Educação Medieval Religiosa



EDUCAÇÃO MEDIEVAL RELIGIOSA

RESUMO

Quando o leitor anseia pela compreensão do pensamento ocidental deve observar os modelos educacionais ao longo da história, em especial os da Idade média e para tanto necessita agregar através da pesquisa subsídios para tal análise. A síntese apresentada percorre um período da história compreendido entre a queda do Império Romano e surgimento do Renascimento, falamos da Idade Média, período de grande influência da Igreja Católica e formação de novos modelos educacionais pautados na doutrinação religiosa. Alguns aspectos pertinentes à educação na Idade Antiga também são levantados, pois servem de alicerce aos modelos educacionais da Idade Média. O controle da educação medieval por parte da Igreja pode se fazer notar pelos principais pensadores, a maioria ligada à Igreja.

Palavras-chaves: Educação; Medieval; Igreja.

1 INTRODUÇÃO

A educação ocidental apresenta forte influência dos conceitos educacionais greco – romanos e, por conseguinte da educação cristã. São justamente estes conceitos inerentes ao cristianismo medieval que serão analisados e comentados, bem como os fortes cravos deixados e transmitidos para as correntes educacionais hoje defendidas e utilizados como modernos processos de aprendizagem. Os mais desavisados acabam ignorando a reprodução contida nas teorias pedagógicas apresentadas aos profissionais da educação, crendo de fato em mudanças significativas nos modelos educacionais.

A pesquisa bibliográfica e a web –bibliografia são instrumentos indispensáveis para a busca de subsídios acerca de um tema tão amplo e fadigosamente tratado. A opção por uma descrição analítica apresentou –se como indispensável para o processo documental, haja vista a importância de mantermos o processo de crescimento educacional registrado.

A fase histórica investigada remota a Idade Média principalmente, buscando o final da Idade Antiga, mais especificamente o período que antecede a queda do Império Romano e suas características declinatórias. Apresenta comentários acerca da influência no pensamento ocidental e seus reflexos na atualidade. Lembrando que o norte da referida análise é a educação.

2 SÍNTESE DA EDUCAÇÃO ROMÂNICA

Para uma análise didática e coesa ocorre a necessidade de resumidamente descrevermos a educação romana. Esta recebeu forte influência grega, tanto que após as conquistas romanas no Mediterrâneo foi absorvida a cultura helênica e adotada como principio para a educação dos patrícios, sendo difundida por todo o reino latino. Surge sob o império a figura do pedagogo remunerado, mas não nos enganamos a educação continua sendo elitista e dominadora. A educação romana segue duas linhas, avirtutes (moral, civismo e religiosidade) de base românica e a doctrinaeou cultura (instrução escolar técnica em especial as letras) esta quase que totalmente grega. Quando o Império Romano do Ocidente aproxima - se de sua desintegração, nas portas da Idade Média, o mesmo ocorre com a educação clássica. De acordo com Manacorda (2000, p. 107):

Nesta situação de total destruição, em cuja descrição se percebe a mão de um funcionário saído das escolas de retórica, num império desolado e invadido por populações inteiras de bárbaros armados, é impossível falar de organização da vida civil e menos ainda de difusão de uma escola. Para a maioria, já não se tratava de educar os filhos, mas de arrancá-los da morte e da fome. O que pode sobreviver da velha escola senão ilhas esporádicas de instrução familiar ou privada.

3 EDUCAÇÃO MEDIEVAL

Após drásticas modificações na geopolítica surgem os feudos, protetorados que agregam vários donos de terras que as submetem a proteção de um nobre com total apoio da igreja. Igreja esta que sobrevive a desintegração do Império Romano, gênese do feudalismo. Devemos lembrar que aspectos do modelo romano continuam sendo seguidos (influência nas letras, gramática, retórica, organização e logística militar), pois os bárbaros sofreram aculturação, exceção feita a Britânia que ignora totalmente a cultura do antigo império. O período de instabilidade provocado pela decadência e queda do império, bem como a formação dos diferentes feudos gerou um processo de regressão cultural, haja vista que a educação passou a ser secundária. Na nobreza e no clero a falta de cultura e até mesmo analfabetismo torna – se relativamente comum, tal característica é estendida a todos os cantões do antigo império, embora parte dos bárbaros, agora no poder de seus feudos, tenha sofrido aculturação e conversão ao cristianismo. De acordo com Manacorda (2000, p. 111):

No que concerne particularmente ao campo da instrução, verificam–se dois processos paralelos: o gradual desaparecimento da escola clássica e a formação da escola cristã, na sua dupla forma de escola episcopal (do clero secular) nas cidades, e de escola cenobítica (do clero regular) nos campos. Mas, não obstante as exceções, o nível cultural é muito baixo quer entre os bárbaros, quer entre os homens da Igreja, quer ente os representantes do império.

