CRECHE: Do assistencialismo para o pedagógico



A palavra creche, de origem francesa, e que significa manjedoura, foi utilizada para designar a primeira instituição, há mais de 200 anos, para cuidar e abrigar crianças pequenas. Durante muito tempo as creches organizaram seu espaço e sua rotina diária em função de idéias de assistência e de custódia da criança. A partir da década de 80, com os movimentos populares, as creches passaram a ser pensadas e reivindicadas como o lugar de educação e cuidados coletivos das crianças de zero a seis anos. Sendo assim, muitos fatores ocorreram de forma a influenciar estas mudanças, entre eles: o desenvolvimento urbano, as reivindicações populares, a presença da mulher no campo de trabalho, e principalmente, as idéias de infância e as condições sócio-culturais para o desenvolvimento da criança.Então, como resultado, essa evolução nas idéias sobre tais instituições foi concretizada em leis. A Constituição Federal de 1988 representa uma das contribuições.  Na garantia de nossos direitos. Ela definiu, entre outros, que a educação infantil, era um direito da criança e uma opção da família. Assim, ao determinar a obrigação do Estado no atendimento às crianças de zero a seis anos, a Constituição provocou um considerável desenvolvimento de políticas públicas para essa faixa etária. Instituições foram criadas objetivando-se o atendimento da demanda. Mais do que isso, novos programas e ações tiveram que ser desenvolvidos, destinando-se a uma clientela diferente: uma criança e uma família com direitos garantidos. Essa forma de pensar a função e os personagens da educação infantil foi reafirmada na principal lei referente aos direitos das crianças e adolescentes brasileiros: O Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. O Estatuto da Criança e do Adolescente foi promulgado dois anos após a Constituição Federal, em 1990. Nele, o dever do Estado em relação à educação infantil é descrito no artigo 54, inciso IV, da mesma forma como está na Constituição, o qual coloca a criança e o adolescente como prioridade nacional. Mas, atualmente, a maioria das mudanças que se pretendem na área de educação infantil resulta da já famosa LDB. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) define entre outras coisas, que a educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral das crianças até cinco anos de idade, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social... (art. 29). Com a LDB, os direitos da criança, no que diz respeito à educação, assegurado na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente, transformam-se em diretrizes e normas que deverão ser regulamentadas em uma série de procedimentos. Com isso, a LDB pretende valorizar as atividades desempenhadas nas creches e pré-escolas, ressaltando a integração do cuidado com a educação. A oferta de educação nesta faixa etária foi fundamental para que fosse garantido o direito de acesso e de permanência na creche. Com isto, o trabalho realizado no interior da creche ou escola deve ter a qualidade necessária para que pudesse com efetividade beneficiar as crianças.Por isto, a instituição Creche deve oferecer um trabalho de qualidade às famílias e, posteriormente, um nível de participação das famílias na Creche como parte do planejamento e realização das atividades. E também, é importante estabelecer limites de horários e espaços, além de possuir condições de estrutura física, rotina, número e preparo dos educadores.             Um bom planejamento do espaço físico na creche favorece a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. Para Rossetti-Ferreira:

... todos os ambientes infantis devem promover a identidade pessoal (a criança quando leva à creche um objeto pessoal, a sala de aula fica mais aconchegante para ela. E isto dá ao educador a chance de trabalhar o saber dividir, a cooperação com as crianças. Isso pode ajudar a desenvolverem sua individualidade, e consequentemente sua identidade); o desenvolvimento de competência (o ambiente infantil deve ser planejado para facilitar o trabalho do educador de tal forma que satisfaça as necessidades das crianças promovendo o seu desenvolvimento). (ROSSETTI-FERREIRA, 2001, p. 48).

Conhecer as características das famílias atendidas, bem como a capacidade de compreensão sobre o funcionamento da instituição e seus objetivos é um outro aspecto integrante na construção da creche. E, conseqüentemente, preparar tanto os profissionais, quanto às famílias para esse trabalho de colaboração mútua. Logo, o artigo tem como objetivo, construir um caminho a ser trilhado para a criação de um ambiente adequado ao desenvolvimento na educação infantil. Um espaço destinado à educação e aos cuidados de crianças de zero a cinco anos de idade.

Referências

ROSSETT-FERREIRA, M.C.; VITORIA,T.; GOVLARDINS, L.G. Quando a criança começa a freqüentar a creche ou a pré-escola. In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. (org.). Os fazeres na educação infantil. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2001, p.47-51.

SILVA, A. H. A. Roda, roda, roda, pé, pé, pé.... In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. (org.). Os fazeres na educação infantil. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2001. p.86-88.

ABRAMOWICZ, A.; WAJSKOP, G. Creches: atividades para crianças de zero a seis anos. São Paulo: Moderna, 1995.

ANGOTTI, M. O trabalho docente na pré-escola: revisitando teorias, descortinando práticas. São Paulo: Pioneira, 2002.

BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Série de manuais sobre creche. Brasília: DF, 1988. 4v.

BRASIL. Ministério da Educação e de Desporto.Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, DF: MEC / SEF, 1998. 3v.

OLIVEIRA, Z. de M.R. (org.). A busca de uma proposta pedagógica. In: Educação Infantil: Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. p. 89-123.

______. De onde partir?. In: ______. Creches: Crianças, faz de conta e cia. Rio de Janeiro : Vozes, 1992. p. 63-74.

KRAMER, S. (cord.). Com a pré-escola nas mãos: Uma alternativa curricular para a educação infantil. São Paulo: Asteca, 2003.           CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: ______. Educação Infantil: Pra quê te quero?. ed.2. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 178-194.


Autor: Leticia Cortes


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