As Pintas De Marina



A música tocava suavemente, assim como os lábios da doce Marina em minha virilha, ainda um pouco machucada pela queda da noite passada. Eu tinha mania de me enfiar em becos, procurando prostitutas, das mais diversas nacionalidades. E, acabei por levar um chute de um travesti, que se dizia cubano. Maldita cidade, que abrigava esses estrangeiros.Malditos travestis!

Por se localizar próxima na fronteiraentre Brasil e, Paraguai,Cidadela acabava por ser uma Torre de Babel, e não um paraíso onde se criam os filhos, na tranqüilidade das ruas, como pregavao prefeito Moacir, e, seu partido. Organização essa, da qual meu pai foi fundador, e que pormuitos anos liderou, levando-me sempre junto nas reuniões, e discursos pelo interior. Eu garoto, ainda meio tímido, e mais preocupado em jogar bolinha de gude, e matar passarinho com minha funda , que eu maneja com a destreza de um franco atirador,a demagogias politiqueiras. Fui considerado por papa um futuro político. Feito que nunca se realizou, porque primeiramente eu não dava para a coisa, e segundo jamais fui aquilo que ele esperava.Em eu leito de morte entre lagrimas, e novamente falsas promessas, juramentos, que para um político só faziam parte do jogo, nunca se concretizaram.Porque, eu continuei como um errante, cambaleando nas ruas da cidade, que em sua maioria tinham o sobrenome da minha família. O sonhador,de demagogia , e utopiatinhaem sua bagagem a volta do anti-cristo e, aesperança do ressurgimento de Cheguevara.

Menina gulosa. Lábios vermelhos, carnudos como fruta-de-conde. A pele macia, alva como leite. Sardas.Muitas sardas. Inclusive na última vértebra, onde eu denominava - em meus versos poéticos: "O Paraíso".No rosto deboneca pintas. Muitas pintas. A da ponta do nariz, era á mais convidativa. Por quanto tempo, eu ainda suportaria não mordiscar aquele sinalzinho chamativo, que a deixava ainda mais sensual.

Conheci minha adorável gatinha em uma Livraria da cidade. A safadinha procurava livros de Bukowski na seção de gastronomia, enquanto eu avidamente, folheava um exemplar de Marques de Sade, com outro exemplar de Marx debaixo do braço. Acho que, a danadinha pensou que eu fosse um escritor, pois esfregou seu joelho no meu braço direito, quando um de seus CDs, caiu no meu pé.

-É seu?.Pedi com o meumelhor sorriso. O mesmo que havia conquistado minha ex-esposa há dez anos. E absolutamente a mesma expressão sedutora que a havia feito pedir o divórcio há dois anos..." (..)Você é um canalha. Flertaste com todas as minhas amigas, inclusive transou com minha irmã..Esse sorriso canastrão"...dissera antes de sair.

-ÉBillie Holliday .Adoro -a. Respondeu ensaiando um olhar maroto.

Eu deveria ser o primeiro homem de mais de 30 anos, que flertava na vida. Depois de seu pai, poderia ser eu, o professor. Poderia lhe ensinar muito da vida. Sabia algumas expressões em francês,os melhores vinhos, ou, poderia divagar sobre os poemas que Proust escreveu: no livro Os prazeres e os dias. Sussurrando-lhe palavras doces no momento, que abrisse o zíper de seu vestido amarelo como um girassol da Prússia.Surpreendeu-me ao colocar as mãos em meu ombro .Baixinha com seu timbre quase infantil – as palavras obscenas que disse me fizeram-corar. Sim, eu mesmo, o canalha que flertava com todas as amigas de Marta, que olhava a bunda da empregada enquanto tirava o pó dos livros. O cretinoque mandava poemas de Rimbaud, para as garçonetes do bar, quefreqüentava como se fossem de minha autoria.

