Sociedade De Consumo, Desenvolvimento E Os Paradigmas Do Nordeste Brasileiro



SOCIEDADE DE CONSUMO, DESENVOLVIMENTO E OS PARADIGMAS DO NORDESTE BRASILEIRO.

Helio Teixeira Leite [1]

RESUMO - O presente texto procura analisar os elementos que influenciam a formação das sociedades de consumo. De como esse consumo poderá comprometer a sustentabilidade da vida no planeta terra. Trata de alguns aspectos que provocaram (e ainda provocam) a redefinição de estruturas socioeconômicas, políticas e culturais, tendo como conseqüência os fenômenos da integração, em alguns cenários e da desintegração. O crescimento do consumo durante o século XX nos países desenvolvidos e a exploração das modernas colônias virtuais. Como no Brasil, em especial, na Região Nordestina esse processo de modernização, de mundialização e de consumo vem se operando e de que forma devem-se enfrentar os problemas advindo do consumo desenfreado.

PALAVRAS – CHAVES: Consumo, sociedade do consumo, nordeste brasileiro.

Dos estabelecimentos de fast-food às câmaras fotográficas descartáveis, do norte do continente americano, da Europa, Austrália, à África do Sul, grande parte das sociedades globalizadas estão hoje entrando na era do consumismo, sobretudo, aquelas sociedades em desenvolvimento socioeconômico, é o surgimento de uma nova cultura global.

A Sociedade de consumo tem um forte apelo que é satisfazer necessidades e gerar novas até então desnecessárias. Essa sociedade apresenta desvantagens e vantagens, dentre esta última está o aspecto econômico que gera novos postos de trabalho – cada novo automóvel fabricado hoje na China representa dois novos postos de trabalho para os chineses.

O aumento do consumo na última década vem provocando um impacto na oferta de água, na qualidade do ar, na preservação das florestas, na alteração das condições climáticas, na diversidade biológica, na saúde humana, dentre outras conseqüências. Até o ano de 2015 deverão ser 150 milhões de automóveis circulando nas ruas chinesas, esses lançando produtos químicos no ar, alterando as atuais condições atmosféricas, além de possíveis alterações no estado emocional de cada pessoa.

O consumo descontrolado da humanidade indica que o mundo, como um todo, Ver-se-á, em breve, diante de grandes dilemas que poderão comprometer a sustentabilidade dos atuais sistemas econômicos, sociais, políticos, culturais, territoriais e os biomas naturais, entretanto, mesmo sem haver nenhuma diminuição das taxas de consumo, nem tudo está perdido. Tem surgido segmento que vêm desenvolvendo alternativas criativas para atender às necessidades crescentes de consumo e, ao mesmo tempo, reduzir os riscos para a sociedade, a exemplo do desenvolvimento pelos cientistas de produtos recicláveis, ênfase a bens e serviços em lugar de somente bens, a busca do equilíbrio entre "quantidade e racionalidade" na produção e uso dos bens e serviços consumidos.

Consumir é bom, não é um mal em si, até porque às pessoas precisam consumir para sobreviver. Os pobres precisam consumir para terem uma vida digna e oportunidades.

O consumo torna-se perigoso quando é o objetivo principal da vida do individuo, ou, por exemplo, quando se torna a medida máxima do sucesso de uma política econômica de um Estado (Governo).

O fato de o consumo ter amplitudes globais não significa que o mesmo se distribui de forma equilibrada, homogênea, ao contrario; 12% da população que vive na América do Norte e Europa respondem por 60% do consumo privado global, já parte da humanidade que vive na Ásia (Sul) e na África Subsaariana respondem por 3,2% do consumo. 1,2 bilhões de pessoas vivem no planeta sob "extrema pobreza" e conseqüentemente não se envolvem em relações de consumo (comerciais). Para esses miseráveis e para os pobres o consumo está voltado exclusivamente no atender de suas necessidades básicas (bem básicas). Europa, América do Norte, Japão, Austrália, países industrializados, são os maiores responsáveis pelo volume de degradação do meio ambiente global associado ao consumo.

