A Leitua e sua relação estreita com a escrita.



LEITURA  E SUA  RELAÇÃO ESTREITA COM A ESCRITA

 

 

Ana Cristina Oliveira Klava

 

 

 

 

                        Sabe-se que a leitura é um dos elementos que constituem o processo de produção escrita. Mas não existe uma relação mecânica entre ambas, o que existe, segundo ORLANDI (1999), é que há dois aspectos da relação leitura/escrita: a leitura fornece matéria-prima para a escrita e a leitura contribui para a constituição dos modelos de escrita.

                        Na mesma linha do pensamento, OSAKABE 91995:18), esclarece que: Aprender a ler e a escrever são necessidades tão gritantes que sua rejeição indica o alheamento do sujeito e é tão forte quanto a recusa do alimento, quanto a aceitação da família, ou quanto a aceitação dos bens sociais.

                        A leitura realizada em algumas escolas brasileiras é utilizada como pretexto para a produção de textos. E essa nada mais é do que uma reprodução de determinados moldes.

                        A preocupação da prática pedagógica deveria estar centrada na formação de sujeitos agindo no mundo para transformá-lo, isso afirmaria a libertação de cada indivíduo, fazendo-o fugir da alienação em que vive, pois segundo Isabel Sole (in o Prazer da leitura, apud Cadernos da TV Escola, 1999):

 

Muitos alunos talvez não tenham muitas oportunidades, fora da escola, de familiarizar-se com a leitura; talvez não vejam adultos lendo, talvez ninguém lhes leia livros com frequência. A escola não pode compensar as injustiças e desigualdades sociais que nos assolam, mas pode fazer muito para evitar que sejam acirrados em seu interior. Ajudar os a alunos a ler, a fazer com que se interessem pela leitura, é dotá-los de um instrumento de aculturação e de tomada de consciência cuja funcionalidade escapa dos limites da instituição.

 

                        Segundo BAJARD (1994), a invenção da escrita ocorreu não para duplicar o oral, mas para completá-lo.

                        O que se deve ter em mente é que o texto escrito é muito diferente do texto oral e exige uma preparação anterior do aluno para produzi-lo. O aluno, no momento em que vai escrever, depara-se com um momento em que ele é o ser que irá participar da ação. Quando se fala em texto escrito deve-se ter uma preocupação de como será o caminho que o aluno irá percorrer até a realização de sua produção.

                        Mas há instituições que não levam em conta a importância da preparação que antecede a produção escrita. Dessa fora, a escrita acaba se tornando simples reprodução ou cópia que se repete a cada ano.

                        O que realmente falta, segundo ORLANDI (apud GALLO, 1995:57), é a compreensão do processo em que ocorre a inserção do sujeito no contexto histórico-social e de seu papel de autor.

                        Há muitos questionamentos de professores  de diversas disciplinas, em relação ao que fazer para que os alunos aprendam a ler e a escrever corretamente.

                        O que esses alunos e, também professores, na verdade pretendem, é transportar para a escrita a oralidade, deixando portanto de seguir o modelo da norma culta. E segundo GNERRE  (1978:46) escrever nunca vai ser a mesma coisa que falar. E GERALDI (1997:123) citando OSAKABE diz:

do ponto de vista de sua aprendizagem, a língua escrita e a língua oral apresentam dificuldades de natureza distinta [...] A escrita atua como complemento da oralidade, cumprindo certas atribuições que se situam além das propriedades inerentes a esta.

                        O que acontece, em muitas escolas do país, é a anulação de todos os sentidos, e as crianças, segundo Frederico Nietzche, passam a desenvolver apenas  o instinto da tartaruga: defender-se, fechar-se ao mundo, recolher-se para dentro de si mesmo e em conseqüência, nada ver, nada sentir, nada ouvir, nada ameaçar.

                        As práticas desenvolvidas com crianças em muitas escolas ainda hoje geralmente contribuem para desenvolver um aluno que não questiona, que não duvida do que está posto para eles, porque esta atitude faz com que, quando adultas sejam facilmente manipuladas.

                        Numa sociedade capitalista, com educadores conscientes de seu papel, enquanto cidadãos, deve formar homens com instinto da águia, segundo o filósofo alemão do século passado Frederido Nietzche.

                        É somente a partir do trabalho com a leitura de forma crítica e reflexiva, dentro ou fora da escola, que formaremos homens conscientes e não-alienados, capazes de se libertarem nas diferentes dimensões da vida.

                        Portanto, o trabalho desenvolvido nas escolas com a leitura e com a escrita, deveria tornar o indivíduo, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.

                        Paulo Freire afirma que a leitura de mundo precede a leitura da palavra por isso a compreensão de um texto, seja ele  qual for, será resultado das percepções entre o texto e o contexto do leitor.

                        A construção de conhecimento não se dá apenas pela leitura de textos escritos, mas tudo que nos rodeia. A partir do momento em que nascemos, temos elementos de leitura, e sendo assim o processo de leitura é contínuo e se confunde com o próprio fato de estar no mundo.

                        As reflexões feitas até agora já permitem ter um apanhado geral sobre a importância do ato de ler na formação do cidadão.

                        A função primordial da escola é ensinar a ler e a escrever. Não uma leitura superficial e uma escrita sem argumentação, mas sim ler e escrever de forma que o indivíduo se insira na sociedade para transformá-la.

                        É somente a partir desse trabalho de educadores conscientes e realmente preocupados e envolvidos no processo de construção de conhecimento que os alunos irão recriar e reviver suas experiências infantis e remete-las a um entendimento globalizado.

                        E de acordo com os PCNs (1998:48) a escola deve assumir o compromisso de procurar garantir que a sala de aula seja um espaço onde cada sujeito tenha o direito à palavra reconhecido como legítimo, e essa palavra encontre ressonância no discurso do outro.

 

 

 

Brasil. Secretaria  de Educação Fundamental.Parâmetros curriculares nacionais: terceiro

       e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria  de Educação

       Fundamental. _ Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

BAJARD, Elie. Ler e Dizer: compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo:

        Cortez, 1994.


Autor: Ana Cristina Klava


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