Aquela foi a melhor surpresa depois de dois anos. Para quem passava os dias lendo, bebendo ou se deliciando com alguma garota que se atravessasse na frente em alguma rua daquela cidadedecadente, uma dádiva dos céus. De dose em dose, de tragada em baforada, em abria minha cova,pois não conseguiaparar de fumar, e nem mesmo diminuir as diárias dos destiladosmesmo, que meu cardiologistarecomendou distância do álcool e ao tabaco. E, quem se importava. Um dia eu haveria de morrer, e ser enterrado na lápide da família Braga Oliveiral, já que nasci no berço de uma família ,que era considera, quase como nobre, na cidade, pela linhagempolitiqueira.

Dividir o tempo entre a companhia dos livros, lembranças do passado, e a empregada que, sempre fiel ao patrão, ainda mimava-o com comidinhas especiais; era bem deprimente, para um homem nascido no berço da política. Marta, penalizada pela minha situação: a falta de dinheiro,e, as dívidas -enviava todos os meses uma considerável quantia. Para ela uma bem sucedida executiva da indústria de cosméticos –aqueles rublos não representavam nada. Mesmo que fosse por algum tempo. .." Até que arranje um emprego.Dissera. Esperava que, eu conseguisse meu cargo de colunista na Folha da Cidade, novamente. O que achava difícil, pois, após termalhado um político da cidade, todos mês amigos me abandonaram. Meus dias de jornalista nunca mais seriam os mesmos. O que havia restado eram apenas lembranças ainda vividas na memória de um homem que,que nos tempos deestudante se filiara-sea um partido comunista, às escondidas, fazia propagdana contrário aopai. Desgraças à parte, tanto meu pai, quanto eu acabamos nossas vidas sem dinheiro, e com muitas dívidas. Eu por nunca ter sabido lidar com essa coisa, ele porque investiu tudo em política.

-O Senhor esta bem.Pediua garotapensando, que talvez eu tivesse tido um enfarto, ouem com alcoólico, pela minha letargia depois de ter bebido quase uma garrafa de vodka, seguido de muitos beijos e, carícias. Aqueles olhos amendoados, de cílios longos, não me eram estranhos. A garota deveria ser filha de alguma ex-namorada, ou prima distante, já que na cidadeconstruída pelo meu bisavô, a população em sua maioria, era de sobrenome: Oliveiral.

Engraçadoque o livro que Marinaescolheu era um dos favoritos de Marta: Todos os Nomes de José Saramago, para ela o ex-sapateiro,e admirador de Fidel Castro, era o melhor do planeta.

Abri a porta do carro para que entrasse. Carro este, que me fora dado de aniversário por minha ex-esposa.Eu , que era conhecido na empresa que ele comandava, como um gigolô, não me importava mais com os comentários maldosos pela cidade.

Ao colocar um CD de música clássica. Marina acomodou sua mãozinha de unhas pequeninas em meu colo, depois falou:

-Eu sou filha do Manoel.

-O dono da Ferragem?Perguntei.

-Sim.Ele mesmo.Sabe eu sempre te achei um gatão. Disse ela passando a mão na minha perna. Desde os treze anos.Lembro que ia lá na loja com sua esposa, eu ficava no caixa, só te olhando. Sempre bem vestido.Os sapatos com design moderno. Eu adoro sapatos masculinos.

-Eu tenho uma coleção de sapatos lá em casa. No closet há de várias cores e modelos.Falei empolgado, como se colecionasse ferraris. Era a primeira vez que iria mostrar para alguém. Orgulhoso que era do grande número de parescomprados em diversas partes do mundo, sentia-me como um rapaz de vinte anos.

Abri a porta receoso, que a empregada ainda não tivesse ido embor. Ela sentia ciúme,quando eu levava alguém. Era o mesmo ciúme, que Marta sentia por mim, motivo pelo qual além da infidelidade,decidiu-se pela separação.Essa irritante mania, que as mulheres tinham de pensar, que quando você casa com elas está aposentadoa sua arma de caça, éfolclore, nenhum homem deixa de desejar a bunda de outra, após se unir aos laços do matrimônio. Ao chegar no meu quarto, abrindo a porta do closet. Surpreendido com a cena lúdica, que a curiosidade da menina me proporcionou,segurei o riso para não assustarE, Marina já,com um de meus sapatos entre os dentes, só para me atiçar, lançou-se sobre mim, como uma gata audaciosa. Após, lambeu-o da ponta até o calcanhar.