As tendências de consumo atingem bens e serviços, sobretudo, aqueles associados à satisfação das necessidades básicas, como água e alimentos. Considerando o crescimento potencial da população, a necessidade de consumo de 825 milhões de pessoas que ainda estão subnutridas, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimento e Agricultura - FAO (Apud O Estado do Mundo, 2004, p. 8.), os países em desenvolvimento dispõem de uma fileira para expandir o consumo.

Água limpa, saneamento adequado são, também, necessidades básicas de consumo. Essas necessidades estão disponíveis para as populações mais ricas, embora que se observe que a situação em relação aos pobres tem melhorado. "Em 2000; 1,1 bilhões de pessoas não tinha acesso à água potável" (O Estado do Mundo, 2004, p. 9.) e duas em cada cinco pessoas ainda não dispunham de instalações sanitárias adequadas.

À medida que, há uma melhora na renda, tende as pessoas a satisfazer outras necessidades, além do consumo de alimentos. Se o índice de alfabetização aumenta, por exemplo, o consumo de papel é maior. "O consumo de papel mais que sextuplicou, entre 1950 e 1997"( O Estado do Mundo, 2004, p. 10 ). O PNUMA (Apud O Estado do Mundo, 2004, p. 11.) "estima que 30-40 quilos de papel são o mínimo necessário para atender as necessidades básicas de alfabetização e comunicação". Uma rápida reflexão a partir destes números permite avaliar o impacto do processo de alfabetização e desenvolvimento dos meios de comunicação, sobretudo, a comunicação escrita, na preservação das florestas, das nascentes de rios, da sustentabilidade de biomas naturais. É um consumo inevitável considerando o uso do papel como ferramenta principal naquela alfabetização e nos meios convencionais de comunicação (livros, revistas, jornais e outros).

A escalada do consumo conta com fortes aliados, a exemplo da televisão que tem sido uma das ferramentas, a nível global, que transforma conveniências em necessidades de consumo, algumas coisas veiculadas há anos atrás se transformaram em objetos de consumo integrantes do dia-a-dia moderno, como por exemplo, o telefone celular.

Uma parcela significativa de renda familiar é consumida com produtos desnecessários para o conforto ou para sobrevivência, entretanto, tornam mais agradável à vida, a exemplo dos gostos com a compra de refrigerantes, objetos de luxo, doces, viagens transatlânticas de turismo. Cabe ressaltar que esses tipos de consumo não se constituem em condutas censuráveis, servindo aqui apenas como ilustração.

O crescimento do consumo durante o século XX levou um aumento no uso de matérias-prima. Entre 1960 e 1995 o consumo mundial de minerais aumentou 2,5 vezes; metais 2,1 vezes; produtos madeireiros 2,3; produtos sintéticos, como plásticos, 5,6 vezes (O Estado do Mundo, 2004, p. 12), a conseqüência é a exploração intensiva dos recursos naturais, sobretudo, feita pelos países industrializados (Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão, Europa Ocidental) que extraem esses recursos dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento - suas colônias virtuais.

Pensadores de renome têm alegado que o consumidor é soberano, que faz escolhas racionais para satisfazer às suas necessidades, entretanto, isso não é verdade se considerarmos que os consumidores tomam decisões por intermédio de um conjunto de informações falhas, incompletas e tendenciosas, ele é movido pela propaganda, influências sociais que criam necessidades artificiais, assim como sua decisão é influenciada por regras culturais, impulsos fisiológicos, associações psicológicas.

Os meios de comunicação têm ação sugestionadora de massa, onde a mídia é o condicionamento do público ao consumo de toda espécie de bens e serviços. A mídia assumiu o papel de príncipe eletrônico consistindo num arquétipo que possui a capacidade de construir hegemonias ao organizar, consolidar e desenvolver soberania extraterritorial.

O papel da mídia vai-se ampliando, momento a momento, articulando várias esferas e instância, seja do poder político constituído formalmente, ou não; seja na organização da vida social.

As empresas têm desenvolvido um conjunto vasto de novos instrumentos destinados a estimular o consumo, aproveitam-se das necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais das pessoas, utilizando-se da propaganda. Os gastos globais em publicidade atingiram US$ 446 bilhões em 2002 (O Estado do Mundo, 2004, p. 16). Outra prática que tem incrementado o consumo é a utilização do dinheiro eletrônico – cartão de credito. Nos Estados Unidos, os Governos têm construído residências suburbanas vastas e financiadas pelo próprio Governo com o objetivo de aumentar o consumo de bens como televisão, geladeiras, mobílias, lavadoras, automóveis e outros bens duráveis.