A nova educação cabe a família e a Igreja que abarca características bíblicas, nasce então o modelo de escola cristã. A Igreja passa a ser a controladora e mantenedora da educação, formam-se mosteiros e distintas ordens religiosas, onde os nobres passam a ser instruídos e doutrinados, juntamente com alguns eleitos que formarão o alto clero, culto e dominador. Devemos destacar a ignorância da maioria dos indivíduos do baixo clero, onde até mesmo casos de analfabetismo total era possível ser presenciado.

A escolástica nasce do pensamento cristão europeu da Idade Média. Segundo Manacorda (2000, p.122), "Pode-se dizer, considerando as iniciativas educativas do clero secular e do clero regular, que mudaram os conteúdos, e que dos clássicos da tradição helenístico-romana passou-se para os clássicos da tradição bíblico-evangélica".

Foi durante o governo Carolíngio que a Europa atinge avanços significativos com a construção de vários mosteiros, abadias e conventos, também é criada a escola Palatina que mais tarde serve como referência para vários pontos da Europa. É sob o governo de Carlos Magno que surge o primeiro programa de educação e são trazidos vários religiosos da Europa, educando desta formaa nobreza. De acordo com Martins (2006):

Além de Alcuíno,vão trabalhar na corte imperial, Paulo Diacre, um italiano que trabalhou na corte da Lombardia; Teodulfo que traz de Espanha a riqueza da cultura moçoárabe, Scoto Eriúgena, o teólogo irlandês e por fim, o germano Eginardo. Freqüentavam esta escola o próprio imperador, os príncipes e os jovens da nobreza. Ao lado desta instrução e educação ministrada aos jovens da nobreza por eclesiásticos, a Idade Média oferece-lhes ainda uma educação militar e cortezã, educação à qual, desde cedo, a Igreja procurou também imprimir uma orientação religiosa e doutrinal.

O modelo escolástico atinge seu apogeu através de Santo Tomás de Aquino, pensador aristotélico que diverge do precursor da escolástica, Santo Agostinho. Para Aquino à divergência entre o que chamava de metafísica e a teologia eram claros, porém passíveis em determinados pontos de convergência. Embora rígido o modelo admitia espaço para a reflexão e discussão, bem como aplicação da lógica doutrinatória da Igreja.

A Igreja na Idade média dominava o cenário religioso, detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e o comportamento. O poder econômico também era vasto, pois possuía terras em grande quantidade e até mesmo servos a seu dispor. Os monges e outros clérigos eram responsáveis pela proteção espiritual de toda a sociedade.

O final da Idade Média apresenta sinais de mudanças que atingirão o desenvolvimento intelectual, artístico e científico que florescerão na Idade Moderna, seja por inúmeros fatores como; a organização educacional proposta no período Carolíngio e de fato posta em prática, pela criação das primeiras universidades que rapidamente se espalharão pelo continente, a redescoberta e valorização dos clássicos greco-romanos, surgimento dos mecenatos, cisma da Igreja Católica e advinda do Protestantismo proposto por Lutero

4. CONCLUSÃO

É forte a influência dos grandes filósofos gregos desde a Grécia Antiga, passando pelo vasto Império Romano e impregnando obras de pensadores como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, talvez o maior expoente da Idade Média. A educação apresentada na Idade Média passou por momentos de transição como o fim do Império Romano e o início da Idade Moderna. Os primeiros quatrocentos anos da Idade Média são marcados pela firmação territorial dos novos reinos, pela falta de ênfase no processo educativo da nobreza e até mesmo do clero e, pelo rompimento do modelo clássico, com a concentração massiva na escola cristã patrística.

Mais tarde nasce a educação escolástica de controle exclusivista da Igreja, sendo ela a única fomentadora da produção literária e do pensar. Nada mais conveniente para Igreja que o esquecimento dos clássicos. Somente no governo de Carlos Magno ocorre uma preocupação acentuada com a educação dos nobres e clérigos, surge então um incentivo à construção de mosteiros e abadias, bem como a primeira escola livre da administração religiosa, a escola Palatina que mais tarde serviria de modelo para várias partes da Europa. O modelo escolástico apresenta seu apogeu com Santo Tomás de Aquino que visualiza a possibilidade clara de aproximação e convívio entre a metafísica e a teologia, talvez seja esta sua maior contribuição para o pensamento ocidental.

São ainda heranças do modelo escolástico, os processos de separação em áreas do conhecimento, do sistema de repetição e memorização, a elitização da educação e a doutrinação do indivíduo. Fica clara a correlação entre os modelos educacionais convergentes nos países periféricos com as características acima descritas, mesmo que a educação esteja elencada nos direitos universais do cidadão, a educação padece de qualidade e investimento, continuando por este motivo no controle de poucos.

REFERÊNCIAS

MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.

MARTINS, Maria Olga Pombo. Escolas Palatinas. Departamento de Educação, Lisboa, 2006. Disponível em: <http://www.edu.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/modelos/palatinas.html>. Acessado em: 21 de ago. 2006.


Autor: Mauri Daniel Marutti


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