-Posso colocar o meu CD ?

Curioso, e quase emêxtase lhe perguntei:

-O que vamos ouvir?

- Trav'lin All Alone .

-O que?

-Lembra. Billie Holliday .

-Ah sim.O Cd.respondi colocando a mão em seu rosto delicado.

Ela caminhou até o aparelho de som, tirando o vestido amarelo de alcinhas,onde os seios, ainda infantis, ¨ pululavam sob a transparência do tecido.Arrepiaram-secom o toque da minha mão, então, suguei-os quase até sangrar. Marina se entregou como uma gatinha manhosa, e entre gritos, e ssussuros, eu a possuí. E, assim como quem desbrava terras desconhecidas, senti que a garota,com ares,e atitudes, de mulher pela sua ousadia, não passava de uma menina. Quandosenti o sangue, ainda quente em minha pernas,senti o tamanho, e o gosto amargo d que viria pela frente.

-Quantosanos você têm?

-14.Respondeu com a expressão de dor.

-Eu a machuquei?

-Um pouco.Mas, era assim que deveria ser.Eu já planejei isso há tempo.Deveria ser com o Senhor.

-Ora, não chame de Senhor. Você é menor. Uma criança.Virgem.Estou encrencado.Queria brincar com fogo,mocinha, ok, e agora quem vai apagar este incêndio.

-Vou levá-la, já para casa. Se tiver algum problema procure a Dr. Regina, que eleé minha amiga.

-Está bem. Mas, eu preciso dormir um pouco.

O vestido amarelo, que descansava em uma cadeira perto da janela, recebia os primeiros raios de sol da manhã . O modelito, que não serviria mais a jovem deflorada, que seria substituído por modelitos mais apropriados para um jovem mulher.

Ao acordar, aindasonolenta, vestiu-se.Deixei que, se fosse, mas no entanto, lhe devia ter beijado o rosto já corado pelo calor, que se dissipasse por todo o apartamento.*Como um pai zeloso.Sentei na minha poltrona.Abri uma garrafa do melhor uísque escocês,e sorvicada gole, como se fosse o último. Na prisão - Martha não me enviaria nem uma cueca de seda francesa,e muito menos um exemplar da Revista Time.

Bebi até as cinco da manhã.Admirando o nascer do sol da janela. Naquele momento chorei. Minhas lágrimas eram por ter perdido Martha.A mulher que amei. E, eu só soube disso, quando ela fechou aporta ao sair. Despedindo-se com sua coleção de malas Louis Vuiton.Compradas em nossa última viagem à França. Lamentei pelo filho que não tivemos, mas que eu desejava muito. Rasguei e joguei pela janela, o livro que nunca publiquei.

Marlene foi a primeira pessoa a encontrar meu corpo afundado na poltrona. A arma que pertenceu ao meu pai estava no chão.Havia escolhido morrer assim. Instantaneamente sem dor – com um tiro no céu da boca como há quarenta anos morrera o escritor americanoErnest Hemingway. Então, reli um trecho do seu romance -Paris é uma festaantes de partir..

No bolso da calça,a carta endereçada a Martha. Correspondência, quenunca chegaria a ela. Pois, a roupa usada no dia da minha morte foi levadapara o IML, e substituída por um terno preto.

Marta jamais saberia que eu a amava. E, Marina choraria minha morte, guardando segredo de sua primeira noite de amor. A música, que tocara na noite anterior, enquanto eu tomava a decisão mais importante da minha vida,foi a mesma do meu enterro. Just way you are. A canção preferida de Marta, que mandou apenas uma coroa de flores, e um cartão desculpando-se pela ausência .Naquele dia ventou muito, tanto, que alguns trechos de meu romance voaram até meutumulo.Não era meu desejo ser enterrado, mas a melancolia e, as idéias suicidas daquela noite me proibiram de incluir na carta que nunca seria lida – o pedido de ser cremado. Gostaria que minhas cinzas fossem jogadas perto do Parque Florido, que tinha o nome de meu pai, onde conheci Marta...


Autor: angelica rizzi


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