Preferências Estranhas



Tem gente que tem preferências estranhas.

Transar com anão, tomar banho de meias, contar piada em velórios, torcer para o Botafogo, reeleger presidente e muitas outras.

As preferências gastronômicas, também dão o que falar.

Eu acho que ninguém tem nada com isso, e cada um tem o direito de ter seus prazeres com o que quiser, de comer o que quiser e até de ser comido, isso no caso da reeleição.

Só que os que têm algumas vontades não tão comuns, para a maioria, acabam sofrendo discriminações e passam por cada situação, que faz com que eles balancem, quase rendendo-se ao lugar comum.

Eu conheço um amigo que gosta de comer arroz com abacaxi.

Não parece tão absurdo, aliás, é até muito fino e muito salutar, misturar o doce e o salgado nas refeições. O problema é que não é qualquer restaurante, que tem a qualquer hora, o tal abacaxi.

O resultado dessa preferência “diferente” é que ela carrega consigo, um princípio de tumulto a cada refeição, pois os atendentes sempre vem oferecer substitutos para a fruta preferida do meu amigo: “Abacaxi nós não temos, doutor, mas tem um “figado” em calda que é uma maravilha”.

-“Fígado” em calda? Faz o seguinte: traz um “figo” de frango que eu vou levar para a tua mãe.

Acabou a tentativa de almoço. Até porque os demais, como eu, que não tem nenhuma exigência mais exótica, acaba sendo xingados juntos, pelos garçons, coisas do tipo: “E vocês, querem uma lingüiça com maionese? Eu tenho aqui mesmo!”

Os caras apelam. Botam para fora anos de gorjeta magra e reposição de pratos quebrados.

Ô, gente! Tem que ter mais classe!

O cliente sempre tem razão e sem a razão do cliente, não dá para pagar as contas no fim do mês.

Eu já tinha até me preparado para as próximas saídas com esse meu amigo, levando no porta-malas dois abacaxis frescos, para uma emergência. Só que ele viajou para outra cidade e eu nunca mais o vi.

Deve estar brigando em algum restaurante, por aí, que ousou não ter abacaxi.

Desde então, antes de ficar mais íntimo de alguém, ou se mesmo um colega de trabalho, me convida para almoçar, já olho desconfiado e pergunto se ele tem algum gosto culinário inusitado.

Foi a melhor idéia que eu já tive, pois me livrou de uma boa a última vez. Convidado para jantar com um casal que recém conhecera, prontamente eu perguntei: “Vocês não gostam de abacaxi com arroz, não é?”

Ao que eles responderam: “Abacaxi com arroz, que nojo! O que a gente não perdoa é um restaurante que não tenha melancia com mortadela!”

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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