos já tinham falecido há muitos anos. O que esta acontecendo comigo, cadê a TV ele se perguntava e o jogo, o churrasco? Foi então que ele ouviu seu pai lhe falando baixinho, mas com voz firme, Nando , acorda Nando você precisa voltar, ainda não é sua hora, ainda tem muita gente que precisa de você. Volta Nando, você ainda não pode ficar aqui. Ele abriu os olhos lentamente e notou que estava enxergando a luz novamente, mas notou também que estava em um leito de hospital. Uma enfermeira se aproximou de sua cama e ele a indagou com voz fraca, o que aconteceu comigo pergumtou, no que ela lhe respondeu prontamente, você driblou a morte quando assistia a uma partida de futebol. A sua sorte foi ter um bom plano de saúde, foi o resgate atender o chamado rapidamente, pois você sofreu um infarto durante o jogo. Chegando aqui você foi operado, recebeu três pontes de safena e ficou dez dias na UTI ( unidade de terapia intensiva )em estado de coma e acabou de recobrar os sentidos. Nossa tudo por causa do jogo, tudo por que o Palmeiras perdeu, ele indaga novamente. Não ela lhe respondeu tudo por que você já estava doente há tempos, além do que o seu time não perdeu o jogo, apesar dos três a zero no primeiro tempo, o Palmeiras teve uma reação histórica no segundo tempo e ganhou do Corinthians por quatro a três. As lágrimas rolaram dos olhos de Nando quando ele sussurrou entre dentes; obrigado meu Deus por fazer de mim um palmeirense, doente é verdade, mas um palmeirense feliz.
Autor: Salvador Mario Camphora


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