O consumo desenfreado vem provocando vários problemas para o meio ambiente global, assim como para as sociedades de um modo em geral. Doenças do consumo continuam a crescer, por exemplo, o habito do fumo, que tem provocado morte, custos com tratamento de viciados, assim como, o consumo de alimentos, de forma inadequada, tem levado ao excesso de peso, a obesidade, reduzindo a qualidade de vida e a saúde social.

Nos países industrializados da Europa, América do Norte, a partir da Revolução Industrial que se iniciou na Inglaterra em meados do século XVIII, promoveram a instalação de sociedade urbano-industrial ou sociedade moderna com profundas modificações nas relações de trabalho, nas sociais, econômicas e demográficas.

Essa sociedade moderna redefiniu estruturas gerando integração e desintegração, mundialização de atividades humanas, dentre outras modificações. Surge à automatização do trabalho, a concentração e centralização de produção de bens e serviços, os complexos produtivos de caráter internacional, transnacional, emerge a sociedade da informação.

A nova sociedade trás rápidas mudanças de comportamento social para a população urbana, sobretudo, aquela que vive em conglomerados. Dentre essas mudanças se tem à facilidade de acesso à ampla extensão do sistema de crédito, permitido, desta forma, um consumo antecipado. Surge à sociedade de consumo onde as perspectivas de longevidade tornam-se maiores e conseqüentemente a amplitude temporal de consumo de bens e serviços, para cada pessoa, entretanto; percebem-se as modificações na sociedade onde poderá haver tanto o processo de inclusão como a exclusão de parcelas significativas da população, sobretudo, de baixa renda.

No caso do Brasil algumas regiões puderam-se inserir dentro do mundo globalizado e consumista, enquanto que algumas estão completamente aleijadas deste processo e outras, ainda, como é o caso do Nordeste Brasileiro, estão no processo lento, desorganizado, fragilizado de inclusão nos benefícios dessa então sociedade moderna.

O Nordeste Brasileiro, em 1996 comportava 44 milhões de pessoas, com o maior percentual de população vivendo em áreas rurais, maiores índices de concentração de renda, maiores taxas de analfabetizacão, de mortalidade infantil, menor esperança de vida ou nascer, menor grau de urbanização, mesmo considerando três regiões metropolitanas.

Os indicadores de subdesenvolvimento do Nordeste não contribuem para um crescimento mais acelerado no processo de inclusão na sociedade de consumo.

O consumo está associado ao processo de modernização que por sua vez está correlacionado à instauração da sociedade urbano-industrial ou sociedade moderna em detrimento à sociedade tradicional ou pré-capitalista.

A sociedade moderna está associada a componente de dinâmica demográfica onde prevalecem os desenvolvimentos industriais, modificações nas relações sociais e do trabalho, assim como ao incremento de espaços urbanos no contexto de uma economia capitalista consumista. Em outras palavras pressupõem-se a transição da sociedade tradicional para a moderna, de altos para baixos níveis de mortalidade e de fecundidade, a mecanização da mão-de-obra, educação em massa, modernização dos meios de comunicação, acelerado processo de produção de bens e serviços e de consumo, expansão da ciência e da tecnologia, urbanização com conglomerados urbanos, dentre outros.

O Nordeste Brasileiro tem um quadro humano caracterizado por ter aproximadamente 43.792.133 habitantes, apresentando uma densidade populacional entorno de 28,05 habitantes por , possuindo um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do planeta. Economicamente essa região está diretamente ligada ao setor primário.

A região nordestina sofre com vários fatores de origem física e econômica, entre outros, a seca e o desleixo por parte dos governantes, reforçando as condições que levam a exclusão da mesma em relação à sociedade moderna de consumo.

O Nordeste do Brasil não tem os indicadores que possibilitem que o mesmo esteja inserido no contexto de uma sociedade moderna e, automaticamente, numa sociedade de consumo, (considerando os aspectos positivos como a geração de empregos e renda), por outro lado, paradoxalmente, o mesmo sofre as conseqüências do consumismo desenfreado do mundo moderno, uma vez que, as grandes potências econômicas, de alguma forma, exercem o seu domínio sobre o desenvolvimento do Brasil e conseqüente da região nordestina.

