Cut And Mix



Um ótimo arista, embora pouco conhecido, desenvolveu a seguinte idéia – gravar um CD só com trechos de fraseado instrumental, da guitarra ao clarinete, passando por todos os tamboretes, mais uns ruídos, editar o que já era então um super trabalho de edição e daí comercializar. O caso é que ele foi para Andromeda antes da hora,

ninguém tocou o projeto adiante e hoje lembrei disso. E o projeto se chamava Cut and Mix. Não que a idéia fosse um ovo de colombo, mas tive a chance de ouvir uma prévia, quando de passagem por um estúdio, há uns 8 anos atrás, e tampouco achei o conteúdo de cair o queixo, mas saía das convenções e isso sim achei um achado. Outro achado foi a chance de conversar ao vivo com o artista, que muito humildemente me disse: o barato desse negócio e parir à jato, sem pensar, e ver como a RAM está funcionando neste instante.

E como diria meu amigo nascido em Nogales, upalê, hombre, que és isto? Pero, custa experimentar?

***

Sabiam que foi o Émerson, o Fittipaldi, quem literalmente obrigou aos responsáveis de plantão a obrigatoriedade da bandeira brasileira nos autódromos?

***

Sabiam também que o ator Willian Holden, qaundo esteve no Quênia, ficou tão empolgado com essa porção do mundo e ao mesmo tempo tão ciente que o Homo pouco Sapiens transformaria essa paisagem numa lixeiraque, bem, Willian Holden doou parte da suafortuna para que se plasmasse na comunidade mundialum local intocável, desde então conhecido como Parque Nacional do Quênia.

Ah, sim, da África vieram os negros.

E para o bem da humanidade eles se encontraram com os brancos. E sangue, suor e lágrimas, literalmente, brotaram desse encontro. Mas o que fazer? A densidade é uma característica do nossoplaneta. E sabe qual afro-americano me vem à tona nesse instante? Poderiam ser tantos, não? Luís Melodia. Você concebe que no mundo possam haver sujeitos que, ao invés de ambicionarem a mulher, a casa ou a Ferrari do vizinho, gostariam mesmo é ter composto "tente entender pelo que estou passando... pérola negra, te amo te amo..."

E por aí a coisa vai. Os afro-americanos são tão grandes e suas melodias tão contundentes que as palavras simplesmente já não lhes fazem mais jus. Estão acima do verbo.Mas claro, homem, nomes não faltam. Foi como eu disse, me veio à tona nesse instante. E vertentes não faltam. É que ultimamente casei com a Deusa música. E por aí a coisa vai. E nesse âmbito o repertório é tão vasto, e, para mim, a equivalência entre eles tão precisa. Charlie Parker. Gilberto Gil. Naná Vasconcelos. Louis Armstrong. Benson. Peterson. Paulinho da Costa. Seu Alfredo. Tipicamente a listagem sem fim. Celso Machado, Haroldo Oliveira, Marsallis... Um rol tão gigantesco e poderoso, qualquer um que você pinçar desse balaio lhemostrará a magnitude dos outros. Enquanto isso, "Lava roupa todo dia, que agonia..."

***

E tudo se funde neste meu visor dotado de indomável vida própria, que agora vislumbra não as cidades de cristaldescritas por Yogananda, mas uma sintese mundana com bares e cafés, toldos listrados e mesas nas calçadas. Os poucos automóveis trafegam sem ruído. Mastroiani e Fellini, num set de filmagem a poucos metros dali, discutem animadamente sobre os contornos de uma nova figurante. Kim Novak e Rita Hayworth entram num posto de gasolina e, ao se depararem com um belo frentista, surge na cabeça de Hayworth a seguinte proposta para a parceira - e se a gente pagasse a ele 100 dólares para fazer uma farra lá em casa? Você está louca, reagiu Kim, e se alguém souber disso? Ao passo que a bela teria argumentado com a maior simplicidade do universo - mas quem iria acreditar nisso? A poucos passos dali Egberto Gismonti passa por elas desapercebido, imerso em seu torvelinho,rumo a uma temporada em meio a uma tribo do alto Xingu, que entre outras cultiva a doce idéia de que o universo surgiu de uma música. Dobrando a esquina um famoso clube noturno abriga 50 músicos, 500 mesas, e um cantor chamado Frank, que sussurra numa elegância além da imaginação:

"For once in my life, I have someone who needs me"

***

Eainda que me apedregem, vai a revelação. Foi só ano passado que eu aprendi que "navegar é preciso, viver não é preciso", o preciso em questão não se trata de necessidade e sim de precisão.Entonces, a vida continua como um vôo de morcego.

***

Brasil - a maior nação indígena da América do Sul. Ao menos em extensão territorial.É bem verdade quea cultura dos nossos índios foi quase que praticamente exterminada mas o sangue... como é que se extermina o sangue? Pisando em cima dele como se faz com uma barata? Bem, se você ainda não reparou, basta olhar à sua volta...eles estão do seu lado, um tanto diferentes das gravuras do Debretmas estão aí, nas filas dos ônibus, nas filas dos hospitais, oh sim, em geral estão em situações pouco glamourosas mas estão aí, dir-se-ia cada dia mais presentes e talvez mais alheios à cultura que deixaram para trás. Culturas que se mixam. De um jeito ou de outro. Pois não obstante, nossos olhos amendoados e lisos cabelos negros,estão bastante íntimos de artefatos comocomputador, celular, armas sofisticadas, etc.,embora tampouco tenham sequer a menor noção da civilização que gerou tais técnicas.

No século XIX os integrantes da marinha de guerra inglesa, quando em águas orientais entoavam a seguinte canção - "eles (os chineses) inventaram a pólvora, mas nós temos a metralhadora...". Não é de hoje que o mundo se globaliza. A energia elétrica aliada à informática vieram apenas agilizar esse desejo, fazendo com que as culturas continuemretirando umas das outras aquilo que no instante lhes interesse, para seguir adiante.

Porque é a sina do ser, agir, consciente ou não, como a formiga sábia que ao garimpar seus sustento retira o açúcar e deixa a terra, deixando para a cigarra digavar sobre essência dos nossos passos: saímos da caverna, descobrimos o fogo, atravessamos os mares, chegamos na Lua e já sabemos, inquietos, que existe muito a percorrer.


Autor: Bernard Gontier


Artigos Relacionados


Os Nós Do Eu

O Rock Errou

O Pacocó

Pasma Imaginação

Livre ArbÍtrio.

As Pontuais Mudanças Trazidas Pela Lei 11.689/08 = Júri

O Chão