A Culpa Do Sofá



Vocês lembram daquela velha e infame piadinha do sofá? Aquela onde o marido depois de flagrar a esposa com um amante no belo sofá da sua sala, perdoa a esposa, mas troca o sofá impiedosamente? Por mais estranha que possa parecer essa solução, a ponto de ser o tema de uma piada batida (e já sem graça), é mais comum de se ver em nossa atualidade do que se possa imaginar. Exemplifico:

No Pará medieval, de onde vieram as já quase esquecidas notícias da menina encarcerada na mesma cela de algumas dezenas de homens de monstruosidade comparável apenas à da bela governadora Ana Júlia, do delegado exonerado, dos vizinhos que assistiram as cenas pela janela da cela que despontava pra rua e alguns outros que não menciono por falta de espaço, os últimos acontecimentos ajudam a corroborar o argumento.

Diante de tantos depoimentos emocionados clamando por justiça, contra esta, dita “exceção”. Quase não nos esquecemos que o estado violou com grotesca perversidade diversas leis. Prendeu uma menor de idade em uma prisão normal, colocaram a menina em cela masculina, isso tudo obviamente sem julgamento, sem avisar família, sem registrar ocorrência, sem chamar advogados, ignorando qualquer direito humano ou civil.

Diante de tudo isso a governadora do Pará, após uma série de demonstrações de incompetência e imoralidade resolve dar duas soluções geniais e derradeiras ao caso. Primeiro baixa decreto proibindo colocar meninas em celas masculinas, proibindo o já proibido. Como se a inutilidade e demagogia do decreto não fosse suficiente, resolveu anunciar que iria demolir a prisão onde o fato ocorreu! Melhor que trocar o sofá, é sem dúvida trocar a casa inteira.

Um assalto mal sucedido na virada do ano, deixou um conhecido médico carioca marcado pela violência. Os disparos que acertaram o médico e sua esposa foram feitos da garupa de duas motocicletas. O Sr. Governador do Rio de Janeiro, diante da polêmica não hesitou, correu aos jornais pra anunciar que pretendia proibir a viagem na carona de qualquer motocicleta, sem nem mesmo demonstrar preocupação com a inconstitucionalidade do ato. Porque e pra quê se mobilizar para resolver os já conhecidos casos de violência no Alto da Boa Vista onde o caso ocorreu? É muito mais fácil trocar o sofá. Desviar o assunto com polêmica, culpar esse móvel tão incômodo.

E como bem disse o Elio Gaspari em uma das suas colunas “Admitindo-se que cada moto-bandida seja usada em apenas dois roubos num ano, a relação das garupas com a delinqüência fica em 1,4%. É um índice inferior ao dos ministros de Lula que foram indiciados em processos criminais (10%)”. Nem por isso se ouviu falar de algum caso discriminando um deputado ou senador.

Ainda falando dos motoqueiros, podemos lembrar que em cidades como São Paulo, morre por dia pelo menos um motoboy. No entanto, ao invés de se discutir um código de trânsito mais humano, é mais cômodo culpar o próprio motoboy, que trabalha na maioria das vezes informalmente, por um ou dois salários mínimos para cruzar diariamente em zigue-zague o caos urbano da cidade para garantir o ganha seu pão.

Não há dúvida que vivemos em tempos estranhos, e em um país não menos estranho. Onde se elegeu a hoje governadora Ana Júlia como a vereadora mais votada de Belém a bem pouco tempo atrás, e se fez o mesmo com o hoje também governador, José Roberto Arruda, que foi o deputado federal mais votado do DF.

Faço notar o mesmo Roberto Arruda que renunciou admitindo participação na fraude do painel eletrônico do conselho de ética e decoro parlamentar. O mesmo que algumas semanas atrás demitiu o “gerúndio” por decreto enquanto figurava na lista dos 100 brasileiros mais influentes de 2007 da Revista ISTOÉ.

E ainda nos surpreendemos quando parlamentares fazem mal uso de um cartão corporativo? Que distribuam dinheiro aos amigos através de uma ONG sem sede?

Assim como nossos austeros governantes, nós também trocamos nossos sofás com freqüência. Toda vez que premiamos a desonestidade com indiferença abrimos precedentes para novas imoralidades e nos tornando parte de uma grande piada pronta.
Autor: Conselheiro Acácio


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