O Brasil é um país emergente, economicamente, entretanto tem fortes características de colônia virtual das potências capitalistas e por extensão a região nordestina.

As sociedades capitalistas consumistas exploram as riquezas do país, seja ofertando baixos preços na aquisição de suas matérias-primas que uma vez processadas irão ser transformadas em bens de consumo nos países desenvolvidos, como é o caso da madeira e dos minerais; seja não permitindo que o país possa concorrer com iguais condições com outros mercados; ou utilizando-se da mão invisível que manipula os governos locais e o governo federal e desta forma impedindo que verdadeiramente haja desenvolvimento tecnológico. Outro aspecto considerado é que os países desenvolvidos processam seus produtos, aqui, a baixo custo, sem os devidos cuidados com o meio ambiente, depois esses produtos são levados para serem consumidos nas sociedades desenvolvidas, deixando pouca contribuição no país. Outra forma de exploração é dos recursos naturais que são explorados até a completa exaustão. A conseqüência tem sido é a exclusão dos nordestinos, em especial, dos "benefícios" advindo da sociedade moderna, ou seja, da geração de emprego, renda e qualidade de vida.

Pelo que foi exposto, faz-se necessário às sociedades globais, sobretudo as megadesenvolvidas, redefinirem um novo papel para o consumo, redirecionando o consumo para caminhos menos danosos; dentre de limites claramente definidos, estabelecendo níveis obrigatórios de teores de reciclagem; uso racional das florestas associado à sua taxa de renovação; leis que estabeleçam a "devolução" de produtos e resíduos e responsabilidade os fabricantes que os criaram; proporcionar aos consumidores informações sobre o seu consumo como as matérias-primas utilizadas, se renováveis ou não e em que tempo; perigos quanto ao uso para o individuo, os impactos no meio ambiente, capacidades de recuperação dos biomas naturais frente aos impactos, incentivos por parte dos Governos facilitando as empresas a produziram produtos e serviços que atendem as reais necessidades da pessoa, incentivos para desenvolvimento de tecnologias limpas, sistemas de fiscalização mais eficientes quanto à produção de bens de consumo; que o consumo esteja economicamente, socialmente e ambientalmente equilibrado; que as sociedades criem uma ética do consumo onde seja priorizado o atendimento das necessidades básicas de todos; que todos tinham acesso a alimentos sadios, água potável e barata; saneamento adequado, laser, saúde preventiva e curativa satisfatórias, segurança pública, que haja a utilização de fontes de energias limpas e modernas, livra-se das armadilhas do ganhar e gastar e, sobretudo que haja educação para todos, e desta forma, que se desenvolva uma nova sociedade que não seja somente a "moderna" ou do consumo, mas sim a sociedade de respeito à mãe-terra, ao planeta onde se habitar, que valorize as diferencias de qualquer natureza, mais, sobretudo, garanta a sustentabilidade sadia das populações de seres vivos, atuais e gerações futuras.

SOCIETY OF CONSUMPTION, DEVELOPMENT AND THE PARADIGMS NORTHEAST BRAZILIAN

WORDS - KEYS: Consumption, society of the consumption, Brazilian northeast

ABSTRACT – The present text looks for to analyze the elements that influence the formation of the consumption societies. Of as this consumption it will be able to compromise the sustentabilidade of the life in the planet land. It deals with some aspects that had provoked (and still they provoke) the cultural redefinition of socioeconômicas structures, politics and, having as consequence the phenomena of the integration, in some scenes and of the disintegration. The growth of the consumption during century XX in the developed countries and the exploration of the modern virtual colonies. As in Brazil, special, the Region Northeastern this process of modernization, mundialização and consumption comes if operating and of that it forms the problems happened of the wild consumption must be faced.

REFERÊNCIAS:

Estado do Mundo, 2004: estado do consumo e o consumo sustentável/Worldwatch Institute; apresentação Enrique Iglesias; Tradução Henry Mallet e Célia Mallet. – Salvador: Ba: UMA ed. , 2004.

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Autor: Helio Leite


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